Estudos anteriores já haviam alcançado resultados semelhantes com o uso dos estímulos cerebrais dos pacientes, por meio de interfaces cérebro-máquina (ICM). No entanto, a maioria foi realizada com braços robóticos e o único paciente que movimentou o próprio corpo conseguiu apenas abrir e fechar a mão. Testes feitos com macacos paraplégicos também obtiveram sucesso ao devolverem o movimento das pernas com o mesmo mecanismo de eletrodos.
Vencendo a paralisia
Para movimentar o braço novamente, o paciente americano Bill Kochevar, de 56 anos, foi treinado por 45 dias. No início, ele praticou o uso dos 96 canais de eletrodos implantados cirurgicamente na superfície do córtex motor – área do cérebro relacionada às atividades motoras voluntárias – com um braço virtual. Em poucos minutos, segundo o estudo, ele conseguiu mexer o modelo no computador. Em seguida, passou a movimentar o próprio membro com o pensamento transmitido por eletrodos espalhados pelo braço e antebraço e o apoio de um suporte. Ele foi capaz de utilizar mão, pulso, cotovelo, braço e ombro e se alimentar utilizando um garfo e beber água e café com um canudo.
Kochevar conseguiu movimentar cada articulação tanto individualmente, como em conjunto. Para superar a força da gravidade que o impedia de levantar o membro, ele utilizou um suporte móvel, que também estava sob o controle do seu cérebro. “Estou fazendo com que ele se mova sem ter que me concentrar muito nisso. Eu só penso e o braço vai”, disse o paciente, em comunicado.
A tecnologia, contudo, ainda tem limitações. Entre elas, o voluntário precisa olhar para seu braço o tempo todo para controlá-lo, visto que, devido à paralisia, ele perde o senso intuitivo dos movimentos e da localização do membro. Além disso, o sistema ainda utiliza muitos fios e os implantes cerebrais são temporários. Muitas melhoras ainda devem ser feitas, como uma melhor decodificação cerebral, para que o dispositivo possa estar disponível para pessoas com lesões na medula. “Isso não vai substituir os cuidadores. Mas, a longo prazo, as pessoas serão capazes, de forma limitada, de fazer mais por si mesmas”, afirmou o paciente.
“O objetivo é futurístico: um indivíduo paralisado pensa em mover seu braço, como se o cérebro e os músculos não estivessem desconectados, e uma tecnologia implantada executa perfeitamente o movimento desejado… esse estudo é inovador sendo o primeiro relato de alguém executando movimentos funcionais e multi-articulados de um membro paralisado com uma prótese neuronal e motora”, afirmou o cientista Steve Perlmutter, da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, em um comentário que acompanha o estudo publicado no Lancet.
Veja o vídeo (em inglês) do estudo divulgado pelos pesquisadores:
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