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Espera na saúde: A agonia que consome famílias

Augusto Oliveira Barbosa, 60 anos, morreu com infecções e à espera de uma vaga na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital de Base do DF. O caso foi há duas semanas, mas, de lá para cá, a falta de assistência, sem material e anestesia, ainda afeta muitos pacientes na fila para uma cirurgia. Ainda assim, a Secretaria de Saúde insiste em afirmar que os pacientes “permanecem estáveis e devidamente acompanhados”.
O filho de Augusto, o promotor de vendas Fabricio Souza, 29 anos, ao contrário do que alega a secretaria, acredita que o pai tenha morrido por negligência e falta de acompanhamento técnico. Após uma traqueostomia, o idoso passou mal e precisava ser levado à UTI. “Meu pai precisava de acompanhamento, e quando procuramos o chefe da equipe médica, ele fez pouco da situação e mandou que eu procurasse outro médico”, alega. “Ele chegou a chamar minha mãe de doida e perguntava se ela não entendia o que ele estava falando”, complementa.
Depois de dois dias, o paciente conseguiu uma vaga no Hospital do Gama, mas Augusto faleceu às 9h20 do dia 9. “Meu pai chegou ao Gama fedendo e com infeção, pela falta de tratamento adequado no Hospital de Base”, afirma. Para ele, faltaram profissionais para tratar do caso, pois o pai ficou sob a responsabilidade de enfermeiros que não sabiam qual medicação era necessária.
A aflição da espera
A servidora pública federal Ana Silva temeu que sua mãe, Eunice Luiza dos Santos, aposentada de 85 anos, tivesse o mesmo fim. Após fraturar o fêmur, a idosa esperou 15 dias para ser operada, o que aconteceu apenas na última quarta-feira, 31. “O posto de emergência é um cenário de guerra. Na UTI minha mãe tinha mais chances de se recuperar”, destaca.
Ela observa que, quando estava no pronto-socorro do Hospital de Base, mesmo não cabendo mais ninguém, havia cada vez mais macas empilhadas. “É uma precariedade enorme e uma bagunça”, cita a mulher.
Segundo a Secretaria de Saúde, todos os pacientes internados estão sendo assistidos pela equipe e nenhum deles está aguardando atendimento. “Os profissionais passam de leito em leito regularmente. Durante as 24 horas são três plantões e, a cada plantão, há troca de profissionais”, informa.
São realizadas 350 cirurgias eletivas por mês, e 340 procedimentos de emergência.. “A principal causa da demora na realização das cirurgias é a carência de médicos anestesiologistas, um problema que afeta toda a rede pública de saúde”, destaca.
O órgão aponta que só há demora na realização dos procedimentos cirúrgicos porque, apesar das vagas que foram abertas em concursos anteriores terem sido preenchidas, houve muitas aposentadorias e exonerações de médicos anestesistas nos últimos meses.
O cenário vivido por muitos pacientes nos postos de emergência contraria o que a Secretaria informa. Ana aponta que só no posto em que a mãe aguardava pela cirurgia, são mais 67 pessoas na fila de espera. “Tem um paciente que estava com o tecido da perna morto. Ele esperou 23 dias para que a perna fosse amputada, e agora está na enfermaria”, afirma. Ela alega que a enfermaria está sem vagas no momento.
Revolta é a mesma em Santa Maria
Esse descaso não é exclusividade do Hospital de Base. Morreu na quarta-feira passada uma idosa que estava na UTI do Hospital Regional de Santa Maria (HRSM). A professora de inglês Elizabeth Nardelli, 33 anos, filha de Ameli Nardelli de Almeida, 77 anos, alega que o que aconteceu foi negligência.
A idosa deu entrada na UPA de Samambaia no dia 3 de julho, devido a uma ferida no pé. Diabética, Ameli foi transferida para o Hospital de Base. Ali, ao contrair pneumonia, teve que ser encaminhada a uma UTI. A família pagou uma unidade móvel para a transferência ao HRSM. “Minha mãe estava um dia bem, cantando, e no outro estava morta”, desabafa.
Ela conta que foi um mês e meio de sofrimento, com várias trocas de médicos que estavam de atestado. Ameli estava consciente e reclamava de dores nas costas, mas os enfermeiros alegavam que era uma ferida de úlcera por pressão, comum a todo paciente. “Eles falavam que a ferida estava melhorando, e nunca deixavam a gente ver”, completa Elizabeth.
“Na funerária, vimos a ferida que falavam não ser nada. Estava no osso e cheio de fezes”, destaca. “Estamos revoltados, a ferida era uma porta de infecção. Eles mataram a minha mãe”, lamenta. Ela compara o caso ao do ex-governador Roriz. “Minha mãe só precisava de uma amputação. O dele (Roriz) foi assim, mas ele está aí”, aponta.
Alegação
A respeito da idosa Ameli Nardelli, a direção do HRSM esclarece que a paciente recebeu a assistência necessária e foi acompanhada por equipe treinada e qualificada em um leito regular de UTI. A direção ressalta que é procedimento padrão alternar a posição dos pacientes em UTI a cada duas horas para evitar ou tentar reduzir quadros de escaras. A ferida pode surgir devido às condições clínicas e longo período de acamação.
A respeito da troca de médicos, a pasta diz que todos os detalhes são registrados em prontuário eletrônico, para que o tratamento não seja descontinuado.

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