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Centro-Oeste

Economia criativa no DF movimenta R$ 10 bilhões ao ano

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O DF é a segunda unidade federativa em percentual de trabalhadores do setor, atrás apenas de São Paulo, segundo o Dieese. Produtores autônomos defendem o poder de transformação do segmento e reivindicam maior apoio

Com um ecossistema pulsante de inovação e cultura, o Distrito Federal se firma como um dos principais polos da economia criativa do país. Segundo pesquisa recente do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 9,7% dos trabalhadores locais atuam no setor, ficando atrás de São Paulo, com 9,8%. Dados do Panorama da Economia Criativa, projeto desenvolvido pela Universidade Católica com fomento da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF), apontam que o DF conta com 130 mil agentes formais de economia criativa que produzem quase R$ 10 bilhões por ano, com participação de 3,5% no Produto Interno Bruto (PIB) da capital federal.

O economista Alexandre Arce explica que a economia criativa é o setor que se baseia na geração de valor a partir da criatividade. “Ela engloba diversas áreas, como design, moda, cinema, artes visuais e tecnologia. No DF, esse setor tem uma importância significativa, movimentando diferentes segmentos e impulsionando a identidade cultural de Brasília e da região”, afirmou.

A loja colaborativa Endossa é um caso de sucesso da economia criativa. O empreendimento surgiu em São Paulo, em 2008, e chegou a Brasília em 2012. A marca, que atualmente emprega 10 pessoas, reúne itens de pequenos produtores independentes do setor criativo em suas três unidades localizadas na Asa Sul, na Asa Norte e no Sudoeste.

Para Luana Ponto, 39 anos, uma das sócias, o setor é essencial para manter viva a identidade artística da cidade. “Se não houvesse esse estímulo ao nosso mercado, seríamos um grande shopping de coisas iguais. A economia criativa precisa existir. Precisamos valorizar e apoiar pequenos artistas e pequenos negócios locais. Seja no Plano Piloto ou nas periferias, que, por sinal, estão com grande destaque na cena atual criativa do DF”, defendeu.

Políticas públicas

O DF conta com políticas públicas voltadas para a economia criativa, como editais de fomento da Secretaria de Cultura, incentivos fiscais e programas de apoio ao empreendedorismo. Entre as ações de incentivo do Governo do Distrito Federal (GDF), estão o Fundo de Apoio à Cultura (FAC) e a Lei de Incentivo à Cultura (LIC), no âmbito da Secec; as linhas de microcrédito e os eventos voltados ao artesanato fomentados pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Renda (Sedet-DF); as pesquisas desenvolvidas com suporte da FAP-DF, da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti-DF) e do Biotic; e o projeto pedagógico da Universidade do Distrito Federal (UnDF), por meio de cursos como o de produção cultural.

De acordo com o economista Riezo Silva, esse setor representa uma parcela significativa do PIB do DF devido à forte presença de instituições culturais, festivais, universidades e polos tecnológicos. No entanto, o especialista aponta algumas dificuldades. “Muitos desafios ainda precisam ser superados, como maior acesso ao crédito, formação especializada e melhoria na infraestrutura de espaços culturais e tecnológicos”, lamentou. “O Sebrae até dá suporte para quem está no início, mas para marcas que já entenderam o mercado. Não vejo investimento para que cresçam e se mantenham”, relatou a empresária Luana Ponto.

Cícero Paulo Teodoro, 54, chegou ao DF durante a pandemia e, desde então, vende seus produtos na Feira da Torre de TV. Artesão, suas mãos transformam fibras naturais em vassouras, cestos, chapéus, barracas de praia, forros de bambu e luminárias, utilizando principalmente a fibra do coco-babaçu. A maior parte da produção é feita em casa, e os preços variam conforme o produto — cestos e luminárias podem custar até R$ 180. As vendas, no entanto, são imprevisíveis: alguns fins de semana são bons, enquanto outros passam sem nenhum lucro. O movimento na feira acontece, principalmente, aos sábados e domingos.

Ele conta apenas com a propaganda boca a boca para atrair clientes. “Consegui um espacinho aqui na Torre, mas com relação a apoio, eu não sei como funciona, nunca procurei. Lá no Ceará, eu conseguia crédito com o Banco do Nordeste, aqui não achei nada parecido. Também não sei mexer com internet, não sei ler, não sei divulgar o meu trabalho. Os meus clientes que fazem isso por mim”, relatou.

