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Violência e segurança: tema central na eleição chilena

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No início deste mês, Johannes Kaiser (Partido Nacional Libertário) defendeu o emprego de força contra criminosos e sugeriu enviar para El Salvador os imigrantes ilegais com antecedentes criminais. Em outubro, José Antonio Kast (Partido Republicano), um dos principais candidatos à presidência do Chile, prometeu criar um “escudo fronteiriço” e aumentar o poder bélico no combate à criminalidade.

No programa de Jeannette Jara (Partido Comunista), propõe-se a suspensão do sigilo bancário para enfrentar organizações criminosas. Em meio a uma crise na segurança pública, o crescimento da criminalidade, frequentemente associada à imigração por muitos, marca as eleições presidenciais de domingo, dia 16.

Os candidatos focam nesses temas porque, nos últimos anos, a percepção social quanto à violência e à criminalidade tem aumentado. A pesquisa Atlas Intel, divulgada em outubro, revela que 53,1% dos entrevistados apontam a insegurança e o narcotráfico como os principais problemas do Chile. Já o relatório da Fundação Paz Cidadã, de setembro, indica que 24,3% dos chilenos têm alto medo da insegurança, mantendo-se acima de 20,5% desde 2022.

Alejandra Bottinelli, doutora em Estudos Latino-Americanos pela Universidade do Chile, alerta para o cuidado ao relacionar essas questões. “Embora em certos crimes haja maior participação de imigrantes, atribuir a crescente criminalidade a toda a população imigrante é um equívoco que ignora que a maioria são pessoas trabalhadoras e honestas”, destaca. Calcula-se que 337 mil imigrantes vivam no país em situação irregular.

Apesar de o Chile ser considerado um dos países mais seguros da América do Sul, atrás apenas da Argentina e Uruguai segundo o Global Peace Index, alguns crimes têm aumentado. Um relatório do Ministério Público indica que, desde 2016, a taxa de homicídios a cada 100 mil habitantes cresceu de 4,2 para 6 em 2024, aumento de 42,8%. Quanto aos responsáveis, a maioria é chilena, mas um em cinco são estrangeiros, principalmente venezuelanos e colombianos.

Além dos sequestros visando extorsão, que tiveram aumento de 27,8% entre 2022 e 2024, outro crime que preocupa é o roubo de celulares. Dados da Polícia de Investigações do Chile informam que 2 mil aparelhos são roubados diariamente, totalizando 500 mil por ano.

No final de junho, Carolina Valenzuela, 44 anos, ao esperar ônibus, teve seu celular roubado e o dinheiro retirado de suas contas. Moradora do centro de Santiago desde o ano passado, ela pensa em se mudar novamente. “Sempre houveram crimes aqui, mas estão mais violentos agora. Falta uma polícia mais atuante nas ruas”, lamenta. Sem esperança, não acredita em grande mudança contra a criminalidade após a eleição. “Os candidatos tratam o tema de forma similar; alguns são mais radicais, porém mudanças efetivas são improváveis”.

Atualmente, conforme o Serviço Eleitoral do Chile (Servel), há 885.940 estrangeiros aptos a votar, com 237.827 venezuelanos. Levantamento do Serviço Nacional de Migrações e Instituto Nacional de Estatísticas revela que, até 2023, vizinhos sul-americanos somam 38% dos imigrantes, seguidos por peruanos (13,6%) e colombianos (10,9%).

Anthony Cedeño, barista de uma cafeteria Starbucks em Las Condes, região de classe média-alta de Santiago, veio da Venezuela há sete anos acompanhando mãe e tia. “Morávamos em Puerto Ordaz, situação difícil. Minha mãe tinha uma loja de conserto de impressoras e cartuchos, mas mal dava para o fim do mês. Muitas vezes nos ajudaram militares”, recorda.

A adaptação não foi simples. Estudante do ensino médio na época, enfrentou xenofobia: “Houve muitos episódios, mas hoje convivo melhor e meus amigos são majoritariamente chilenos”. Participará da quinta eleição.

Alejandra destaca o peso do voto estrangeiro: “Como vão se posicionar? O discurso dos três principais candidatos de direita é mais radical contra imigração. Por outro lado, o governo de Gabriel Boric aborda o tema com seriedade, buscando diálogo regional e reconhecendo os direitos dessas pessoas”.

A acadêmica também evidencia o uso do medo como estratégia eleitoral, especialmente por Kaiser e Kast. “Eles canalizam o ressentimento de eleitores que se sentem abandonados politicamente. A cultura do medo é central nesta campanha”, comenta, lembrando que isso ocorre em outros países da região.

Cedeño ainda não decidiu o voto, mas acredita que os venezuelanos optarão pela direita por temerem que o Chile se torne uma Venezuela. “Mesmo com propostas duras contra a imigração, a direita é vista como guardiã do crescimento econômico e da segurança, elementos cruciais para nós. Sempre votei na direita, mas este ano procuro uma postura mais equilibrada”.

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