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Abin alerta: segurança eleitoral e ataques de IA são desafios para 2026
Nem todas as atividades da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) são confidenciais mesmo lidando com informações sensíveis para o Estado Brasileiro. Baseando-se nos valores democráticos do país, a Abin divulgou uma publicação em 2 de maio destacando os desafios que o Brasil enfrentará em 2026 para antecipar possíveis ameaças à segurança nacional e da sociedade.
Entre esses desafios, a segurança das eleições e os ataques cibernéticos com o uso de inteligência artificial (IA) são preocupações centrais. No ano de 2026, a população brasileira votará em eleições gerais para Presidente, governadores, senadores e deputados (federais, estaduais e distritais).
O documento intitulado Desafios de Inteligência Edição 2026 cumprirá o papel da Abin de assessorar a presidência da República de forma transparente, apoiando a tomada de decisões e a formulação de políticas públicas, além de proteger informações estratégicas para o país.
Este estudo contou com a participação de especialistas acadêmicos, pesquisadores e órgãos públicos, que colaboraram na análise de temas como clima, tecnologia, demografia, saúde, migrações, além das dinâmicas internacionais e regionais.
São listados cinco desafios principais para a segurança nacional em 2026:
- Garantir a segurança no processo eleitoral;
- Transição para a criptografia resistente à computação quântica;
- Defesa contra ataques cibernéticos autônomos utilizando inteligência artificial;
- Reestruturação das cadeias globais de suprimentos;
- Redução da dependência tecnológica e enfrentamento da interferência de atores externos e não estatais.
No relatório do ano anterior, relacionados a 2025, foram enfatizados riscos como a crise climática, mudanças demográficas, avanços tecnológicos acelerados e tensões globais entre potências.
Luiz Fernando Corrêa, diretor-geral da Abin, destacou que as dinâmicas internacionais têm apresentado maior relevância e ressaltou a utilização de instrumentos econômicos como pressão política, além do aumento das ameaças militares em países vizinhos do Brasil. A disputa acirrada pelo desenvolvimento e aplicação da inteligência artificial também foi salientada.
Contexto Geopolítico e Tecnológico
A agência aponta que o cenário mundial atual é de múltiplas potências com desequilíbrios, marcado pela competição estratégica entre Estados Unidos e China. Vivemos um período de transformação profunda impulsionada por fatores climáticos, demográficos e tecnológicos, que resultam na instabilidade da ordem internacional tradicional.
Eleições 2026: Ameaças Diversas
Para o pleito de 2026, a Abin identifica ameaças complexas e variadas, com tentativas frequentes de deslegitimar as instituições democráticas, como as ocorridas em janeiro de 2023 com a invasão dos Três Poderes em Brasília. O ambiente é permeado por manipulação de massas e ampla disseminação de desinformação.
Além disso, a integridade das eleições pode ser comprometida pela influência do crime organizado em determinadas regiões e pelo risco de interferência externa visando desestabilizar o processo eleitoral para atender a interesses estrangeiros.
Desafios da Era Digital
O relatório enfatiza a importância de o Estado ficar atento às transições em áreas como clima, demografia e tecnologia, em um mundo interconectado e dependente especialmente dos setores de energia, informação e transporte. Ressalta-se ainda os impactos inéditos trazidos pela Era Digital.
Um desafio crucial é assegurar a soberania digital do Brasil, diante de uma dependência significativa de hardware estrangeiro e o domínio das grandes empresas de tecnologia (big techs) que controlam dados e desafiam estruturas estatais, comprometendo a autonomia do país.
Apesar dessas ameaças, a Abin destaca avanços nacionais em cibersegurança, como o desenvolvimento de um aplicativo de mensagens governamentais protegido por criptografia resistente à computação quântica.
A rápida evolução da inteligência artificial pode permitir que agentes autônomos realizem ataques cibernéticos sofisticados, capazes de planejar, executar e se adaptar de forma independente, aumentando o risco de escaladas que possam até levar a conflitos militares.
A Abin mantém especialistas em criptografia, considerada fundamental para a soberania digital e a segurança das comunicações e transações oficiais. O advento da computação quântica representa um risco iminente para os métodos atuais de criptografia, que deverão ser substituídos por algoritmos pós-quânticos nos próximos 5 a 15 anos.
Dependência Tecnológica e Vulnerabilidades
É urgente para o Brasil a adoção de algoritmos criptográficos que não dependam de tecnologias estrangeiras. A esfera digital é vista como o palco central das disputas geopolíticas, com as big techs servindo como vetores de influência dos países onde estão sediadas.
Essa dependência em serviços críticos como nuvem, dados e identidade digital expõe o país a vulnerabilidades estratégicas e potenciais interferências externas, incluindo desinformação algorítmica e espionagem para acessar informações sensíveis.
Reconfiguração Global das Cadeias de Suprimentos
Entre os outros desafios está a transformação das cadeias globais de suprimentos, motivada pela ascensão da China, tensões econômicas com os EUA e fragilidades evidenciadas durante a pandemia de covid-19. A atual conjuntura mundial apresenta uma desglobalização planejada, com tarifas agressivas e um dólar menos predominante nas transações.
O Brasil enfrenta uma dupla dependência: comercialmente com a China, que assegura superávit por meio da exportação de commodities, e em capital e tecnologia oriundos do Ocidente, especialmente dos Estados Unidos.
Impactos das Mudanças Climáticas e Demográficas
A Abin aponta que as alterações climáticas estão aceleradas, com 2024 sendo o ano mais quente já registrado, ultrapassando em 1,5°C a temperatura média pré-industrial. Fenômenos extremos como secas na Amazônia e inundações no Rio Grande do Sul tornaram-se mais frequentes, causando prejuízos econômicos significativos.
A vulnerabilidade energética aumenta com o desmatamento e diminuição dos chamados “rios voadores” que distribuem água pelo país, provocando perdas bilionárias em energia.
Além disso, a segurança alimentar está ameaçada, com projeções indicando que quase metade das pragas agrícolas possam piorar até o final do século.
A elevação do nível do mar representa riscos tanto para infraestruturas essenciais quanto para as populações costeiras brasileiras.
Dinâmicas Demográficas e Migrações
As mudanças demográficas globais — aumento da longevidade e redução da fecundidade — redefinirão o futuro populacional. A saída de brasileiros qualificados para o exterior em meio à competição global por talentos é outro desafio à frente.
O Brasil vem se tornando destino de migrantes estrangeiros, o que impõe desafios para serviços públicos, segurança nas fronteiras e aumenta os riscos associados ao crime transnacional.
O entorno sul-americano está cada vez mais aberto às disputas globais por recursos estratégicos como lítio, terras raras, petróleo e recursos naturais da Bacia Amazônica. A China é atualmente o principal parceiro comercial do Brasil, enquanto os Estados Unidos intensificam pressões para alinhamento político, incluindo ameaças militares.


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