Brasil
Nove cidades da Região Metropolitana do RJ não têm nenhum tratamento de esgoto
Nove dos 22 municípios que compõe a Região Metropolitana do Rio de Janeiro não tratam o esgoto produzido em suas cidades. É o que aponta o Mapa da Desigualdade, estudo elaborado pela Casa Fluminense.
De acordo com o levantamento feito pela organização que debate políticas públicas no estado, as cidades de Rio Bonito, Tanguá, Guapimirim, São João de Meriti, Nilópolis, Japeri, Seropédica, Paracambi e Itaguaí não coletam e nem tratam o esgoto produzido por sua população.
Outras sete cidades da região não conseguem tratar mais que 16% do esgoto local produzido.
Na outra ponta da tabela, aparece a cidade de Niterói, com 97,7% de sua população com esgoto tratado. Esse pode ser um dos fatores que fazem os moradores da cidade terem a maior expectativa de vida entre todos os municípios da região.
Se quem nasce em Niterói vive, em média, 70 anos, quem nasce em Japeri, na Baixada Fluminense, chega até os 60 anos, em média.
A diferença pode ser ainda maior se a análise for feita considerando a cor da pele das pessoas. Nesse caso, se o morador de Japeri for negro, a expectativa de vida não ultrapassa os 50 anos.
Catlein Santos, estudante e moradora de Japeri, onde não existe tratamento de esgoto, lembra que na época da mãe dela o Rio Douro não era cheio de lixo. Atualmente, o esgoto produzido nas casas dos moradores é lançado diretamente no leito do rio.
“Minha mãe falava que esse rio aqui não tinha esgoto e não tinha esse negócio de garrafa jogada e poluição que tem agora”, lembrou Catlein.
Hercules Trigoli, também morador de Japeri, conta como funciona o sistema de esgoto local.
A Região Metropolitana conta com mais de 13 milhões de habitantes, distribuídos em 22 cidades. Dez delas formam a Baixada Fluminense, onde os moradores encontram os piores indicadores de desenvolvimento humano e social do estado, segundo o levantamento da Casa Fluminense sobre a desigualdade.
“As pessoas que vivem essa situação, os pais delas e os avós delas foram pessoas que já viveram esse processo de exclusão. O mais triste disso é quando a gente olha para o futuro e os descendentes dessas famílias vão acabar reproduzindo essa situação de exclusão social e de aumento da desigualdade”, explicou Vitor Mihessen, pesquisador da Casa Fluminense.
Em Cachoeira de Macacu, 92,79% dos moradores tem seu lixo coletado de forma seletiva. Já a capital do estado, com 44%, é a segunda cidade com maior índice de coleta seletiva na região.
Abastecimento de água
Entre os indicadores analisados para avaliar a situação do saneamento básico na região, os pesquisadores também levantaram dados sobre o abastecimento de água nos 22 municípios.
Nesse item, a região está acima da média nacional. Enquanto o Brasil conta com 83% de seus habitantes sendo atendidos por redes de água, na Região Metropolitana do Rio, essa média sobe para 91,26%.
Contudo, nem todos as cidades contam com uma distribuição uniforme. Em Maricá, por exemplo, apenas 41% dos moradores recebem água em suas casas. Em Tanguá, 51%. E em Seropédica, 68%.
O outro lado
Procurados pela equipe do G1, algumas prefeituras comentaram sobre melhorias no saneamento dos municípios. A Prefeitura de Nilópolis contestou os dados da Casa Fluminense. Já uma parte das cidades citadas nem mesmo retornou o contato feito pela reportagem.
Paracambi:
A Prefeitura de Paracambi, disse que tem capacidade para coletar 72,8% do esgoto sanitário da população urbana da cidade. Segundo eles, o município participa de um convênio para a prestação de serviços de saneamento básico com a Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae).
De acordo com as autoridades locais, o esgotamento e a distribuição de água são de responsabilidade da Cedae. Porém, a prefeitura informou que a Cedae não assumiu a manutenção e operação do sistema instalado pelo município.
“O que gera 0% de tratamento, apesar de ter o potencial instalado para captar e tratar 72,8% do esgoto da área urbana da cidade”, respondeu a prefeitura.
Nilópolis:
Em nota, a Prefeitura de Nilópolis contestou “de forma veemente” a pesquisa produzida pela Casa Fluminense. Segundo o poder público local, no perímetro de 9km² de território urbanizado, todas as ruas da cidade possuem calçamento e esgotamento sanitário regular.
“O município conta com 100% de saneamento básico, não havendo sequer ‘valas negras’, como são popularmente conhecidas as áreas de descarte irregular de esgotos domésticos”.
A prefeitura informou também que concluiu em 2018 as ligações da rede de esgoto dos domicílios.
Itaboraí:
A Prefeitura de Itaboraí esclareceu que, em parceria com o Governo do Estado do Rio de Janeiro, está trabalhando na construção de duas novas estações de tratamento de esgoto, no distrito de Cabuçu.
Segundo o poder executivo municipal, as novas estações, que estão sendo finalizadas, beneficiarão mais de 12 mil famílias nos bairros de Cabuçu, Curuzu e São José.
Guapimirim:
A Prefeitura de Guapimirim informou que não tem saneamento básico e nem estação de tratamento no município. “Atualmente utilizamos fossa filtro e possuímos um projeto, em andamento, para termos um saneamento básico com estação de tratamento para atender a todo município de Guapimirim”.
O poder executivo disse que o projeto ainda não foi concluído por falta de verba.
Duque de Caxias:
A Prefeitura de Duque de Caxias informou que a responsabilidade desses serviços é da Cedae. Ainda assim, segundo eles, o município vem realizando obras importantes de drenagem, macrodrenagem e limpeza regular de rios e outros cursos d’água nos quatro distritos.
Cedae:
A Cedae informou que não é responsável pelo esgotamento sanitário nos municípios de Japeri, Guapimirim e São João de Meriti. Em São Gonçalo, Nova Iguaçu e Magé a companhia afirmou que possui contrato.
Já nas demais cidades citadas, a Cedae disse que possui contrato de esgotamento em parceria com os municípios. A empresa também lembrou o crescimento desordenado e a ocupação irregular do solo ao longo dos anos.
“Estas questões devem ser consideradas quando se aborda o tema saneamento/infraestrutura, uma vez que áreas com índices significativos de ocupação irregular do solo, cuja fiscalização não é de responsabilidade da Cedae, impactarão na prestação do serviço e nas necessidades de investimento”, dizia a nota.
A Cedae anunciou também que nos próximos quatro anos estão previstos investimentos de R$ 5,8 bilhões no estado, o que terá impacto significativo na melhora da qualidade dos serviços prestados à população fluminense e avanço nos índices de abastecimento e esgotamento.
Com relação ao esgotamento sanitário na Baixada Fluminense, a Cedae disse que algumas obras estão em andamento, como a reforma da elevatória de esgoto Olavo Bilac, em Duque de Caxias, obras contratadas para complementação do sistema de Sarapuí e Pavuna.
Segundo a empresa, estão em fase de licitação, as obras do sistema de esgotamento sanitário da Bacia do Caonze de Sarapuí e a recuperação da rede e reforma do sistema de esgotamento sanitário do Lote XV, visando ampliar a coleta e o tratamento de esgotos na região.
Outros
Até a última atualização desta reportagem, os municípios de Rio Bonito, Tanguá, São João de Meriti, Japeri, Seropédica, Itaguaí, Queimados e São Gonçalo não responderam os questionamentos feitos pelo G1.
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