Mundo
Trump, ultradireita na Europa e acordo fraco em Baku ameaçam COP30 em Belém
Brasil assume a presidência da próxima cúpula do clima pressionado pela conjuntura geopolítica e por pacto pífio de financiamento de ações climáticas
A recente vitória de Donald Trump nos Estados Unidos, o risco de crescimento da ultradireita na Europa e os resultados fracos do acordo de financiamento climático fechado na COP29, em Baku, no Azerbaijão, ameaçam o sucesso da COP30, que será realizada em Belém, no Pará, no fim do ano que vem.
A cúpula do clima de Belém tem três objetivos principais: fazer um grande balanço dos 10 anos do Acordo de Paris; rever as metas climáticas de quase 200 países; e definir objetivos ainda mais ambiciosos para garantir que o aquecimento do planeta não ultrapasse o 1.5°C, em média, em relação aos registros de antes da era industrial.
Essas negociações jamais seriam simples, mas a situação ficou ainda mais difícil com os últimos desenvolvimentos geopolíticos e com os resultados de Baku.
A própria ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, reconheceu o tamanho das dificuldades e do desafio ao receber do Azerbaijão, simbolicamente, a presidência da COP.
“É com grande senso de responsabilidade e cientes do enorme desafio coletivo que nos está sendo entregue, que o Brasil recebe do Azerbaijão a presidência designada da Conferência das Partes. Sabemos como chegamos até aqui e sabemos dos desafios que estão postos aqui para cada um de nós”, afirmou a ministra.
Ameaça ao clima
Em entrevista exclusiva à CNN Brasil, concedida em Baku pouco antes do fim da COP, Marina Silva reconheceu a ameaça para o sistema criada com a eleição de Trump.
O presidente eleito ameaça retirar os Estados Unidos mais uma vez do Acordo de Paris, o principal tratado global do clima.
Uma medida como essa traria grande prejuízo ao sistema, já que os Estados Unidos deixariam de ajudar financeiramente com as ações climáticas globais e também passariam a emitir ainda mais gases de efeito estufa.
Além disso, as atitudes de Trump poderiam estimular outros países a também deixar de fazer sua parte nessa luta.
Outra dificuldade é o crescimento da ultradireita em vários países europeus, inclusive na França e na Alemanha.
Em geral céticos com relação às mudanças climáticas, os populistas de direita europeus criam muitas dificuldades para a União Europeia assumir os compromissos necessários, inclusive do ponto de vista financeiro, com relação ao clima.
Isso ficou patente nos momentos finais da COP29, em Baku, quando os europeus se recusaram a melhorar as ofertas de financiamento que estavam na mesa.
Para fazer frente a essas dificuldades, Marina Silva disse que era muito importante um bom acordo em Baku: “obviamente que cada um de nós, a China, a União Europeia, o Brasil, a África do Sul, os países que sabem o que está acontecendo no mundo agora, sobretudo no contexto de [fortalecimento de] uma visão negacionista que ameaça sair do Acordo de Paris, como é o caso do futuro governo dos Estados Unidos, é fundamental que a gente saia daqui unidos em torno do objetivo” de combater as mudanças climáticas.
O esforço, no entanto, falhou.
Dada a resistência dos países desenvolvidos, a COP de Baku chegou a um acordo muito fraco do ponto de vista de financiamento.
Os países ricos aceitaram oferecer, através de verbas públicas, privadas e multilaterais, no máximo US$ 300 bilhões por ano em ações climáticas para o mundo em desenvolvimento.
Seriam necessários, no entanto, pelo menos US$ 1.3 trilhão por ano. Além disso, até hoje os ricos não conseguiram sequer chegar aos US$ 100 bilhões por ano anteriormente prometidos.
Pior ainda: não ficou claro quem deve fazer os pagamentos para atingir os US$ 300 bilhões e nem quem vai fiscalizar esse processo para se ter transparência do que está de fato sendo implementado.
Como já aconteceu em outras COPs, a responsabilidade foi simplesmente transferida para a próxima cúpula.
O texto da COP29 fala, por exemplo, em um “roteiro de Baku a Belém para chegar a US$ 1,3 trilhão” em financiamento para os países em desenvolvimento.
Ou seja, a batata quente ficará com o Brasil – que terá que usar de muita diplomacia e convencimento para tentar salvar o sistema global de combate às mudanças climáticas.
Você precisa estar logado para postar um comentário Login