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Sabesp tem lucro 40,6% menor em 2015 e corta investimento pela metade

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Lucro líquido foi de R$ 536 milhões, inferior aos R$ 903 milhões de 2014. Investimento em serviços de água e esgoto será 48,3% menor em 2016.

A crise hídrica impactou os lucros da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) pelo segundo ano seguido em 2015, e a companhia projeta cortar pela metade novamente os investimentos nos serviços de água e esgoto previstos para 2016. É o que aponta do balanço divulgado nesta sexta-feira (25) pela companhia, em uma página voltada a investidores.

O relatório mostra que a companhia teve lucro líquido de R$ 536,3 milhões em 2015, 40,6% menos que os R$ 903 milhões do ano anterior. O desempenho é bem inferior ao de anos anteriores à seca, como 2012 e 2013, quando a companhia lucrava mais de R$ 1,9 bilhão.

No balanço, a Sabesp informa ainda que pretende reduzir os investimentos em 48,3% em 2016. No total, está previsto R$ 1,8 bilhão para os serviços de água, tratamento e coleta de esgoto, número inferior ao de 2015 – aproximadamente R$ 3,4 bilhões. No início de 2015, a Sabesp já havia anunciado um corte de cerca de metade dos investimentos previstos.

Procurada, a Sabesp não comentou os resultados de 2015 e não detalhou como serão feitos esses cortes. A empresa diz que atende 365 municípios no estado e que a área de sua responsabilidade tem 99% de cobertura de fornecimento de água, 86% de coleta de esgoto e 78% de tratamento de esgoto.

No início do mês, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), afirmou que a “questão da água está resolvida”. O Sistema Cantareira, que abastece quase 6 milhões de pessoas na Grande São Paulo e que ficou no volume morto por 18 meses, saiu do vermelho em dezembro e já opera com 34,8% de seu volume útil.

Obras
Considerada a obra mais importante para a crise hídrica, a interligação dos sistemas Rio Grande e Alto Tietê foi inaugurada em setembro do ano passado, com atraso. O projeto prevê a transferência de até 4 mil litros por segundo e, segundo a Sabesp, estava nesse índice em fevereiro. O Sistema Cantareira também foi beneficiado com a obra porque o bombeamento fez com que as regiões atendidas pelo sistema passaram a ser abastecidos pelo Alto Tietê, ajudando a aliviar o manancial em crise.

A capacidade de produção do Sistema Guarapiranga também foi ampliada em 1 mil litros por segundo. Já o Sistema Rio Grande aumentou em 500 litros por segundo sua produção de água com obras de ampliação para tratamento. A Sabesp cita ainda como projetos contra a crise a ampliação da transferência de água do córrego Guaratuba e a ligação do Guaió para o Sistema Alto Tietê.

Crise e bônus

A nova queda no lucro líquido aconteceu em um período com seguidos aumentos da tarifa da água. O primeiro reajuste da crise hídrica foi em dezembro de 2014 – 6,5%. A Arsesp, agência que regula o setor de saneamento e energia no estado, autorizou novo reajuste tarifário de 15,2%, válido desde junho, sendo 7,8% referente à inflação e 6,9% uma compensação pelas perdas decorrentes da crise hídrica.

Os reajustes não conseguiram livrar a Sabesp da queda no lucro líquido. A empresa comemora, porém, o aumento da receita operacional líquida, que ficou em R$ 11,7 bilhões em 2015, um acréscimo de 4,4% em relação a 2014. Já os custos e despesas, sinalizados no relatório com uma seta verde indicando desempenho positivo, caíram 5,2%.

Os impactos da crise hídrica aparecem em diversos pontos do balanço. O volume de água produzido pela Sabesp caiu 13,1% em 2015, assim como o volume efetivamente faturado nas contas, que caiu 8%.

Outro número destacado pela Sabesp foi a concessão de R$ 926,1 milhões em bônus em 2015, o que ocasionou perda de 6,2% na receita operacional bruta.

Isso possivelmente explica outro comunicado divulgado nas últimas horas pela Sabesp, no qual a empresa informa que solicitou à Arsesp o cancelamento do programa de bônus e multas na conta de água. O objetivo da empresa é acabar com o bônus para quem economiza e com a multa para os gastões a partir de maio. A solicitação feita à Arsesp também foi informada em página da Sabesp voltada aos acionistas da companhia.

Em dezembro do ano passado, a Sabesp havia pedido à Arsesp autorização para conceder o bônus e a multa até o final de 2016 ou até que houvesse maior previsibilidade da situação hídrica. Agora, a companhia diz que “a situação hídrica atual permite uma maior previsibilidade sobre as condições dos mananciais”.

Desde fevereiro, com autorização da Arsesp, a Sabesp já adotava um novo cálculo para a concessão do bônus com base em um Consumo Médio de Referência (CMR). Até o fim de 2015, o CMR correspondia à média de consumo no período fevereiro 2013 a janeiro 2014. Já o novo CMR passou a ser calculado pela multiplicação do antigo CMR por 0,78, o que na prática tornava a obtenção de bônus mais difícil.

 

Os moradores que conseguiam economizar entre 10% e 15% tinham desconto de 10% na conta. Os que diminuíam o gasto entre 15% ou 20% recebiam bônus de 20%. Já as residências que economizavam 20% ou mais recebiam desconto de 30% na conta de água.

A cobrança das multas não tinha sido alterada. Residências que consumiam até 20% além da média pagavam conta 40% mais cara. Já as que excederem os gastos em mais de 20% recebiam multa de 100% no fim do mês.

Corte na redução de pressão
A Sabesp diminuiu, em média, sete horas diárias o período de redução de pressão na rede de abastecimento de água na capital paulista e em cidades da Grande São Paulo. Trata-se de outra das medidas de combate à crise hídrica, mas que também foi usada ao longo dos anos, desde 1990, para combater o desperdício e evitar vazamentos na rede em horários de baixa demanda.

Até 18 de dezembro do ano passado, 12 dias antes de o Sistema Cantareira sair do volume morto, a redução de pressão durava, em média, 15 horas diárias, normalmente no período da tarde e noite. Com as mudanças, o período médio caiu para 8 horas diárias, no fim da tarde e madrugada.

A Sabesp disponibilizou na internet a relação dos bairros, por cidade, os horários em que haverá redução de pressão. A companhia recomenda que o morador tenha reserva de água adequada ao consumo dos usuários por 24 horas e que verifique se as instalações internas estão ligadas à caixa de água e não diretamente à rede da rua.

A redução de pressão representa 52% do consumo de água registrado na região metropolitana, segundo dados da companhia na primeira quinzena de 2016. Apesar de aliviar o racionamento, a Sabesp disse, em nota, que a prioridade continua sendo a recuperação dos mananciais.

Vista da represa Jaguari-Jacareí na cidade de Bragança Paulista, que integra o Sistema Cantareira de abastecimento de água, no interior paulista, no dia 21 de janeiro (Foto: Carlos Nardi/Estadão Conteúdo)

Vista da represa Jaguari-Jacareí na cidade de Bragança Paulista, que integra o Sistema Cantareira de abastecimento de água, no interior paulista, no dia 21 de janeiro (Foto: Carlos Nardi/Estadão Conteúdo)

 

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