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Brics repudia ataques contra Irã na declaração final da cúpula no Rio

Brics repudiou de forma direta, pela primeira vez, os ataques contra o Irã na Declaração Final da 17ª Reunião de Cúpula do grupo, divulgada neste domingo (6), no Rio de Janeiro. Embora o texto não cite os responsáveis pelos bombardeios ─ Israel e Estados Unidos ─, ele representa uma mudança de postura do bloco, que enfrentou divergências sobre a questão iraniana durante o encontro de líderes deste ano.
“Condenamos os ataques militares contra a República Islâmica do Irã desde 13 de junho de 2025, que violam o direito internacional e a Carta das Nações Unidas, e manifestamos profunda preocupação com a crescente tensão na segurança do Oriente Médio”, afirma o documento.
A declaração anterior do grupo, publicada 11 dias após o início do conflito de 12 dias, expressava apenas “profunda preocupação” com os ataques, sem condenação direta. Ainda assim, já destacava que os bombardeios israelenses violavam o direito internacional e a Carta da ONU, principalmente em ataques a instalações nucleares iranianas.
Na Declaração do Rio de Janeiro, principal documento do Brics sob a presidência brasileira, o grupo agora condena explicitamente a agressão contra Teerã, mesmo sem mencionar Israel ou EUA. Tel Aviv e Washington realizaram ataques ao Irã sem consulta ao Conselho de Segurança da ONU, como exigido pelo direito internacional, que proíbe ações militares sem aprovação desse órgão.
Mudança de postura
Mohammed Nadir, professor de relações internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC), avaliou para a Agência Brasil que houve uma mudança na linguagem do Brics, adotando um tom mais firme e decidido na condenação das ações de Israel e EUA.
“Observa-se uma alteração no tom e na forma, marcada pela determinação política em condenar EUA e seu aliado Israel. A presença de membros do Brics que são aliados dos EUA e Israel não impediu o bloco de manifestar essa condenação”, afirmou o especialista.
Segundo Nadir, essa nova declaração demonstra coesão dentro do bloco e reflete a influência da China e da Rússia na formulação do texto condenatório.
O especialista em Oriente Médio também ressaltou que a China percebe o ataque dos EUA ao Irã como uma ameaça indireta a si mesma. “A China sabe que ficar calada não é a melhor estratégia diante de um ataque a um país aliado como o Irã. O silêncio chinês poderia ser visto como fraqueza”, concluiu.
Instalações nucleares
A Declaração do Rio ainda condena os ataques a infraestruturas civis e a “instalações nucleares pacíficas” do Irã, protegidas sob as salvaguardas da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), ressaltando que tais atos violam o direito internacional e resoluções da AIEA.
O direito internacional proíbe ataques militares a usinas nucleares devido ao risco grave de contaminação radioativa no meio ambiente. “Exortamos o Conselho de Segurança da ONU a tratar dessa questão”, completa o documento.
O ataque ao Irã foi condenado por Rússia, Brasil e China, enquanto potências ocidentais, como França, Alemanha e Reino Unido, demonstraram apoio ou minimizaram os fatos.
A Índia, que mantém relações próximas com Israel e EUA, limitava-se a manifestar preocupação anteriormente, mas agora, segundo a declaração do Rio, soma-se à condenação dos ataques contra o Irã realizada pelos demais membros do Brics.
Contexto dos conflitos
O documento final do Brics inclui uma seção dedicada aos conflitos armados globais, intitulada “Promovendo a Paz, a Segurança e a Estabilidade Internacionais”. O grupo expressa preocupação com guerras em curso em diversas regiões, citando explicitamente os conflitos na Palestina, Sudão, Ucrânia, Líbano, além da instabilidade no Norte da África.
Sobre o Brics
O Brics é um grupo que reúne representantes de 11 países membros permanentes: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Irã, Arábia Saudita, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Indonésia.
Além disso, conta com países parceiros como Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Tailândia, Cuba, Uganda, Malásia, Nigéria, Vietnã e Uzbequistão.
Esses 11 países juntos representam 39% da economia global, 48,5% da população mundial e 23% do comércio internacional. Em 2024, o bloco foi responsável por 36% das exportações brasileiras, e o Brasil importou 34% do total vindo desses países.

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