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Centro-Oeste

Por que CV e PCC não dominam o Distrito Federal, dizem especialistas

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A recente operação realizada contra membros do Comando Vermelho (CV) nos complexos do Alemão e da Penha no Rio de Janeiro levanta dúvidas sobre o alcance dessas organizações criminosas. Embora CV e Primeiro Comando da Capital (PCC) estejam presentes em todo o Brasil, inclusive no Distrito Federal (DF), estas facções não dominam o território da capital federal.

Segundo o estudo “Caracterização da atuação das facções prisionais-criminais na região Centro-Oeste” realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a presença forte e atuante do Estado no DF cria uma barreira para o domínio dessas organizações criminosas. “A estrutura estatal eficiente e a organização sob o sistema prisional da capital dificultam a consolidação dessas facções”, afirma o estudo.

Renato Araújo, especialista em segurança pública, aponta que o controle da criminalidade ocorre de maneiras variadas, especialmente por meio de políticas públicas que desarticulam as redes logísticas das facções. Ele destaca a integração entre as corporações policiais – Polícia Civil do DF (PCDF), Polícia Militar do DF (PMDF) e Polícia Penal do DF (PPDF) – como fator crucial para o sucesso no combate a esses grupos.

A colaboração e compartilhamento de inteligência entre as forças policiais do DF diferenciam a estratégia local da adotada em outros estados dominados pelas facções. Essa cooperação culminou inclusive com a disponibilização da inteligência da PCDF para apoiar investigações no Rio de Janeiro, por determinação do governador Ibaneis Rocha.

O especialista resume os fatores do sucesso em quatro pilares: coordenação efetiva entre forças; foco em lideranças e movimentações financeiras; reação rápida a situações críticas; e avaliação pública constante com ajustes estratégicos. Esses aspectos criam uma governança integrada, favorecem a gestão prisional e dificultam a expansão das facções criminais no DF.

Desde 2019, o Distrito Federal tem recebido líderes de alta periculosidade do crime organizado em sua Penitenciária Federal, como Marcos Willians Herbas Camacho, conhecido como Marcola, líder do PCC. A presença desses presos reforça a atuação das facções na capital, mas também exige monitoramento rigoroso para evitar a ampliação do controle territorial pelo crime dentro e fora dos presídios.

Um sistema ativo de fiscalização impede que ordens e comunicações ilícitas sejam transmitidas, usando ferramentas como interceptação de bilhetes e separação criteriosa de detentos conforme o perfil de risco. O modelo de gestão penitenciária do DF é considerado exemplo, contribuindo para a manutenção da ordem e segurança no ambiente carcerário.

Atualmente, o principal grupo local é o Comboio do Cão (CDC), originário do distrito. Embora ações e presença do PCC, CV e outras facções sejam registradas, a atuação deles não ultrapassa a margem lateral no DF, sem domínio efetivo.

De acordo com dados da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária do DF, no primeiro semestre de 2024, há cerca de 480 detentos ligados às grandes facções: 200 do PCC, 200 do CDC e 80 do CV, dentre mais de 15 mil presos nas unidades da capital.

Para o pesquisador Wellinton Caixeta Maciel, do Grupo Candango de Criminologia da Universidade de Brasília (UnB), a adaptação das facções para aproveitar oportunidades ainda é uma preocupação, mas a fiscalização local permanece firme e eficiente.

O Ipea destaca que a segregação social nas regiões administrativas em comparação ao Plano Piloto atua como um “cinturão de segurança” natural e que a força pública no DF tem conseguido conter a expansão criminosa graças à repressão e controle constantes, reduzindo riscos de lavagem de dinheiro, cooptação e outros crimes ligados às organizações criminosas.

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