Na Rua Coração Selvagem, bairro Cidade A. E. Carvalho, Zona Leste de São Paulo, selvagem mesmo é só o interior de um prédio abandonado que abrigaria uma escola estadual. Cacos de vidro, lixo, fezes e até resíduos do uso de drogas ocupam o local que deveria ser de lousas, cadeiras, alunos e professores.
A escola foi erguida para receber os alunos que atualmente estudam na Escola Estadual Cohab Águia de Haia I, que fica ao lado, e abriga salas com paredes metálicas, chamada por pais e alunos de “escola de lata”.
A construção do novo prédio parou há dois anos, segundo os moradores. Em nota, a Secretaria de Estado da Educação diz que o contrato com a empresa responsável pela construção foi rescindindo “por conta da lentidão da empresa para tocar as obras”. “O processo para contratação de uma nova empresa está em andamento. A Diretoria de Ensino Leste 1 registrou boletins de ocorrência contra os casos de depredação.”
Com o abandono da construção, que estava quase concluída, ladrões entraram na escola e levaram fios, torneiras, tomadas. Nos furtos, portas foram arrombadas e destruídas. O local também foi todo pichado, por fora e por dentro.
A escadaria do prédio tem até manchas de sangue. No lugar de um portão, uma pilha de lixo. Não há cadeado ou algum tipo de proteção. No térreo, um cômodo chega a ter uma cama de casal com um rack. Na gaveta do móvel, um preservativo. Ao lado da cama, garrafas vazias.
“De noite é cheio de ‘noia’. Já ouvi até tiro”, disse o carroceiro Antônio Alves Freitas, que trabalha na região. Moradora da rua, Alzira Pereira, de 67 anos, conta que uma vizinha chegou a investir em uma venda de doces na porta de casa, à espera dos alunos que ainda não vieram. “Gastaram um dinheirão e ficou assim. Picharam tudo, roubaram fio”, disse.
Segundo policiais do 62º DP, em Cidade A. E. Carvalho, a área da delegacia é grande e problemática em toda sua extensão, mas, especificamente rua onde fica a escola abandonada, não há registro de ocorrências nos últimos três anos.
Moradora da rua há 26 anos, a aposentada Maria Calvo Colella tem medo que o prédio seja invadido. “Quero ver a escola funcionando para minhas bisnetas, porque para minhas netas não dá mais tempo.”
Pais e alunos esperam que a escola invadida seja finalizada o quanto antes para deixar a escola com salas de paredes metálicas. Alunos reclamam que fica muito frio no inverno e muito quente no verão. “Seria bem melhor ter mais espaço. E não vai ser tão quente como aqui, pela questão do forro”, diz dona de casa Elisângela de Souza tem um filho de 10 anos na escola vizinha.
Sobre esta escola, a pasta afirma que a instituição “atende a demanda” e “passou por adequações”. “As paredes metálicas foram substituídas por alvenaria e foram instalados isolantes térmicos tanto no forro do teto quanto no telhado, onde também foi acrescentada nova camada de telhas e feito o prolongamento dos beirais para aumentar o sombreamento.”
Apesar da degradação do que deveria ser o novo prédio, o último andar, onde fica uma quadra coberta, é usado com uma finalidade mais apropriada. A reportagem encontrou cerca de 20 adolescentes disputando uma partida de futebol. Eles contaram que jogam lá todos os dias.
Você precisa estar logado para postar um comentário Login