Economia
7 de cada 10 jovens que recebiam Bolsa Família em 2014 saíram do programa
De cada dez jovens que recebiam o Bolsa Família em 2014, sete já não fazem mais parte do programa após dez anos. Esses dados refletem a “segunda geração” do Bolsa Família, que foi criado em 2003.
O estudo “Filhos do Bolsa Família: uma análise da última década do programa” foi apresentado em evento na Fundação Getulio Vargas (FGV), no Rio de Janeiro. O trabalho foi realizado pela FGV em colaboração com o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS).
A pesquisa avalia se a transferência de renda tem contribuído para romper ciclos de pobreza entre gerações. A taxa de saída dos beneficiários serve como indicador da eficiência da política pública. Quando alguém deixa o programa em um período de dez anos, isso indica um avanço na mobilidade social.
A maior taxa de saída foi observada entre os adolescentes. Dos beneficiários que tinham entre 11 e 14 anos em 2014, 68,8% saíram do programa até outubro deste ano. Entre os jovens de 15 a 17 anos, esta porcentagem chega a 71,25%.
Entre crianças de 6 a 10 anos naquela época, 55,19% já não recebem mais o benefício. Considerando todas as idades, a taxa média de saída ficou em 60,7%.
Dos jovens que tinham entre 15 e 17 anos em 2014, 52,67% não estavam mais cadastrados no CadÚnico em 2025, e 28,4% tinham emprego formal em 2023.
— Estamos em um cenário muito diferente do que há dez anos — destaca Marcelo Neri, diretor da FGV Social, ressaltando que esse período coincide com os menores níveis de pobreza e desigualdade já registrados pelo IBGE.
Para ele, a queda da desigualdade aliada à maior inclusão no mercado de trabalho, com níveis recordes de emprego, pode acelerar a mobilidade social para as próximas gerações beneficiárias.
— Nunca na história do Brasil a pobreza foi tão baixa, assim como a desigualdade. Em um país sem mobilidade social relevante, que antes levava mais de um século para se observar mudanças, o estudo traz uma visão positiva para as futuras gerações.
O relatório mostra ainda que o nível de acesso à educação e a formalização do emprego dos pais aumentam as chances de mobilidade dos filhos.
Quando o responsável pela família tem trabalho formal, a taxa de saída do programa chega a quase 80%. Já para trabalhadores autônomos ou informais, o índice varia entre 57% e 66%. Para famílias onde ninguém recebe remuneração, a saída do programa cai para 52,4%.
— Não é apenas estar empregado, mas o tipo de emprego que faz a diferença. Ter carteira assinada funciona como uma proteção contra outras vulnerabilidades — explica Valdemar Neto, pesquisador da FGV e coautor do estudo, acrescentando que melhores condições de moradia e menor pobreza também ajudam a beneficiar a saída dos jovens do programa e favorecem a mobilidade futura.


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