Centro-Oeste
Um espaço para celebrar o legado de Athos Bulcão em Brasília
Audiência pública convocada pela Secretaria de Cultura, ontem, foi o primeiro passo para a construção de um espaço à fundação que cuida do legado do artista plástico. O pleito é reivindicado por grupos da comunidade há anos
A possível construção de uma sede para a Fundação Athos Bulcão (FundAthos) — reivindicação de diversos setores da sociedade do Distrito Federal, há pelo menos 15 anos — está mais próxima de se tornar realidade. Ontem, numa audiência pública convocada pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec) do DF, foi debatida a concessão de uso de um lote para essa finalidade. A área fica no Setor de Difusão Cultural (SDC) e poderá ser destinada à instituição que, desde 1992, preserva e divulga a obra do artista símbolo de Brasília.
O Secretário de Cultura, Cláudio Abrantes, considerou que o encontro foi positivo. “A audiência pública atendeu a possíveis questionamentos que poderiam haver sobre a legitimidade do pleito”, avaliou. Ele lembrou que a audiência foi uma recomendação da Procuradoria-Geral do DF (PGDF).
Abrantes disse ao Correio que o próximo passo é a elaboração de uma uma lei que permita a concessão do lote para a FundAthos. “A partir dos documentos que temos, devemos elaborar uma minuta, submetê-la (tanto) ao GDF, junto à sua assessoria jurídica, (quanto) à PGDF, e fazer o encaminhamento à Câmara Legislativa (CLDF). Aprovada a lei (para concessão da área), o processo vai a chamamento público por inexigibilidade (quando não é viável ou necessário um processo licitatório) da Fundação Athos Bulcão. A instituição manifestará seu interesse formal — dentro de uma lei específica — para a firmar o contrato de concessão de uso”, explicou.
Otimismo
A audiência, no Museu Nacional, é o primeiro passo para que a nova sede — que tem projeto assinado pelo arquiteto João Filgueiras, mais conhecido como Lelé — possa sair do papel. A área sob análise no SDC, especificamente na região do Eixo Cultural Ibero-Americano, no Eixo Monumental, fica próxima à Sala Cássia Eller.
No encontro, além de Abrantes, participaram a secretária executiva da FundAthos, Valéria Cabral; o secretário de Relações Internacionais, Paco Brito; o presidente do Arquivo Público do DF, Adalberto Scigliano; o presidente do Conselho de Arquitetura do DF, Ricardo Meira; e a deputada federal pelo DF, Erika Kokay (PT).
“A audiência foi muito bem sucedida, e o que eu espero, mesmo, é que a gente continue e que tudo se resolva. Como o secretário disse, são muitos passos. Espero, realmente, que a luta continue e que a gente lute pelo bom combate, que será o terreno para construir a sede da fundação”, comemorou Valéria Cabral. Ela diz ver a possível construção da sede como uma retribuição da cidade ao trabalho que Athos desenvolveu nos 50 anos que viveu em Brasília.
Abrantes explicou que a Secec optou pela modalidade de concessão de uso no lugar de doação para facilitar o processo à FundAthos. O titular da 1ª Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente e Patrimônio Cultural (Prodema), Roberto Carlos Batista, por sua vez, que também esteve no encontro, disse que, do ponto de vista jurídico, o Estado tem critérios para doações. E, segundo ele, pelo fato de a fundação ter natureza privada, a concessão é viável e com menos complicações.
Concordância
O apoio à concessão teve unanimidade na audiência. O vice-presidente da Fecomércio-DF, Luís Otávio Neves, declarou: “Sabemos da importância de Athos para o turismo, e Brasília deve muito a ele. Como Niemeyer e Burle Marx, Athos Bulcão tem papel fundamental para a construção da cidade”.
“Nós, parlamentares, devemos estar vendo formas de disponibilizar emendas para que a construção da sede da fundação se transforme em realidade. Essa cidade vai homenagear a ela mesma homenageando Athos Bulcão”, acrescentou a deputada Érika Kokay.
O presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) do DF, Ricardo Meira, classificou Athos como “o artista mais arquiteto que Brasília tem”. “Quando a gente fala de arte num país como o nosso — muito rico mas desigual — ter a democratização do acesso à arte, por meio de Athos, se torna emblemático. Como presidente do CAU-DF, não tenho como não defender essa iniciativa de defesa do patrimônio de Brasília”, frisou.
Projeto
O projeto arquitetônico da nova sede da FundAthos é de João Filgueiras, que trabalhou com Bulcão em diversas ocasiões. Haroldo Pinheiro, que colaborou com a dupla e é responsável pelas plantas deixadas por Lelé — falecido em 2014 — comentou que algumas adaptações serão necessárias. “Houve mudança de legislação do código de obras. Então, pequenos ajustes serão necessários, mas não alteram em nada o corpo principal do edifício projetado por Lelé”, explicou.
O presidente do escritório local do Instituto Arquitetos do Brasil (IAB-DF), Luiz Eduardo Sarmento, destacou a importância do local para a atuação da fundação. “Penso que esse reencontro entre Lelé e Athos é algo que a população brasileira merece, na capital do país, porque isso vai dar potência a muitas ações que já são feitas em torno da obra de Athos a partir da fundação”, considerou.
Já a filha de Lelé, Adriana Filgueiras, afirmou: “Foi uma vitória tardia, mas uma vitória. Agora vamos construir o projeto do meu pai”.
Frases destaques
“A audiência pública atendeu a possíveis questionamentos que poderiam haver sobre a legitimidade do pleito”
Cláudio Abrantes, titular da Secec
“Espero realmente que a luta continue e que a gente lute pelo bom combate, que será o terreno para construir a sede da fundação”
Valéria Cabral, secretária executiva da FundAthos
“Não é simplesmente por que é o Athos. É porque as obras públicas desse artista são tombadas pelo Patrimônio Cultural do DF, portanto protegidas pelo MP”
Roberto Carlos Batista, titular da Prodema
“Sabemos a importância de Athos para o turismo e Brasília deve muito a ele. Como Niemeyer e Burle Marx, Athos Bulcão tem papel fundamental”
Luís Otávio Neves, vice-presidente da Fecomércio
“Devemos estar vendo formas de disponibilizar emendas para que a construção da sede da fundação se transforme em realidade”
Érika Kokay, deputada federal (PT-DF)
“Quando a gente fala de arte num país como o nosso, muito rico mas desigual, ter a democratização do acesso à arte por meio de Athos se torna emblemático”.
Ricardo Meira, presidente do CAU
“Pequenos ajustes foram necessários serem feitos, que não alteram em nada o corpo principal do edifício projetado por Lelé”
Haroldo Pinheiro, arquiteto e urbanista
“Penso que esse reencontro entre Lelé e Athos é algo que a população brasileira merece na capital do país”
Luiz Sarmento, presidente do IAB-DF
“Foi uma vitória tardia, mas uma vitória. Agora vamos construir o projeto do meu pai”
Adriana Filgueiras, filha do arquiteto João Filgueiras
Você precisa estar logado para postar um comentário Login