Papa realiza missa inaugural na Turquia após visita à Mesquita Azul

O Papa Leão XIV celebrou neste sábado (29) em Istambul sua primeira missa na Turquia diante de milhares de fiéis e visitou de manhã a conhecida Mesquita Azul, o primeiro templo muçulmano que visita como líder da Igreja Católica.

Durante seu dia final completo na Turquia antes de partir para o Líbano, o papa também encontrou-se com líderes eclesiásticos locais e com o patriarca de Constantinopla, Bartolomeu I.

Cerca de 4.000 fiéis da pequena comunidade católica local puderam finalmente ver o pontífice, protegido por um rigoroso esquema de segurança desde sua chegada ao país predominantemente muçulmano na última quinta-feira.

Os fiéis saudaram o papa com cânticos e aplausos na Volkswagen Arena, local especialmente adaptado para a celebração da missa.

“Esta visita é importante e espero que contribua para aumentar a compreensão”, disse Cigdem Asinanyan, moradora de Istambul que enfrentou longa espera sob chuva para participar.

Os cristãos representam apenas 0,1% da população turca de 86 milhões. Embora haja avanços registrados em seus direitos, muitos ainda relatam desigualdade e exclusão.

Kasra Esfandiyari, uma refugiada cristã iraniana de 27 anos, viajou seis horas de carro de Esmirna junto à mãe para presenciar “um momento histórico”.

“Eu não poderia perder”, afirmou à AFP.

Antes da cerimônia, o papar, com 70 anos, assinou com Bartolomeu I um documento enfatizando a necessidade de preservar o diálogo inter-religioso e repudiar o uso da religião para justificar violência.

Reunidos no palácio do patriarca ecumênico no Chifre de Ouro, ambos líderes destacaram seu compromisso em continuar esforços para unificar a data da Páscoa, atualmente celebrada em momentos distintos por católicos e ortodoxos.

Visita à Mesquita Azul com respeito

O terceiro dia da viagem começou com a visita à Mesquita Azul, um dos principais pontos turísticos de Istambul e um dos templos mais representativos da cidade.

O pontífice retirou os sapatos e entrou silenciosamente no suntuoso edifício otomano do século XVII, cujo interior é revestido por azulejos de Iznik.

Acompanhado por líderes muçulmanos que explicaram a história do local, o papa permaneceu em silêncio, interrompido apenas pelo clique de câmeras e pelo som de um corvo no ambiente. Diferentemente do Papa Francisco, ele não fez orações na mesquita.

Segundo o serviço de imprensa do Vaticano, o papa fez a visita em espírito de recolhimento e reverência pelo local e pela fé de seus frequentadores.

Ao contrário de predecessores, Leão XIV não visitou Santa Sofia, antiga basílica bizantina próxima. Este templo, após longa história, voltou a ser mesquita em 2020 por decisão do presidente Recep Tayyip Erdogan, fato que deixou o Papa Francisco bastante entristecido.

Recepção e críticas

Apesar do frio e do céu nublado, dezenas de pessoas saudaram o cortejo papal com vivas na Mesquita Azul. Contudo, a rígida segurança gerou protestos da população local.

Sedat Kezer, vendedor de milho torrado, comentou apreciar o encontro entre culturas diversas, especialmente porque estrangeiros frequentemente carregam islamofobia. “Quando falamos ‘Allahu akbar’ (Deus é grande), eles se assustam”, afirmou.

Ele lamentou que o papa, para parecer mais autêntico, deveria interagir mais com o público presente, já que ninguém consegue vê-lo de forma próxima.

No dia anterior, o papa pediu união entre cristãos de diferentes confissões ao celebrar os 1.700 anos do Concílio de Niceia, evento fundamental do cristianismo que reuniu bispos do Império Romano na atual cidade de Iznik.

Embora católicos e ortodoxos estejam divididos desde o cisma de 1054, mantêm diálogos e celebrações conjuntas, apesar das diferenças teológicas.

Antes de viajar para o Líbano, onde permanecerá até terça-feira, o avião do pontífice, um Airbus 320, passou por reparos para atualizar um sistema de controle de voo vulnerável que afetava milhares dessas aeronaves, informou o Vaticano.