Economia
Onda de revisões já apontam para recuo de até 9% na economia em 2020
Monica de Bolle, pesquisadora do Peterson Institute, já trabalha com intervalo de 6% a 9% de contração para o Brasil em 2020
O cenário de imprevisibilidade gerado pela pandemia de coronavírus está fazendo com que instituições públicas e privadas revisem quase que semanalmente suas previsões sobre o Produto Interno Bruto (PIB) de 2020. A economista Monica de Bolle, pesquisadora do Peterson Institute for International Economics, nos Estados Unidos, já trabalha com um intervalo de 6% a 9% de queda, superior ao recuo de 5% esperado por ela há três semanas.
“A piora está atribuída à demora do governo em lançar mão das medidas para conter a recessão”, diz Bolle. A economista ressalta também a projeção para o PIB nos EUA é de quase 5%, “de modo que não é razoável achar que no Brasil será igual. Será, evidentemente, pior”, diz. Monica foi uma das primeiras economistas a falar em risco de recessão no Brasil neste ano.
Faz mais de dois meses que os economistas ouvidos pelo Banco Central para o Boletim Focus também pioram suas estimativas para 2020. Após nove semanas seguidas de queda, os números chegaram nesta segunda-feira, 13, a um recuo de 1,96%. O movimento reflete sobretudo a deterioração esperada na produção industrial e segue uma tendência geral de instituições privadas e públicas do mundo todo.
Outra revisão recente foi anunciada pelo Instituto Internacional de Finanças (IIF) nesta quinta-feira, 9. O instituto do Senado Federal diz que espera queda de 4,1% para o PIB deste ano e cita que a economia brasileira não havia se recuperado totalmente da recessão de 2015.
O ministro da Economia Paulo Guedes teria dito em videoconferência com senadores na sexta-feira que a queda pode ser de 4% no PIB do ano, caso a paralisação gerada pelo coronavírus se estenda para além de julho.
Na avaliação do IFI, as economias emergentes serão as mais afetadas pela recessão, com PIB da América Latina registrando queda de 5% no ano. O Instituto calcula ainda uma retração de 3,8% na atividade econômica dos EUA.
A previsão do IFI sobre o PIB brasileiro em 2020 está em linha com a divulgada no último dia 7 pelo BNP Paribas. Na ocasião, o banco disse que “Embora o bloqueio seja necessário para conter o surto, pode trazer graves consequências para o economia. Em relatório, a instituição destaca duas medidas anunciadas pelo governo como principais tanto sob o ponto de vista da relevância orçamentária quanto da necessidade.
Uma delas, que garante o pagamento mensal de R$ 600 a trabalhadores informais e autônomos por três meses “é a chave para o sucesso do bloqueio”, diz o banco. Outro programa vital, segundo ele, é o apoio financeiro para empresas que decidem manter funcionários, mas sob um regime mais flexível. De acordo com esse programa, o governo se comprometeu em pagar até 70% do valor do seguro desemprego ao qual o funcionário teria direito.
Instituições | Previsões PIB/2020 |
---|---|
Governo | 0,02% |
Banco Central | 0 |
IFI | -4.10% |
Peterson Institute | de -6% a -9% |
BNP Paribas | -4% |
UBS | -2% |
JP Morgan | -3.20% |
Goldman Sachs | -3.40% |
Citi | -1.70% |
Morgan Stanley | -3.70% |
Banco Mundial | -5% |
Santander | -2.20% |
Outras revisões
Na semana passada, o Santander divulgou revisão para o cálculo do PIB de 2020 para uma queda de 2,2%. “Dada a esperada perda de demanda e de capacidade produtiva da economia, não teremos recuperação em V (na qual a retomada é tão rápida quanto a queda), mas em U, ou seja, gradual ao longo dos próximos anos”, disse Ana Paula Vescovi, economista do Santander em teleconferência com jornalistas, nesta segunda-feira, 6.
A instituição ressalta que, nesse cenário base, o Brasil chega no fim de 2021 praticamente no nível do pré-crise (do coronavírus)”,
O UBS cortou há duas semanas sua previsão para o PIB de 2020 de 0,5% para queda de 2%. O banco embasa sua análise em um conjunto de fatores, como o fato de o Brasil apresentar crescimento fraco mesmo antes do início da pandemia, a quedas acentuadas nos dados da atividade no início de março e no agravamento das condições financeiras do país.
Esse cenário pressupõe que as restrições de mobilidade e as medidas de distanciamento social adotadas para controlar o surto começem a terminar em maio. Se isso for possível o banco acredita numa retomada na segunda metade do ano.”
Um dia antes do anúncio do UBS, o Bank of America (Bofa) passou a ver contração de 3,5% no PIB de 2020.
O banco destaca que, entre os países da América Latina, o Brasil é um dos mais sensíveis ao preço das commodities (em queda há meses, acompanhando a retração forte na demanda global) e ao mercado chinês, maior parceiro comercial brasileiro. Essa previsão também incorpora o forte impacto no consumo e no investimento, em função da paralisação parcial das atividades no país.
O Bofa cita ainda que a falta de uma resposta política eficaz para controlar a propagação do vírus nos mercados desenvolvidos e em alguns mercados emergentes levou a instituição a reduzir sua previsão para o crescimento do PIB global em 2020 de 0,3% para uma queda de 2,7%.
“Essa deve ser uma recessão consideravelmente pior do que a de 2008/09. Tanto os formuladores de políticas quanto o público em muitas economias não aprenderam a lição da China: a política mais eficaz é um bloqueio rápido e rigoroso”, diz o Bofa em relatório.
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