Centro-Oeste
CNU: capital com mais inscritos, Brasília tem disputa acirrada por vagas
Distrito Federal teve o maior número de inscritos do país, e a menor abstenção. Polícia Militar não registrou ocorrências graves e os candidatos puderam realizar a prova com tranquilidade, apesar da expectativa pela aprovação
Brasília foi a capital com o maior número de incritos no inédito Concurso Público Nacional Unificado (CPNU), considerado o maior certame do país, aplicado ontem em todo o Brasil. Segundo o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) foram 200 mil concorrentes no Distrito Federal, divididos em 268 salas.
Em coletiva de imprensa realizada na noite de ontem, no edifício-sede da Dataprev em Brasília, a ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, destacou que 1 milhão de pessoas participaram da prova do CPNU em todo o país.
Até o fechamento desta edição, o ministério não havia divulgado os dados consolidados, mas informações preliminares indicam que o Distrito Federal registrou a menor taxa de abstenção, enquanto o Ceará apresentou a maior. “O índice do Distrito Federal foi significativamente baixo. Nossa principal preocupação era garantir que todos estivessem, no máximo, a 100 km da cidade onde fariam a prova”, explicou a ministra.
Segundo a Polícia Militar (PMDF), a aplicação da prova foi tranquila. A corporação registrou o desmaio de um candidato no câmpus do Gama do Instituto Federal de Brasília, atendido pelo Serviço Móvel de Urgência (Samu). Já na escola SEB da 914 Sul, uma candidata chegou atrasada e tentou forçar a entrada após o fechamento dos portões. Por último, a PMDF foi acionada pelo coordenador de provas do CEF 10, em Ceilândia, por conta de som alto nas proximidades da escola. O dono do som abaixou o volume após a solicitação dos policiais militares.
Para que os candidatos não enfrentassem obstáculos no deslocamento ao local de provas, a Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob) determinou que as empresas operassem as linhas com programação de viagens de dias úteis, observando os horários das atividades do certame, desde a chegada da equipe de coordenação aos locais de realização das provas até o término.
Empenhados
Concurseira e formada em gestão pública e comunicação, Ana Carolina Moraes, 40, é portadora de deficiência auditiva e deixou a sala onde realizou a primeira parte da prova com altas expectativas. “A primeira parte foi muito tranquila e eu acho que, para uma mulher surda como eu, consegui desenvolver bem as questões e o tema da redação. Eu vejo esse ‘Enem dos Concursos’ como uma oportunidade de inclusão, também, mas acredito que, para a próxima edição, é necessário que abram mais vagas às Pessoas com Deficiência (PcD)”, declarou.
O concurso reserva 5% das vagas para pessoas com deficiência (PcD), conforme estabelecido nos editais de cada um dos oito blocos temáticos. A moradora do Guará disse, ainda, que se preparou para a prova desde que o edital foi lançado e contou que fez sessões de estudos na Biblioteca Nacional, além de buscar conteúdos na internet. Ela não solicitou atendimento especializado durante a prova.
O estudante de curso técnico de enfermagem Cláudio Marques da Silva, 52 anos, acordou empolgado para concorrer a uma das 6.640 vagas. Ao Correio, confessou que saiu da Estrutural bem cedo para não correr o risco de se atrasar. Inscrito no bloco 8, categoria que exige apenas o ensino médio, destacou que sabia a dimensão da concorrência e, por isso, estudou o suficiente para se sentir confiante. Ao término da primeira parte da prova, feita no Uniceub, ele declarou, com vigor na fala, que sairia vitorioso do local, pois considerou que a prova estava menos difícil do que imaginava. O bloco em que Ana Carolina e Carlos se inscreveram foi o que registrou maior número de interessados: são mais de 694 mil pessoas concorrendo a 692 vagas.
Andrea Domanico, 59, saiu de casa bem preparada para ir ao local de prova. Levou uma bolsa com água e marmitas para não precisar voltar para a residência no horário do intervalo. Moradora do Sudoeste, chegou às 7h e, apesar de ter mergulhado nos estudos, estava nervosa com a possibilidade de encontrar surpresas no conteúdo. Ela concorre às vagas do bloco 5, que abordou questões de Educação, Saúde, Desenvolvimento Social e Direitos Humanos. Diferentemente dos demais entrevistados, classificou a prova como difícil.
Grávida de sete meses, a carioca Luíza Castro, 34, moradora da Asa Sul, não hesitou em fazer a prova, mesmo com o barrigão. Ela compartilhou que durante a realização do certame, na UDF, a exaustão foi sentida com intensidade, mas que utilizou bem a pausa entre as provas para aliviar o cansaço. Profissional da área da tecnologia, realizou o exame do bloco 2, de Dados, Tecnologia e Informação, e considerou a prova justa, pois, segundo ela, não havia “pegadinhas”. Apesar de ser servidora pública, ela acredita que passar na vaga que almeja acrescentaria muitas coisas em sua vida.
O casal de engenheiros Camila Lopes, 45, e Gustavo Lopes, 48, fez a prova na UDF. Eles se inscreveram para o bloco 6, de Setores Econômicos e Regulação, e definiram prontamente que a prova foi exatamente como esperavam: difícil. Os dois trabalham na área, mas apontaram que suas vidas mudarão completamente, caso passem para as vagas desejadas. Pais de três crianças, listaram que a rotina, a disponibilidade para os pequenos e o orçamento certamente melhorariam.
Comércio
Nos locais de aplicação da prova, a expectativa não era sentida somente por quem pegaria na caneta para fazer o certame. Ao longo do dia de prova, diversos vendedores ambulantes, nos arredores da faculdade, ofereceram café da manhã, balas, sucos e até almoço. Abimael Souza, 32, comanda com a mãe uma lanchonete ambulante que serve lanches e bebidas. Ele contou que tem o costume de mapear lugares onde exames serão realizados para ir em busca das vendas.
Ontem, posicionaram a barraca em frente ao portão principal do Uniceub logo cedo e, à tarde, foram embora felizes para casa. “Nós esperávamos muitos clientes. De manhã vendemos café da manhã e depois começamos a preparar o almoço. Nós atendemos quase 100 pessoas, as expectativas foram ultrapassadas, na verdade”, declarou.
Ao lado do ponto de Abimael, Deocleciano dos Santos Soares, 44, estacionou um carrinho que, com pipocas salgadas e coloridas, chamavam atenção dos candidatos. O empreendedor também costuma ter os locais de aplicação de prova como destino. No caso dele, porém, as vendas são maiores quando o sinal final toca e as provas são recolhidas. “O pessoal sai da sala mais tranquilo, à procura de uma pipoca doce para melhorar o humor”, brincou.
Sala de situação
Durante a aplicação das provas, o MGI monitorou a organização do concurso por uma “sala de situação”, localizada no edifício-sede da Dataprev, no centro da capital. Pela manhã, o local recebeu a visita de várias autoridades, além da ministra Esther Dweck. O presidente Lula fez uma rápida visita e celebrou o bom andamento das provas, além de destacar que não houve nenhum vazamento.
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