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Negociações de cessar-fogo entre Israel e Hamas estão paralisadas; veja pontos de divergência

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Diálogo segue estagnado pela desconfiança mútua; conversas devem ser retomadas hoje

Poucos dias antes do Ramadã, mês sagrado para os muçulmanos e que tem início neste domingo, as negociações de uma segunda trégua entre Israel e o grupo terrorista Hamas estagnaram. O diálogo, que será retomado no domingo, está paralisado pela desconfiança. Autoridades israelenses não enviaram uma delegação para as conversas sobre o cessar-fogo em Gaza, realizadas no Cairo nesta semana, porque suas exigências não foram atendidas. Já o Hamas quer garantias de que a trégua se tornará permanente — algo que Israel rejeita — e teme assinar um acordo que possa desmoronar após a entrega dos primeiros reféns.

O governo israelense afirmou que não enviou representantes para a capital do Egito porque o Hamas não forneceu uma lista com os sequestrados que estão sob sua custódia, vivos e mortos, além da proporção de prisioneiros palestinos que deveriam deixar as prisões israelenses por cada refém liberado no acordo. Israel calcula que 130 das 250 pessoas detidas pelo grupo fundamentalista em 7 de outubro continuem em cativeiro no enclave palestino, e que pelo menos 31 deles tenham morrido. Na terça-feira, um porta-voz do Hamas disse à AFP não saber quantos reféns estão vivos ou mortos, uma vez que eles foram presos por “inúmeros grupos em vários locais”.

Os pontos básicos da primeira fase de negociação estão claros: devem ser seis semanas de cessar-fogo para trocar 40 (dos mais de 130) reféns em Gaza pela libertação de 400 prisioneiros palestinos e um aumento na ajuda humanitária no enclave. Segundo o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, Israel aceita este acordo. O chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, instou o Hamas a concordar com o plano de interromper os combates e permitir a entrada de suprimentos no território. Por outro lado, um alto funcionário do grupo, Sami Abu Zuhri, culpou Israel por “frustrar” os esforços de negociação ao se recusar encerrar a ofensiva, retirar suas forças e garantir a livre entrada de ajuda.

Entenda, abaixo, as principais divergências que impedem o acordo:

Cessar-fogo temporário ou fim da guerra

Ao deixar o Cairo nesta quinta-feira, os líderes do Hamas reclamavam que as negociações estavam focadas apenas na primeira fase: a libertação dos 40 reféns. Os integrantes do grupo gostariam de passar para uma segunda fase quando as partes concordassem, por meio dos mediadores, com os “requisitos necessários” para encerrar a guerra de forma definitiva. Nesta etapa, o Hamas entregaria o restante dos reféns vivos e as dezenas de cadáveres em troca da retirada completa do Exército de Israel da Faixa. O governo israelense rejeita a ideia com medo de que a pressão internacional o impeça de uma nova invasão no enclave — o que significa não cumprir seu objetivo de exterminar o grupo terrorista.

— O Hamas está procurando as maiores garantias em troca da libertação [dos reféns], porque quando os libertar, não terá mais como pressionar Israel — diz Mabel González Bustelo, especialista em mediação internacional e resolução de conflitos do Instituto de Estudos sobre Conflitos e Ação Humanitária (Iceah). — As negociações de cessar-fogo são muito difíceis, quase tanto quanto as do final de uma guerra.

Uma fonte do Hamas citada pela emissora al-Mayadeen culpou o impasse pela “insistência da parte israelense em não fornecer respostas claras”. O oposto acontece com Israel, que não acredita na afirmação de que o grupo terrorista não sabe quantos reféns estão vivos. Avi Issajarof, comentarista de assuntos militares do jornal israelense Yediot Aharonot, acredita que o líder oculto do Hamas em Gaza, Yahia Sinwar, está “apostando tudo” para que, se Israel não aceitar o fim da guerra (algo que o Hamas apresentaria como uma vitória), o mês do Ramadã “marque uma mudança”, com o início de uma intifada em massa à qual se juntem os palestinos da Cisjordânia ou cidadãos israelenses.

Na quinta-feira, o ministro do Interior de Israel, Moshe Arbel, e o chefe da agência de inteligência de Israel (Shin Bet), Ronen Bar, se reuniram com autoridades da comunidade árabe-israelense. O ministro reconheceu que têm um “desafio” pela frente.

Retorno dos palestinos ao norte

O Hamas concentra inicialmente suas demandas em cinco pontos: troca de reféns por prisioneiros, cessar-fogo, retirada das tropas e fim do cerco, entrada ilimitada de ajuda humanitária e retorno dos deslocados a seus locais de residência, explicou um de seus membros, Mahmud Mardawi, à agência palestina Quds News. O último ponto acabou se tornando um dos principais obstáculos. O Hamas exige que parte dos milhares de residentes no norte de Gaza, deslocados para o sul no início da guerra, possam retornar para ver o estado de suas casas — a maioria delas está danificada ou destruída.

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O Exército israelense, por sua vez, teme que isso signifique a reorganização dos batalhões do Hamas no norte, que, em sua própria linguagem, já foram “limpos”. De fato, poucas coisas causam mais comoção em Israel do que os pontuais disparos de foguetes de áreas das quais as tropas se retiraram ou o vídeo que mostrava os reféns saindo do subterrâneo (para a primeira troca) em uma área já vasculhada.

O Hamas pede 500 famílias por dia de cessar-fogo, segundo a televisão saudita al-Arabiya. Israel não descarta a ideia, mas quer apenas mulheres e crianças. Uma fórmula a ser considerada é incluir também homens de idade avançada, ou seja, que não estejam em idade de combate.

Prisioneiros com ‘sangue nas mãos’

Segundo fontes a par do diálogo citadas pelo jornal israelense Haaretz, o Hamas exige na primeira fase a libertação de 100 prisioneiros “com sangue nas mãos”, como são chamados no país aqueles que mataram israelenses por motivos nacionalistas. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, vem usando uma fórmula ambígua ao afirmar que não libertará “centenas de terroristas” em troca dos reféns.

O Hamas pede o prisioneiro mais famoso: Marwan Barghouti, com cinco prisões perpétuas e atrás das grades desde 2002. Consciente de sua fraqueza no campo de batalha, o Movimento de Resistência Islâmica (o nome completo do Hamas) quer tirar proveito do que é o maior número de reféns já capturados na história de Israel: mais de 240. O grupo sabe que, uma vez entregues, terá perdido sua principal arma para exigir o fim do conflito.

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