Economia
Trump fecha acordos que beneficiam os EUA e evita retaliação tarifária

Os Estados Unidos (EUA) firmaram acordos comerciais vantajosos com grandes economias como União Europeia (UE), Japão, Reino Unido e Indonésia, além do Vietnã e das Filipinas. Esses acordos apresentam condições desiguais entre as partes envolvidas.
Washington aplicou aumentos nas tarifas de importação que variam entre 10% e 20%, enquanto os países parceiros abriram mão de impor tarifas retaliatórias.
Desde o início da guerra comercial, em abril, esses acordos ampliaram o acesso dos produtos americanos aos mercados estrangeiros. Além disso, os países comprometeram-se a aumentar investimentos e compras dos EUA em bilhões de dólares.
Nildo Ouriques, professor de economia e relações internacionais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), afirmou à Agência Brasil que esses acordos, especialmente os firmados com a Europa e o Japão, são conquistas importantes para o presidente Donald Trump.
De acordo com Ouriques, que também preside o Instituto de Estudos Latino-Americanos (IELA) da UFSC, os acordos desmentem as opiniões de que Trump estaria agindo irracionalmente com sua política tarifária ou que os EUA seriam uma potência em declínio.
“Isso reflete a rivalidade entre EUA e China, e a pressão exercida pelo imperialismo americano. As tarifas são uma forma de proteger as multinacionais que retornam a operar dentro dos EUA, já que o país tem dificuldades para competir no setor industrial com a China”, explicou Ouriques.
União Europeia
Anunciado em 27 de agosto, o acordo entre os EUA e a UE elevou as tarifas para produtos europeus a 15%, um valor inferior aos 30% inicialmente propostos pelos EUA.
Tarifas zero foram mantidas para alguns produtos estratégicos, como aeronaves, peças de aeronaves, certos produtos químicos, semicondutores e alguns medicamentos genéricos.
Em contrapartida, a UE não aplicará tarifas recíprocas, reduzindo as tarifas para produtos americanos a zero. A Europa comprometeu-se a investir US$ 600 bilhões nos EUA, incluindo a compra de equipamentos militares, e a adquirir energia dos EUA no valor de US$ 750 bilhões. Nenhum compromisso financeiro dos EUA para a UE foi divulgado.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, comemorou o acordo por evitar a escalada da guerra comercial e proporcionar previsibilidade para as empresas europeias.
Por outro lado, a França criticou o acordo. O primeiro-ministro francês, François Bayrou, classificou o dia como “sombrio” para a Europa, afirmando que a aliança de países livres estaria se submetendo.
Especialistas apontaram que a UE cedeu às pressões americanas. O analista geopolítico Arnaud Bertrand comentou que o acordo lembra tratados coloniais desiguais do século 19, com a Europa em posição de vítima.
Ouriques frisou que a Europa já se comporta como uma potência subordinada aos EUA há décadas.
Ouriques acrescentou que as tarifas americanas favorecem a concentração de capital, eliminando pequenas empresas que não suportam custos adicionais, ampliando os monopólios em ambos os continentes.
China
Segundo Ouriques, a China possui condições para resistir às pressões comerciais dos EUA, pois tem uma base industrial mais produtiva.
Após aumentos tarifários que chegaram a 145%, os EUA recuaram e firmaram um acordo temporário com a China, mantendo tarifas em 30% enquanto negociam um novo acordo. Pequim reduziu suas tarifas para 10%. Uma prorrogação da pausa tarifária por mais 90 dias foi anunciada para dar tempo às negociações.
O Brasil, por sua vez, aguarda resposta para tentativa de acordo com os EUA, enquanto a tarifa de importação de 50% deve entrar em vigor em 1º de setembro.
Japão
Na semana anterior, os EUA fecharam acordo com o Japão estabelecendo tarifas de 15%, inferior aos 24% inicialmente propostos. O Japão não aplicará tarifas recíprocas e abrirá seu mercado para carros e arroz americanos.
O Japão comprometeu-se a investir US$ 550 bilhões nos EUA, comprar 100 aviões da Boeing e aumentar investimentos em defesa de US$ 14 bilhões para US$ 17 bilhões anuais. A taxa sobre o setor automotivo japonês ficou em 15%, frente a expectativa inicial de 27,5%.
Indonésia e Filipinas
Além do acordo com o Japão, os EUA firmaram acordos com Indonésia e Filipinas.
Em 22 de julho, o acordo com a Indonésia fixou tarifa de importação em 19%, inferior aos 32% anunciados inicialmente, com compromisso desse país em comprar US$ 22,7 bilhões em produtos americanos e eliminar quase todas as barreiras tarifárias para produtos industriais, alimentícios e agrícolas dos EUA.
No caso das Filipinas, a tarifa foi fixada em 19%, com remoção de tarifas para produtos americanos entrarem no país.
Vietnã e Reino Unido
O Vietnã estabeleceu tarifa de exportação de 20%, bem abaixo dos 40% anunciados inicialmente, além de abrir seu mercado para produtos dos EUA sem tarifas.
O primeiro acordo tarifário dos EUA durante a guerra comercial foi com o Reino Unido, datado de 8 de maio, fixando tarifas de importação em 10% para produtos britânicos.

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