O esquema de fraude de cirurgias articulado por médicos e empresários de órteses e próteses revelado pela Operação Mister Hyde não descarta o envolvimento de outros hospitais, empresas e profissionais da saúde, segundo a Polícia Civil e o Ministério Público do DF. A rede faturou altas cifras, colocando em risco a vida de pacientes — até ontem, pelo menos 50 pessoas procuraram a polícia. O superfaturamento de equipamentos, a realização de cirurgias sem necessidade e o uso de produtos vencidos foram confirmados em escutas telefônicas feitas pela Divisão Especial de Repressão ao Crime Organizado (Deco). Muitas trazem sequelas irreversíveis por causa dos procedimentos realizados pela quadrilha. No fim da tarde, policiais e técnicos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) cumpriram novas buscas na TM Medical — empresa citada no escândalo.
“Minha mãe tem dores intratáveis. Essa máfia trouxe muita dor, revolta e frustração para a família. Desde que ela ficou assim, ficou depressiva. Eu estou sem trabalhar há quatro anos para cuidar dela”. O depoimento é de uma bacharel em direito de 30 anos, filha de uma paciente de 65, operada pelo médico Leandro Pretto Flores, flagrado como interlocutor de Micael Bezerra Alves em uma conversa para fraudar um procedimento. Micael é sócio da TM Medical e é apontado como articulador operacional do esquema. Ele aparece na maioria das conversas, sempre em contato com os médicos, vendedores da TM e os hospitais (Leia trechos dos áudios). Aposentada por invalidez em razão do caso, a servidora pública federal ficou paraplégica.
Um dos comportamentos adotados pela máfia, de acordo com a investigação do MP, era o de falsificar os códigos de barra das próteses. Eles colocavam nos prontuários e relatórios um código referente a um material mais caro, de maior qualidade, quando, na verdade, implantavam no paciente o mais barato. “Eles sequer falam no nome do paciente, tratam como objeto. Temos que ver até quem são esses pacientes. Essa situação, contudo, não pode depender só de denúncia. Punição, crime e norma administrativa já existem, mas falta que as autoridades responsáveis por essa regulagem atuem com mais eficiência”, cobrou o promotor de Defesa da Vida (Pró-vida) Maurício Miranda. Ele completa: “Isso é muito maior do que a gente imagina.”
O delegado adjunto da Deco, Adriano Valente, informou que as vítimas podem procurar qualquer unidade policial para prestar depoimento. “Trata-se de um esquema amplo e os investigados não são os únicos”, declarou. Até agora, 13 pessoas foram presas, sete delas médicos. No último sábado, a Justiça liberou cinco dos envolvidos. São eles os médicos Henry Campos, Leandro Flores, Rogério Gomes Damasceno e Wenner Costa Catanhêde e a empresária Mariza Martins. Eles conseguiram habeas corpus e devem responder ao processo em liberdade.
Fraudes
O médico Leandro Pretto Flores responde a outra ação na 16ª Vara Cível. Para analisar o processo de uma biópsia no cérebro, o juiz Roque Fabrício Antônio de Oliveira Viel nomeou Johnny Wesley Gonçalves Martins para o caso. Johnny é suspeito de ser o gerenciador da organização. Segundo o advogado de Leandro, Wendell Santana, a indicação não foi do cliente dele. “Em momento algum, o Leandro indicou Johnny como perito. Ele atua em neurocirurgia e tem um cadastro na Justiça como perito. O médico que responde ao processo não tem influência sobre isso. Não tem nenhuma ação, influência nem qualquer outra relação com Leandro”, ressaltou.
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