Centro-Oeste
Roubo de cargas: um crime milionário que ronda as divisas do DF
A recente operação da prendeu duas pessoas com 358 televisores em Ceilândia reforça a preocupação das forças de segurança. Bandidos levaram a mercadoria em uma rodovia de Minas Gerais e queriam revendê-la no DF
Ocupando 16% de todas as rodovias estaduais, federais e municipais, Minas Gerais tem a maior malha viária do país. A extensa quilometragem das estradas (272.062,90 km) implantadas para o transporte de produtos e passageiros contrapõe um problema antigo, mas recorrente no estado: o roubo de cargas. Entre janeiro e fevereiro, Minas registrou 114 crimes dessa natureza, segundo dados obtidos com exclusividade pelo Correio por meio da Federação das Empresas de Transportes de Cargas de MG (Fetcemg). Na cidade de Grão Mogol, no Norte de Minas, uma carga milionária de 358 televisores foi roubada e foi trazido para Ceilândia. Após denúncias anônimas, policiais militares do DF encontraram o caminhão em frente a uma casa, na QNN 21, e prenderam dois autores por receptação.
O motorista foi colocado na parte de trás da cabine e teve o rosto coberto com uma toalha. Um dos criminosos assumiu a direção do caminhão e dirigiu por 20 minutos. Em relato, a vítima disse que o grupo levou cerca de 40 minutos para fazer o transbordo da carga. Após notar que não havia mais ninguém no local, ele saiu da cabine e caminhou até a rodovia para pedir ajuda, quando encontrou um caminhoneiro que passava na estrada.
Transporte
O Correio apurou que, de Minas Gerais, a carga milionária foi levada a Bom Jesus da Lapa (BA). Na 15ª Delegacia de Polícia (Ceilândia Centro), um caminhoneiro da Bahia contou que recebeu uma mensagem em 12 de maio de Adalto de Oliveira Junior, perguntando se ele se interessava em levar os televisores para Brasília. Em troca, receberia de R$ 500 a R$ 1 mil pelo frete. O homem aceitou o serviço, mas não desconfiou que a mercadoria era ilícita.
A carga chegou ao DF na manhã de terça-feira e foi descarregada em uma casa de propriedade de Hebert Chaves Pereira. O segundo-tenente da PMDF Wesley, responsável pela operação, conta que a equipe recebeu uma denúncia anônima sobre o descarregamento. “Ao chegarmos no local, os televisores estavam dentro da residência. Posteriormente, descobrimos que era uma carga roubada em Minas. O caminhão veio escoltado por uma Hilux, que estava estacionada em frente à casa. No carro, encontramos dois rádios comunicadores, sete munições, além de um simulacro de arma de fogo e R$ 40 mil”, afirmou o militar.
Em depoimento, Adalto disse que mora em Riacho de Santana (BA) e que o dono de uma casa de pesca da cidade baiana lhe ofereceu algumas televisões que seriam do Paraguai. O lucro de cada TV vendida seria de R$ 800 para aquelas de 43 polegadas, e R$ 1 mil para as de 50, afirmou. Após isso, ele entrou em contato com Hebert e sugeriu que ele vendesse os equipamentos, em troca de metade do lucro. Adalto e Hebert permanecem presos.
“A ocorrência foi feita aqui na 15ª DP durante o plantão. Logo, colhemos o depoimento de todos os envolvidos e os dois autores foram indiciados por receptação e posse irregular de munição”, destacou o delegado Walber Lima, adjunto da 15ª DP.
Ao Correio, a advogada Cynthia Jennipher Ribeiro, que representa a defesa de Adalto, afirmou que todos os pontos do processo serão, em tempo oportuno, esclarecidos. “Cabe ressaltar que o acusado nega todos os fatos a ele imputados, afirma que é empresário, tem uma empresa de internet residencial e uma empresa de venda de celulares e acessórios, tudo dentro da conformidade e da lei. Inclusive, não tem nenhum tipo de antecedente criminal. Adalto não tinha conhecimento que tratavam-se de produtos ilícitos e ainda esclarece que os demais itens apreendidos no dia da abordagem foram, inclusive, liberados na delegacia, pois, veículos, celulares e valores em dinheiro tinham comprovação de propriedade”, afirmou. A reportagem entrou em contato com a defesa de Hebert, mas até o fechamento desta edição não obteve retorno.
Malha viária
A região onde ocorreu o roubo da carga em Minas Gerais é cortada pela BR-251, que liga a cidade de Montes Claros ao município de Cachoeira do Pajeú, e está entre as 10 rodovias com maior índice de roubos de cargas, afirmou o assessor de segurança da Fetcemg, Ivanildo Santos. O motivo, segundo ele, se deve à proximidade da Bahia, o que facilita a ação de quadrilhas baianas.
Em MG, foram registrados 114 roubos de cargas entre janeiro e fevereiro deste ano. No mesmo período do ano passado, foram 112. De acordo com o assessor, os principais produtos alvos dos assaltantes são cargas fracionadas que englobam o e-commerce, produtos alimentícios, eletrônicos, cigarros, medicamentos, produtos siderúrgicos e placas fotovoltaicas. Quanto ao prejuízo, baseado na estimativa de 2023, o roubo de carga nos dois primeiros meses do ano levou a um rombo no estado em mais de R$ 15 milhões.
“Hoje, as quadrilhas, além de utilizar o modus operandi de abordagem, também investem no aliciamento de motoristas para facilitar o roubo da carga, entregando o veículo e a carga para a quadrilha, em troca de uma quantia em dinheiro. Elas têm investido também na utilização de clonagem de divulgação de ofertas de cargas por empresas de transportes, para atrair motoristas por meio de aplicativo de frete oferecendo valores acima do mercado para motoristas, para atraí-lo muitas vezes para roubar seu veículo ou até mesmo para carregar em nome de outra empresa e sumir com a carga”, frisou o assessor.
Ivanildo alerta, ainda, para o impacto que o roubo de carga traz nas operações das transportadoras. Entre eles, o aumento dos valores do prêmio por parte das companhias de seguros, mais exigências e mais investimento em tecnologias.
Ocorrências
No DF, a realidade é diferente. O delegado Tiago Carvalho, diretor da Divisão de Roubos e Furtos da PCDF, afirma que, além das operações policiais, o avanço das técnicas de comércio e as medidas de segurança têm inibido a ação de criminosos para delitos desse porte. “Os pequenos transportadores são os alvos de assaltantes na capital. São pequenas cargas que saem, geralmente, do Entorno do DF, principalmente na região do Porto Seco, em Santa Maria”, explicou.
“Se tem roubo de carga, tem quem compre. No caso, o comerciante que adquire esse produto de crime quer um preço menor. Vale ressaltar que a receptação também é crime”, frisou o investigador. Este ano, a capital registrou oito ocorrências dessa natureza.
Em setembro de 2023, o delegado Tiago junto às equipes desencadearam a segunda fase da operação Carga Segura, que prendeu dois homens. As investigações se intensificaram após o roubo de uma carga de bebidas alcoólicas, avaliada em aproximadamente R$ 122 mil, na região conhecida como Polo JK, na divisa entre o Distrito Federal e Goiás. De acordo com a apuração policial, os criminosos revenderam a carga para distribuidoras de bebidas em Goiás, nas cidades do Entorno do DF.
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