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Ativista que quer calçar o mundo já distribuiu 60 mil chinelos

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Crianças sem calçados chamaram a atenção de Betty Mae Agi e de sua irmã, Brenda, durante trabalho voluntário em Angola. Elas abriram mão da festa de formatura do curso de Biomedicina para atuar como biomédicas no país africano.

Betty, nascida em Brasília e residente em Anápolis (GO), filha de pai moçambicano e mãe brasileira, percebeu, ao trabalhar com parasitoses e verminoses, que a falta de calçados contribuía para doenças graves em crianças, devido ao contato com esgoto a céu aberto em condições precárias. Em 2010, essa situação era pouco observada.

De volta ao Brasil, as irmãs utilizaram a rede social Orkut para criar uma campanha de arrecadação de chinelos, unindo ballet e chinelos em um álbum de fotos, com a meta inicial de 250 pares para as crianças angolanas.

A campanha rapidamente se espalhou por 17 estados brasileiros e logo ultrapassou a meta, recebendo pedidos do Brasil, Índia e Haiti, revelando a dimensão do problema.

Na época, segundo dados da ONU, 300 milhões de crianças viviam sem calçados, uma questão de saúde, dignidade, mobilidade e segurança. Para Betty Mae Agi, estar descalço em meio a uma guerra civil representa grande perigo e dificuldade de locomoção.

Dessa iniciativa nasceu a ONG Compaixão Internacional, que já forneceu chinelos a 60 mil crianças em 23 países.

O chinelo, para as comunidades atendidas, é muito mais que um simples instrumento: é meio de transporte, que pode determinar se uma criança consegue ir à escola ou não.

Betty destaca que as pessoas que vivem descalças enfrentam o estigma da falta de higiene e ressalta a questão racial: 80% das pessoas sem sapatos são de pele não branca.

Ela reforça a urgência de resolver essa situação, chamando atenção para a desigualdade entre quem tem acesso a tecnologias modernas e quem está descalço.

Palestrante e autista

Além de biomédica, Betty atua como gestora de projetos, palestrante e é autista. O diagnóstico de autismo ocorreu ainda na infância, e ela sempre recebeu apoio dos pais, que enfatizavam missão, propósito e a relevância da carreira.

Na faculdade, aos 15 anos, mudou-se de Brasília para Anápolis, onde enfrentou desafios ligados à neurodivergência, incluindo crises sensoriais e ansiedade social. O propósito era seu principal motivo para perseverar.

Betty relata também o esforço para superar a dificuldade de contato visual, resultado de anos de terapia, e que hoje prefere observar os pés das pessoas, o que a motiva a seguir em frente.

Ela foi vencedora do reality show de palestras “The Best Speaker Brasil”, superando quase 36 mil participantes, enfrentando ansiedade, luzes, barulho e desregulação sensorial, sendo acolhida por sua autenticidade e abertura sobre seu diagnóstico.

Para Betty, o que lhe sustenta é o propósito: sem ele, ela duvida que conseguiria seguir sua jornada.

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