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Após controvérsias, ministro da Educação retira pós-doutorado do currículo
O recém-nomeado ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli, retirou de seu currículo os trechos em que dizia ter feito pós-doutorado na Universidade de Wuppertal, na Alemanha.
O doutorado na Universidade de Rosário, na Argentina, também passou a ser descrito como “doutorado interrompido” no currículo Lattes de Decotelli, plataforma oficial para pesquisadores brasileiros.
O pós-doutorado do ministro, que é professor universitário com experiência em finanças e economia, entrou em debate na segunda-feira, 29, depois que a universidade afirmou que o período de estadia do ministro na instituição foi de três meses. Na versão anterior de seu currículo, Decotelli afirmava ter feito pós-doutorado na Universidade de Wuppertal entre 2015 e 2017.
A universidade também não havia confirmado que Decotelli estava fazendo pesquisa na instituição oficialmente como um projeto de pós-doutorado.
“O senhor Carlos Decotelli esteve na Universidade de Wuppertal para uma pesquisa de três meses sobre sustentabilidade. Ele não era pós-doc na nossa universidade. Ele não lecionou e não obteve nenhum certificado”, escreveu a instituição por meio de seu departamento de imprensa, em uma segunda nota enviada à Exame após ser questionada sobre se o programa de pesquisa em que Decotelli estava poderia ser considerado um programa de pós-doutorado. A universidade também disse que não poderia responder por formações adquiridas pelo pesquisador no Brasil.
O pós-doutorado não é um título oficial, ao contrário de mestrado e doutorado, mas consiste em um trabalho de pesquisa ou estágio feito por um pesquisador com título de doutor. É comum que os programas sejam mais longos, de ao menos um ano, embora não haja regras oficiais e globais, por não se tratar de um título formal fornecido pela universidade.
Doutorado interrompido
O próprio título de doutorado de Decotelli, necessário para qualquer programa de pós-doutorado, foi questionado pela Universidade de Rosário, na Argentina, que afirma que ele cursou os créditos do programa, mas que sua tese foi reprovada, de modo que ele não obteve o título.
Nas mudanças em seu currículo ontem, Decotelli também acrescentou que sua tese de doutorado não foi aprovada e retirou o nome do orientador.
O período na Alemanha, por sua vez, passou a constar no currículo de Decotelli apenas como “atuação profissional” e como “projeto de pesquisa”. O período entre 2015 e 2017 foi mantido. Na descrição do projeto, Decotelli afirma que “participou de um projeto de pesquisa, em parceria com pesquisadora da Bergische Universitat Wuppertal, na Alemanha, com título ‘Sustentabilidade e Produtividade na Automação de Máquinas Agrícolas’, pesquisa na qual teve apoio da empresa Krone (www.krone.de)”.
O currículo Lattes é um documento eletrônico usado por pesquisadores brasileiros para registrar sua produção e experiência acadêmica. A plataforma é controlada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), mas o preenchimento é feito pelo próprio usuário.
Além de doutorado e pós-doutorado, em seu currículo, Decotelli informa ainda que é formado em Ciências Econômicas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e mestre em Administração pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Posse de Decotelli adiada
As discussões sobre o currículo de Decotelli levaram o governo do presidente Jair Bolsonaro a adiar a posse do ministro, que estava prevista para a tarde desta terça-feira, 30. Em live em suas redes sociais na noite de segunda-feira, Bolsonaro disse que manterá a nomeação do ministro.
Decotelli foi nomeado Ministro da Educação na última quinta-feira, 25, com perfil considerado de “diálogo”. Antes, ele era professor da Fundação Getúlio Vargas e foi em 2019 presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), já no governo Bolsonaro, por indicação da ala militar.
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