Conecte Conosco

Mundo

Como combater robôs de IA que copiam conteúdo online

Publicado

em

Cada vez mais empresas digitais buscam formas de enfrentar os bots criados por inteligência artificial (IA) que, de forma quase vampírica, extraem conteúdos da internet para alimentar seus algoritmos, impactando o modelo econômico da rede.

Os indexadores, também conhecidos como “crawlers”, que vasculham bilhões de sites para organizá-los nos motores de busca, existem há muitos anos e são fundamentais para a operação da internet.

Antes, o site que disponibilizava seu conteúdo para esses robôs recebia em contrapartida visitantes reais, pessoas que podiam ser expostas a anúncios ou assinaturas, explica à AFP Kurt Muehmel, responsável pela estratégia de IA na Dataiku, empresa especializada em gestão de dados.

Com o surgimento da IA generativa, contudo, novos robôs acessam os sites para alimentar chatbots, como o ChatGPT da OpenAI, e a função de pré-visualização do Google, que reproduzem conteúdos, às vezes em tempo real, sem que o usuário precise visitar o site original, complementa.

Esse procedimento quebra completamente a troca tradicional que sustentava o funcionamento da internet.

Um exemplo claro dessa transformação é a queda no número de visitantes da Wikipedia, com redução prevista de 8% entre 2024 e 2025, causada pelo acesso contínuo dos bots de IA, que também sobrecarregam a infraestrutura da enciclopédia online, conforme alerta uma publicação do blog em outubro.

“O principal problema é que a nova economia da internet, dominada pela IA, não gera tráfego humano”, afirma à AFP Matthew Prince, CEO da Cloudflare, uma empresa americana de serviços digitais, durante a Web Summit em Lisboa.

Esses robôs funcionam como sanguessugas digitais, acessando os conteúdos de um site centenas de milhares de vezes por dia, o que provoca saturação das plataformas digitais dos produtores de conteúdo, especialmente veículos jornalísticos, além da queda nas receitas publicitárias.

Bloqueios aos bots

Para enfrentar essa situação, a Cloudflare, que gerencia cerca de 20% do tráfego global da web, implementou recentemente bloqueios sistemáticos aos bots de IA.

“É como instalar uma placa de limite de velocidade ou um sinal de ‘proibido passar’”, explica Prince.

“Bots maliciosos podem até ignorar esses avisos, mas nós os monitoramos e, se necessário, podemos tornar essas regras mais rígidas para impedir que as empresas de IA continuem a extrair conteúdo”, complementa.

Essa medida, aplicada a mais de dez milhões de sites, já despertou a atenção dos grandes nomes da inteligência artificial, segundo o especialista.

Métodos para monetizar o acesso

Outra iniciativa vem da startup americana TollBit, que oferece para editores de notícias online ferramentas para detectar, controlar e monetizar o tráfego gerado pelos bots de IA.

“A internet é como uma rodovia, e nós fornecemos um pedágio para esses bots”, compara Toshit Panigrahi, cofundador e CEO da empresa.

A TollBit trabalha com mais de 5.600 sites, incluindo veículos como USA Today, Time e Associated Press, e permite que seus clientes definam tarifas para que as empresas de IA acessem seus conteúdos.

Enquanto as ferramentas de análise são gratuitas para editores, a empresa cobra das organizações de IA uma taxa por cada conteúdo acessado, explica Panigrahi.

Desafio a longo prazo

Kurt Muehmel destaca, entretanto, que o problema dos bots de IA não será resolvido por ações isoladas ou por uma única empresa.

“É uma transformação profunda na economia da internet que exigirá anos para se ajustar”, alerta.

Matthew Prince reforça o risco: se ninguém agir, desaparecerão os incentivos para a produção de conteúdo original.

“Isso seria uma perda tanto para as pessoas que desejam consumir esses conteúdos quanto para as próprias empresas de IA, que precisam de materiais originais para treinar seus sistemas”, conclui.

Clique aqui para comentar

Você precisa estar logado para postar um comentário Login

Deixe um Comentário

Copyright © 2024 - Todos os Direitos Reservados