Adriana D’Ângelo, 56, moradora do Riacho Fundo I, ao lado do marido, Wilton D’Angelo, construiu uma vida com os quadros que pinta. “Eu nunca trabalhei de carteira assinada. Aprendi uma profissão, sobrevivi com ela, criei minhas filhas e hoje a gente pinta para complementar a renda e porque gostamos”, contou.

Mesmo com a estabilidade proporcionada pelo registro como Microempreendedor Individual (MEI) — que facilita a compra de materiais e oferece benefícios -, Adriana pontuou os desafios enfrentados pelos artesãos da Feira da Torre de TV. “O governo nos cedeu uma loja, o que ajuda muito, pois antes tínhamos de desmontar tudo no fim de semana. Mas ainda faltam divulgação e segurança. Durante a semana, ficamos sozinhos e vulneráveis”, apontou. “A associação dos artesãos contrata seguranças de quinta a domingo, mas, nos demais dias, a presença de pessoas em situação de rua dificulta a rotina de trabalho.”

Para o economista Alexandre Arce, a colaboração entre governo e empresas privadas pode ser o diferencial para impulsionar a economia criativa. “Programas de incentivo, linhas de financiamento acessíveis, investimentos em educação e tecnologia e a criação de espaços como coworkings e hubs criativos podem fortalecer esse setor no DF, tornando-o mais competitivo e sustentável.”

Emprego e renda

De acordo com o Panorama da Economia Criativa, projeto desenvolvido pela Universidade Católica de Brasília (UCB) com fomento da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF), atualmente, o DF conta com cerca de 130 mil agentes formais de economia criativa, que geram quase R$ 10 bilhões por ano, com participação de 3,5% no Produto Interno Bruto (PIB) da capital federal.

Ao Correio, Alexandre Kieling, coordenador da pesquisa da UCB, explicou que mais de 60% dos 130 mil CNPJs mapeados pelo estudo são microempreendedores individuais. “O volume gerado por esse setor é superior ao da construção civil e atinge todas as regiões administrativas. Em cada RA, a gente tem vocações específicas, e tem algumas que se repetem em todas, como no caso das publicidades, mas há aquelas que têm o artesanato, a música ou a dança como ponto mais forte”, apontou.

O especialista declarou que o DF tem capacidade de alavancar a área com extrema facilidade e que, em cinco anos, a matriz econômica da capital mudará totalmente. “O Brasil tem, hoje, aproximadamente 8 milhões de pessoas atuando em atividade criativa, e o DF perde apenas para SP”, ressaltou. Segundo ele, as atividades com maior estrutura e que têm gerado altos valores são as de indústrias criativas. “A gente tem uma estrutura muito forte de eventos, audiovisual, games, publicidade, gastronomia, moda, de desenvolvimento de software e de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento).”

Com suas vendas instaladas também na tradicional feira central de Brasília, Maria Margarida Romero, 77, vê no artesanato a sua essência. Ela trabalha em parceria com um marceneiro e sua irmã, que produz peças de palha de milho, e vê na internet uma alternativa para expandir suas vendas. “O trabalho manual precisa ser visto de perto para ser valorizado. Além das redes sociais, uma loja física faz toda a diferença. Eu sempre digo que nasci artesã, comecei na infância e nunca mais parei”, contou a moradora do Lago Norte.

Entenda

Segundo o Dieese, economia criativa pode ser entendida como a intersecção entre economia, cultura, tecnologia e inovação e abrange diversos setores de atividades, como audiovisual, arquitetura, tecnologia, publicidade e até gastronomia. Usando esse conceito, são consideradas ocupações criativas as profissões que exigem certo grau de inovação e criatividade dos trabalhadores.

O que é

Economia criativa pode ser entendida como a intersecção entre economia, cultura, tecnologia e inovação e abrange diversos setores de atividades, como audiovisual, arquitetura, tecnologia, publicidade e até gastronomia. Usando esse conceito, são consideradas ocupações criativas as profissões que exigem certo grau de inovação e criatividade dos trabalhadores.

Fonte: Dieese

Correio Braziliense

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