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Iphan vê risco a tombamento de Brasília em reforma de viaduto que desabou no Eixão

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Órgão analisa croquis elaborados pelo governo do DF. UnB foi consultada para dar palavra final.

Bloco do Viaduto da Galeria dos Estados no dia em que desabou, em fevereiro deste ano (Foto: Antônio Araújo/Trilux/Estadão Conteúdo)

O projeto para a construção do novo viaduto na Galeria dos Estados tem risco de ferir o tombamento de Brasília. Os croquis elaborados pelo governo foram levados ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para análise. Para o órgão não dar a palavra final sozinho, a Universidade de Brasília (UnB) foi consultada sobre o risco de ameaça ao ideais da cidade.

Croqui que mostra diferença entre viaduto original e de novo projeto do GDF; parte em vermelho é ‘extra’ (Foto: Reprodução)

De acordo com os esboços do novo viaduto, os oito pilares da estrutura ficarão com dimensões – e desenho – maiores do que o original (veja ilustração acima). Em vez de ficarem com um formato em “Y”, eles vão ganhar em extensão, ficando em um formato mais retangular. O governo afirmou que o projeto ainda está em fase de finalização, mas não justificou o porquê da mudança.

Esse projeto está em análise no Iphan desde 12 de abril. O órgão tem até 90 dias para dizer se ele fere ou não o tombamento. Caso entender que as modificações feitas no projeto original são significantes, o governo terá de se justificar porque uma alteração “só poderá se realizar na perspectiva de promover melhorias e benefícios ao espaço urbano”.

Estado original do viaduto, em ilustração feita pelo GDF (Foto: Reprodução)

“A preocupação do Iphan, em consonância com os critérios de preservação estabelecidos para a área tombada pelo governo federal, é que não se promova alterações urbanísticas, arquitetônicas e paisagísticas desnecessárias naquele setor”, explicou ao superindentente do instituto, Carlos Madson Reis.

Nas próprias palavras do Iphan, seria possível reconstruir o viaduto nos mesmos moldes do original. “Acredita-se que, com a tecnologia estrutural de hoje, mais avançada que a da época de sua construção, é possível manter-se à tipologia e à forma arquitetônica original para durar bem mais tempo.”

Além da preocupação com o tombamento, o instituto também tem questionamentos quanto à segurança. “Antes de tudo, o viaduto tem que ser seguro sob o ponto de vista estrutural”, declarou o Iphan.

Como deve ficar o pilar do viaduto, de acordo com projeto do GDF (Foto: Reprodução)

Consulta à UnB

Oficialmente, o Iphan alega que a consulta aos institutos de engenharia e arquitetura da UnB é um procedimento “natural”. No entanto, professores ligados à análise do projeto do GDF ouvidos dizem que o chamamento foge do padrão.

“Em mais de sete anos em que trabalho aqui, isso nunca aconteceu”, declarou um professor de arquitetura, sob condição de anonimato. “Isso mostra a peculiaridade do assunto”, continuou.

Segundo um professor de engenharia que também preferiu não revelar o nome, a UnB confirmou ao Iphan que o projeto feito pelo governo é diferente do que existia antes da queda do viaduto no Eixão Sul, em 6 de fevereiro.

“Ele não está voltando ao projeto original. O traçado é claramente diferente. Esteticamente falando, seria possível, sim, voltar ao mesmo desenho de antes. Como engenharia, mudaria totalmente. Existem várias outras técnicas e tecnologias, que poderiam trazer um desempenho melhor.”

Até a publicação desta reportagem, os professores da UnB já tinham feito ao menos uma reunião com o Iphan para explicar esses pontos.

Imagem mostra pilares que restaram no viaduto da Galeria dos Estados (Foto: Pedro Ventura/Agência Brasília)

Polêmica

Dentro do próprio meio acadêmico, não existe consenso sobre o conceito de ferir o tombamento de Brasília. Por exemplo, se um projeto tiver como proposta o de fazer uma “restauração”, então a reconstrução deve ocorrer nos mesmos moldes da original. Porém, se a ideia é fazer uma nova “intervenção”, o desenho pode ser modificado.

Segundo o professor de arquitetura da UnB Frederico Flósculo, a polêmica sobre o tombamento é “irracional”. “Eu entendo que em determinados casos, a geometria poderia, sim, mudar. Isso não causaria prejuízo algum. O Iphan deveria era ser muito mais ativo e se preocupar em exigir do governo uma planilha com cronograma de manutenção das estruturas.”

Técnico trabalha para fazer escoramento no viaduto do Eixão Sul, em Brasília (Foto: TV Globo/Reprodução)

Já o professor de engenharia da UnB aposentado João Carlos Teatini de Souza qualificou o projeto do GDF de “monstrengo” e “aberração”. “Do jeito que os pilares eram, você tinha grande visibilidade pelos dois lados. Esse novo pilar vai impedir a visibilidade. Vai precisar de um reforço violento de fundação.”

Segundo o governo, a licitação para a reforma do viaduto só deve sair após conclusão do projeto – que depende do aval do Iphan. “A licitação para reforma do viaduto será realizada pelo Departamento de Estradas de Rodagem (DER), utilizando os recursos do orçamento do governo de R$ 50 milhões previsto para obras emergenciais.”

Tombamento

No Brasil, o respeito ao tombamento – e à preservação desse legado – é fiscalizado pelo Iphan. Em Brasília, Ouro Preto, Olinda, Rio de Janeiro, há o tombamento reconhecido pelo Iphan e pelo governo local. Em Brasília, o tombamento também é reconhecido pela Unesco como patrimônio mundial.

“O que é tombado são as características urbanísticas, os valores, os atributos que dão cara a essa cidade”, explicou o superintendente do Iphan em entrevista ao portal G1 DF em fevereiro.

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