A vida não é justa, e a política é ainda menos justa que o resto da vida. Donald Trump tem feito e continua a fazer muitas coisas terríveis – acolher interferências de outros países nas eleições dos EUA, arrancar crianças de seus pais e botá-las em jaulas, envenenar o meio ambiente, idolatrar ditadores sanguinários e mais. Em termos de pura horripilância, as políticas comerciais protecionistas dele estão muito abaixo na lista – e eu digo isso apesar de ser alguém cuja carreira se baseou em grande parte no estudo do comércio internacional, e que tem todos os incentivos para inflar a importância desse tema.
No entanto, a obsessão de Trump por tarifas parece estar causando mais problemas políticos a ele do que qualquer outra coisa que ele esteja fazendo. Pode ser até o suficiente para causar um rompimento com seus seguidores escravizados no Congresso. A célebre declaração de Trump de que poderia atirar em alguém na Quinta Avenida e seus seguidores não se importariam pode ser ou não falsa quando se trata dos eleitores republicanos, mas é certamente verdadeira para os integrantes do Partido Republicano no Congresso. No entanto, parece haver uma possibilidade real de uma ação do Legislativo para barrar as novas tarifas que ele ameaçou impor recentemente ao México.
Então, por que é que essa vigarice em especial é o ponto em que os canalhas do partido dele mostram sinais de estar desenvolvendo uma moralidade rudimentar? Há dois pontos principais.
Primeiro, a política comercial de confronto de Trump – ao contrário de seu racismo, a determinação dele em enfraquecer os direitos dos trabalhadores, seus esforços em degradar o meio ambiente e por aí vai – não têm nenhum eleitorado importante apoiando-a. Nem os grandes doadores de campanha e nem os caras com tochas cantando “Judeus não vão nos substituir” estão implorando por taxas. O lance das tarifas é basicamente uma obsessão pessoal de Trump.
Segunda coisa, há, de fato, partes importantes do eleitorado – partes importantes da coalizão de Trump – que, de verdade, verdade verdadeira, não gostam da perspectiva de uma guerra comercial. Os fazendeiros já foram bastante prejudicados pelo embate do governo com a China, que fez despencar os preços de commodities como a soja. A indústria americana, que vem investindo grandes quantias em uma cadeia de distribuição que se expande tanto em nossas fronteiras ao norte quanto ao sul, está horrorizada diante da ideia de um confronto que atrapalhe o comércio com o México.
Até recentemente, empresas e investidores de fato estavam apostando que, com tanto dinheiro em jogo, mesmo Trump conteria os impulsos dele, e que na questão comercial ele falaria grosso mas afinaria depois. É basicamente o que parecia ter acontecido com o Nafta, o Acordo de Livre Comércio das Américas; depois de denunciá-lo como o pior acordo comercial já feito, Trump negociou um novo acordo tão parecido com o que já existia que qualquer um precisaria de uma lupa para notar as diferenças.
Porém, agora ele está efetivamente renegando o próprio acordo que costurou, ameaçando impor tarifas a menos que o México faça alguma coisa, que Trump não sabe qual é, para impedir aqueles que pedem asilo de pedirem asilo.
Será mesmo que ele vai fazer isso? As várias newsletters que eu recebo não parecem acreditar nessa possibilidade. O Citibank, por exemplo, escreveu que “as consequência desta política poderiam ser tão extremas que nós a encaramos como algo improvável de acontecer”.
Só que Trump tem alguma coisa com tarifas, e ele realmente odeia parecer um perdedor. Ou seja, sim, talvez isso realmente esteja para acontecer. E talvez até o Partido Republicano esteja finalmente chegando ao seu limite.
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