A data exata do aniversário dos 15 anos, comemorada nesta segunda-feira, 20, tem uma raiz um pouco diferente de outros países em que o Google se estabeleceu: marca a data da compra da startup mineira Akwan, responsável pelo sistema de buscas TodoBR em 2005. A aquisição da empresa, criada por pesquisadores da UFMG, deu origem ao único centro de engenharia latino da gigante.
Hoje, é da capital mineira que acontecem algumas das principais mudanças no algoritmo de busca do Google. “Logo no início, em 2006, nós ajudamos o algoritmo a conseguir entregar resultados com termos locais para buscas gerais, como “mp3″, por exemplo”, conta Bruno Possas, veterano da Akwan que hoje ocupa o cargo de diretor sênior de engenharia.
Outro exemplo é a ferramenta que permite acompanhar partidas esportivas pela busca – influência da paixão da equipe local pelo futebol. Para Possas, a presença do escritório pode ajudar a empresa a se tornar menos americana e mais global. “Por mais que a nossa formação técnica seja igual à de alguém dos EUA, a cultura não é, e isso amplia a diversidade do produto”, diz. “E isso ajuda no aspecto democrático da internet, algo de que o sucesso do Google depende.”
Efeito duplo
Segundo dados divulgados pela própria companhia na semana passada, o impacto econômico gerado por sua atuação no País no ano passado foi de R$ 51 bilhões. Na visão de Marcelo Lacerda, diretor de relações governamentais e políticas pública da empresa, o desafio da companhia nos próximos anos por aqui é “contribuir ainda mais com as nossas ferramentas”.
O número, na verdade, parece quase irrisório, considerando o tamanho da companhia por aqui – e que, lá fora, essa superpresença do Google já foi considerada até como concorrência desleal por regiões como a União Europeia. A presença de apps da gigante pré-instalados nos celulares que usam o Android foi alvo de ações no Velho Continente – enquanto a companhia se defende dizendo que o sistema ajudou a criar mais competição, e não menos. O tema segue em discussão nos tribunais, mas é paradigmático sobre o poder da empresa.
Para Cerdeira, a posição da companhia é bastante singular no que diz respeito à regulação. “Hoje, uma mudança regulatória que afete a empresa pode atrapalhar a prestação de serviços essenciais, e isso afeta tanto o Google como a sociedade, em custos financeiros e até de direitos”, afirma o conselheiro do Cesar. Até por causa disso, avalia o pesquisador, a empresa tem um papel importante na construção da legislação brasileira de internet – como fez com o Marco Civil e a Lei Geral de Proteção de Dados.
E agora faz na chamada “lei das fake news”, discutida no Congresso Nacional e vista por especialistas em direitos digitais como um retrocesso. “Regular faz parte do debate, não é algo a que somos contrários”, diz Lacerda. “Buscamos sempre contribuir, mostrando, por exemplo, que a desinformação não possui uma solução definitiva, e decisões que possam ser tomadas de boa intenção acabem afetando a internet livre e aberta.”
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