Zelensky busca paz estável antes de reunião de Putin com emissários dos EUA

O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, solicitou hoje uma paz estável com a Rússia antes do encontro em Moscou entre emissários dos Estados Unidos e o presidente russo, Vladimir Putin, com o objetivo de encerrar quase quatro anos de conflito.

Antes da reunião com o enviado americano Steve Witkoff e o genro de Donald Trump, Jared Kushner, Putin declarou que seu país está preparado para a guerra, caso a Europa deseje, e criticou os europeus por impedirem os esforços para finalizar os combates.

“Não planejamos uma guerra com a Europa, mas se ela decidir iniciar, estamos prontos”, afirmou Putin à imprensa.

A reunião em Moscou acontece após vários dias de negociações diplomáticas intensas que deixaram Washington otimista quanto às chances de encerrar o conflito mais violento na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

Espera-se que os delegados apresentem a Putin uma nova proposta americana para suspensão dos combates, revisada após uma versão anterior que Kiev e seus aliados europeus consideraram conter muitas concessões à Rússia.

Uma delegação ucraniana pode se encontrar com Witkoff e Kushner na quarta-feira, possivelmente em Bruxelas, segundo fonte de Kiev.

“Os Estados Unidos querem nos informar diretamente após sua reunião” com Putin, disse Zelensky durante visita à Irlanda, onde busca reforçar o apoio europeu.

Entretanto, qualquer proposta deve garantir o fim definitivo do conflito, declarou Zelensky.

“Nosso objetivo comum é acabar com a guerra, não apenas obter uma trégua”, destacou o presidente ucraniano, acrescentando: “Precisamos de uma paz justa”.

Em Bruxelas, o chefe da Otan, Mark Rutte, expressou confiança de que os esforços dos EUA “vão restaurar a paz na Europa.”

Momento delicado para Kiev

A reunião EUA-Rússia ocorre em um momento delicado para a Ucrânia.

Kiev vem enfrentando escândalos de corrupção que causaram a saída do chefe de gabinete de Zelensky.

Moscou também intensificou, nas últimas semanas, ataques com drones e mísseis contra a Ucrânia.

Zelensky afirmou que espera discutir com seu homólogo americano temas centrais, incluindo questões territoriais e sugeriu que a verdadeira intenção de Moscou nas negociações com Washington é aliviar as sanções ocidentais.

Putin ordenou o ataque militar em grande escala contra a Ucrânia em fevereiro de 2022, chamando a ação de “operação militar especial”.

Milhares de civis e militares perderam a vida desde o início da guerra, e milhões de ucranianos foram forçados a deixar seus lares.

A Europa teme que EUA e Rússia façam um acordo sem a participação do continente ou pressionem a Ucrânia a aceitar concessões injustas.

Um plano americano de 28 pontos divulgado no mês passado se alinhava às demandas russas a ponto de gerar acusações de que Moscou teria ajudado na sua elaboração, o que Washington negou.

Uma ligação telefônica divulgada pela Bloomberg mostrou que Witkoff aconselhou autoridades russas sobre como Putin deveria conversar com Donald Trump acerca do conflito.

Avanços russos

Witkoff já havia se reunido com Putin diversas vezes, mas a participação de Kushner nas conversas é inédita, segundo a imprensa americana. Kushner auxiliar nas negociações de cessar-fogo entre Israel e Hamas em Gaza no início do ano.

No campo de batalha, as tropas russas ganharam terreno significativo em novembro, com o maior avanço em um ano, conforme análise do Instituto Americano para o Estudo da Guerra (ISW).

Em um mês, a Rússia recuperou 701 km² do território ucraniano, segunda maior conquista desde novembro de 2024, quando avançou 725 km², desconsiderando os primeiros meses da guerra em 2022.

Na segunda-feira, a Rússia afirmou ter capturado a cidade de Pokrovsk, no leste da Ucrânia, importante centro logístico para Kiev, além de Vovchansk, no nordeste. Entretanto, a Ucrânia comunicou que os combates em Pokrovsk continuam.

Além disso, em novembro, a Rússia intensificou seus ataques noturnos usando mísseis e drones, lançando um total de 5.660 projéteis de longo alcance, um aumento de 2% em relação ao mês anterior.