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MSF: desafios persistem para médicos em Gaza mesmo com trégua
As condições enfrentadas pelos médicos e pacientes em Gaza permanecem extremamente difíceis, apesar da trégua que dura quase dois meses no território palestino, conforme declarou o presidente da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF).
Israel e o grupo islamista Hamas anunciaram em outubro um acordo de trégua, mediado pelos Estados Unidos, que permite a entrada de ajuda humanitária no território devastado por dois anos de conflito e prestes a enfrentar uma crise humanitária severa.
Javid Abdelmoneim, presidente da MSF, relatou à AFP que as condições nos hospitais de Gaza continuam críticas, mesmo com a trégua em vigor. Ele destacou que, embora cirurgias, partos e tratamentos continuem sendo realizados, os protocolos, medicamentos e materiais disponíveis são inferiores, resultando em atendimento de qualidade reduzida.
Abdelmoneim, que atuou como médico em Gaza em 2024, comentou que a trégua funciona mais como um cessar-fogo temporário, com palestinos ainda morrendo diariamente em decorrência dos confrontos com Israel.
Apesar da diminuição das hostilidades, 376 palestinos perderam a vida em Gaza, de acordo com as autoridades locais de saúde, juntamente com três soldados israelenses. Os hospitais continuam a receber pacientes gravemente feridos.
Organizações humanitárias continuam a exigir a entrada de mais ajuda em Gaza, porém Israel tem negado a permissão para que os suprimentos passem pela passagem de Rafah, na fronteira com o Egito.
Abdelmoneim destacou que a quantidade de ajuda humanitária que tem chegado não é suficiente e frequentemente é usada como ferramenta política, classificando essa prática como uma forma contínua de genocídio, onde a ajuda humanitária acaba sendo tratada como moeda de troca, o que é inaceitável.
MSF informou que suas equipes médicas testemunharam evidências que indicam que o genocídio continua em Gaza, uma afirmação rejeitada pelo Ministério das Relações Exteriores de Israel.
A falta de suprimentos e a destruição dos hospitais dificultam ainda mais os cuidados médicos, resultando em maiores taxas de infecção, hospitalizações e riscos de complicações para os pacientes.
Além de Gaza, Abdelmoneim também chamou atenção para a situação no Sudão, onde houve avanços das Forças de Apoio Rápido em Darfur do Norte, marcados por relatos de graves atrocidades e ataques contínuos aos serviços de saúde e bloqueios ao acesso de suprimentos.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) reportou que, em outubro, mais de 460 pacientes e acompanhantes foram mortos durante a captura de uma maternidade em El Fasher pelas forças paramilitares, e seis profissionais de saúde foram sequestrados.
Abdelmoneim ressaltou a importância de garantir liberdade, proteção e acesso irrestrito para a população, profissionais de saúde e suprimentos humanitários em áreas de conflito.
Ele também relatou que as equipes médicas em campo ouvem relatos devastadores de violência sexual, ataques baseados em etnia e extorsão, além de indícios que apontam para condições preocupantes de fome entre os deslocados no Sudão e no Chade.
A MSF apoia os pedidos do Conselho de Direitos Humanos da ONU para uma apurada investigação das violações denunciadas, solicitando que todos os Estados-membros apoiem uma investigação em El Fasher.


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