Saúde
Estudo diz que câncer de próstata é mais provável em homens altos e gordos
Estudo com quase 142 mil homens mostra que, depois dos 102cm, cada 10cm a mais na circunferência abdominal aumenta em 13% o risco de surgimento de câncer de próstata. A altura também deixa os indivíduos mais vulneráveis
Hoje é o dia do homem. Data criada no país com o objetivo de conscientizar a população masculina sobre a necessidade de tomar cuidados que garantam o próprio bem-estar. Uma das enfermidades que mais os ameaçam é o câncer de próstata, o segundo tipo de tumor mais comum entre os homens de todo o mundo. Cientistas britânicos alertam que três características físicas, duas delas evitáveis, podem estar relacionadas à maior vulnerabilidade à doença: altura, índice de massa corporal (IMC) e circunferência do abdômen. Detalhes do trabalho foram divulgados na última edição da revista BMC Medicine e servem de alerta para a importância de medidas preventivas.
De acordo com os cientistas, a maior altura e o excesso de peso já foram apontados como possíveis fatores de risco para o câncer de próstata, mas essas associações não estavam totalmente esclarecidas, pois a maioria dos estudos não examinou os diferentes tipos de tumor separadamente. “Para abordar essa questão, queríamos analisar essas associações dividindo tumores em categorias, de acordo com o quanto a doença se espalhou (estágio tumoral) e quão anormal as células estão quando comparadas às normais, o que chamamos de grau histológico”, explica ao Correio Aurora Perez-Cornago, autora principal do estudo e pesquisadora da Universidade de Oxford, no Reino Unido.
Ela e a equipe usaram dados de 141.896 homens, obtidos por meio do estudo European Prospective Investigation on Cancer and Nutrition (EPIC), coletados em oito países: Dinamarca, Itália, Holanda, Espanha, Suécia, Reino Unido, Alemanha e Grécia. Ao todo, foram diagnosticados 7.024 casos de cancro de próstata. Nas análises, observou-se que o IMC elevado foi associado ao aumento do risco de tumores de alto grau, bem como ao do risco de morte por câncer de próstata.
A relação se repetiu no caso da circunferência da cintura — indicada como medida mais precisa da obesidade do que o IMC em adultos mais velhos. Os cientistas usaram os números estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) — média de 94cm a 102cm — como a base de comparação. Concluíram que a cada 10cm a mais de circunferência abdominal, os homens tinham o risco de morte por câncer de próstata aumentado em 18% e o de ser acometido pela doença de alto grau, em 13%.
Os autores destacam que a análise é inicial, mas os resultados os permitem especular sobre essas relações. “É importante ressaltar que nosso estudo é observacional e, portanto, precisamos de mais material para compreender possíveis mecanismos e determinar se as associações que vimos são causais. Nossa hipótese é que as ligações observadas com a obesidade podem ocorrer devido a alterações nos níveis hormonais em homens obesos, o que, por sua vez, pode aumentar o risco de câncer de próstata agressivo”, detalha a autora.
Os pesquisadores também deram foco à altura dos homens. Usaram como padrão a estatura média da região — e 1,65m — e observaram que o risco de doença de alto grau e de morte devido a complicações do tumor na próstata aumentaram 21% e 17%, respectivamente, a cada 10cm adicionais. Isso também ocorreria em função dos hormônios. A carga hormonal para o crescimento aumentaria as chances de ocorrência da doença. “A associação de altura com câncer de próstata de alto grau e morte por câncer de próstata pode fornecer ainda informações sobre os mecanismos subjacentes ao desenvolvimento desse tumor que estejam relacionados, por exemplo, à nutrição e ao crescimento precoce”, complementa Cornago.
Prevenção
Para os autores, os achados também servem de alerta para a população masculina. “Nossos dados ilustram a associação complexa de adiposidade e câncer de próstata, que varia de acordo com a agressividade da doença. Essas descobertas devem estimular os homens a ter um peso saudável”, diz a autora principal.
Fernando Leão, urologista e especialista em cirurgia robótica para tratamento do câncer de próstata no Hospital Brasília, acredita que esse é o ponto mais interessante da pesquisa: mostrar a relação entre o peso e a doença. “A questão da estatura é algo que não podemos mudar, até porque temos que respeitar as características raciais. Temos etnias em que a pessoa muito provavelmente vai ter mais altura, mas a questão do peso é muito importante. Muitas pesquisas já mostram o quanto o sobrepeso pode ser prejudicial, causando risco maior de doenças cardiovasculares, por exemplo. Nesse caso, vemos como ele parece estar ligado ao câncer de próstata também, o que corrobora o quanto é importante combater a obesidade”, destaca.
Para o especialista, o estudo deve ter continuidade. “Seria interessante usar mais participantes para a análise, de diversas unidades hospitalares, a fim de que os dados se tornem ainda mais robustos”, sugere. Os autores darão continuidade à investigação e pretendem dar foco aos diferentes tipos de estágios do câncer de próstata. “Esses resultados enfatizam a importância de estudar os riscos envolvidos nesse cancro separadamente, por estágio e por grau de tumor, o que também pode ajudar com estratégias de prevenção. Mas precisamos continuar trabalhando para entender por que existem as diferenças de risco”, diz Cornago.
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