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Extensão da pista do aeroporto de Ubatuba pode ter contribuído para o acidente

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Aeronave tentou aterrissar no sentido do mar, onde o comprimento seria mais curto; segundo funcionários, aeródromo não tem direção preferencial

A pista do aeroporto de Ubatuba onde um avião caiu nesta quinta-feira, 9, não teria extensão suficiente, no sentido escolhido pelo piloto, para o pouso do modelo envolvido no acidente, de acordo com dados da Força Aérea Brasileira (FAB) e especificações da fabricante.

O tamanho total da única pista do aeroporto é de 940 metros. Um relatório do Departamento de Controle do Espaço Aéreo, porém, aponta que, no sentido escolhido para a aterrissagem, os 380 metros iniciais estavam indisponíveis devido a um aclive no trecho.

Restariam, portanto, 560 metros para a manobra, que ainda ocorreu em clima adverso, com pista molhada. Segundo a Cessna, fabricante do jatinho, um pouso seguro do modelo demandaria 789 metros em condições normais.

A Rede Voa, concessionária do aeroporto, afirmou em nota que a indisponibilidade da parte inicial da “cabeceira 09” (que significa o sentido da praia da pista) ocorre por conta da geografia do terreno. Se o piloto tivesse entrado pelo lado oposto, denominado 27, haveria como utilizar toda a extensão da pista, alega a empresa.

“Apenas a cabeceira 09, que foi a selecionada pelo piloto, possui um recuo de 380m por conta da topografia do local”, afirma a Rede Voa, em nota enviada à reportagem. “O aeroporto não conta com controle de tráfego aéreo por conta do baixo movimento, cerca de 5 mil movimentações por ano.”

Segundo funcionários do aeroporto consultados pelo GLOBO, a chegada das aeronaves “não necessariamente” tem um sentido preferencial. Em 2018, um acidente aéreo que deixou dez feridos ocorreu com um avião que tentou aterrissar pela cabeceira 27, ou seja, no sentido contrário do acidente desta quinta. A aeronave vinha de Angra dos Reis e caiu próxima da rodovia Rio-Santos.

Como comparativo, a pista principal do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, que tem capacidade para receber voos comerciais bem maiores, conta com 1.940 metros de comprimento. A pista principal do Aeroporto Santos Dumont, no Rio, tem 1.323 metros.

A pista molhada e o peso da aeronave também podem influenciar no desempenho da frenagem, segundo especialistas.

O que se sabe sobre o acidente

A aeronave decolou do Aeroporto Municipal de Mineiros, em Goiás, às 8h54min, de acordo com o site FlightRadar24, e tentou pousar em Ubatuba próximo das 10h. A operadora do aeroporto declarou que as condições meteorológicas eram “degradadas, com chuva e pista molhada”.

Vídeos que circulam nas redes sociais mostram o avião cruzando a pista em alta velocidade. A aeronave se choca com um veículo e explode já na faixa de areia. Segundo a TV Globo, o carro pertencia a um motorista de aplicativo que estava com um passageiro no momento; nenhum deles ficou ferido.

Fonte do Corpo de Bombeiros relatou ao GLOBO que todos os quatro passageiros foram retirados conscientes dos destroços, mas “desorientados”. Já o piloto não resistiu ao acidente e morreu no local.

Santa Casa de Ubatuba afirmou em nota que os pacientes atendidos permanecem estáveis e começaram a ser transferidos para o Hospital Regional de Caraguatatuba. “Detalhes dos atendimentos não serão divulgados”, declara a instituição.

Em nota, a Força Aérea Brasileira (FAB) afirmou que investigadores do órgão regional do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), localizado em São Paulo, já foram acionados para realizar a avaliação inicial da ocorrência envolvendo a aeronave.

A informação oficial é de que o acidente envolveu cinco pessoas que estavam na aeronave. Pedestres também teriam sido atendidos na ocorrência, mas apenas uma precisou ser encaminhada ao hospital e passa bem. Ela tentou correr da situação e acabou torcendo o pé.

O piloto, identificado como Paulo Seghetto, ficou preso entre as ferragens e veio à óbito. Os quatro passageiros foram retirados vivos dos destroços da aeronave e encaminhados para a Santa Casa de Ubatuba.

Segundo a prefeitura de Mineiros, as vítimas seriam Mireylle Fries, que pertence a uma família de fazendeiros de Goiás, o marido Bruno Almeida Souza e seus dois filhos pequenos, Lucca e Aila.

O hospital Santa Casa de Ubatuba informou que todas as vítimas socorridas estão com o estado de saúde estável. A unidade não confirma os nomes.

Inicialmente, a Prefeitura de Ubatuba havia informado que duas pessoas haviam morrido no acidente. Contudo, às 11h23, a administração municipal corrigiu a informação para apenas a morte do piloto.

Aeronave pertencia à família de fazendeiros de Goiás

A aeronave pertence a uma família de fazendeiros de Goiás que enriqueceu com a produção de soja e venda de maquinário agrícola no município de Mineiros, na região sudoeste.

Os donos do jatinho estão identificados no Registro Aeronáutico Brasileiro (RAB) da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). O Cessna Aircraft modelo 525, de prefixo PR-GFS, foi fabricado em 2008 e adquirido pelos irmãos Nelvo, Celso e Milton Fries em 2010.

Milton, já falecido, era marido de Maria Gertrudes Fries, que também aparece agora como proprietária da aeronave, assim como os herdeiros Mireylle, Crystopher e Leyna, divivindo as cotas que antes eram do patriarca.

Maria Gertrudes é sócia de quatro empresas, incluindo uma holding, duas companhias de produção agrícola e uma de maquinário, adquirida no ano passado pela John Deere. O capital das empresas declarado à Receita Federal supera R$ 79 milhões.

O piloto falecido, por sua vez, estudou em uma escola de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, mas começou a carreira como copiloto na companhia Sete Táxi Aéreo, que tem sede em Goiânia, em 1997, onde trabalhou por mais de 13 anos. Depois, tornou-se funcionário da antiga Passaredo, atual Voepass. Desde 2014, porém, dedicava-se ao serviço de aviação executiva, conforme publicado em suas redes sociais.

A aeronave consta em situação regular, com Certificado de Verificação de Aeronavegabilidade (CVA) válido até 3 de setembro de 2025. Segundo o registro, comporta até oito passageiros, contando com o piloto, e opera com dois motores a jato. No entanto, não conta com autorização para táxi-aéreo.

Agência o Globo

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