Economia
Vale registra lucro de US$ 6,2 bi em 2024, queda de 23% ante 2023
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À parte do desempenho operacional, cenário para a mineradora no ano passado foi marcado por crise em torno da sucessão de seu comando e alívio de tensões políticas no quarto trimestre
A mineradora Vale registrou lucro líquido de US$ 6,166 bilhões ano passado, uma queda de 23% ante os US$ 7,983 bilhões de 2023, informou a mineradora na noite desta quarta-feira.
Ano passado, a Vale se saiu melhor em termos operacionais, com o maior nível de produção de minério de ferro desde 2018, mas o que chamou mesmo a atenção de investidores e analistas foi o clima de crise em torno da sucessão do comando da mineradora.
A companhia começou 2024 no olho do furacão. O término do mandato de Eduardo Bartolomeo como CEO, em maio do ano passado, esquentou disputas entre acionistas. O Conselho de Administração da mineradora ficou rachado ao decidir pela renovação do mandato do antigo CEO ou por sua substituição.
O governo fez pressões para dar um cargo para o ex-ministro Guido Mantega na alta direção da mineradora, mas viu sua influência ser limitada pela falta de um controlador definido e por regras de governança.
No fim de agosto, a indicação de Gustavo Pimenta, que era o diretor responsável pela área financeira e de relações com investidores, para substituir Bartolomeo surgiu como solução para apaziguar os ânimos. O novo CEO assumiu o cargo em outubro.
Eventos positivos
Ainda no quarto trimestre do ano passado, a empresa colheu eventos positivos. Também em outubro, a Vale e a BHP Billiton assinaram um acordo de reparação de cerca de R$ 170 bilhões – incluindo R$ 38 bilhões já desembolsados – com o governo federal e autoridades locais de Minas e Espírito Santo por causa do rompimento de uma barragem de rejeitos em Mariana (MG), em 2015.
A barragem era da Samarco, produtora de pelotas, um derivado do minério de ferro, cujo controle é dividido igualmente entre Vale e BHP. O rompimento deixou 19 mortos e contaminou o Rio Doce até sua foz, no litoral do Espírito Santo.
Apesar dos valores bilionários, o acordo em torno da reparação é visto como positiva por investidores, porque reduz a incerteza em torno dos negócios da Vale. É melhor ter um valor certo que será gasto do que correr o risco de as indenizações aumentarem ao longo do tempo.
Já em dezembro, o Ministério dos Transportes chegou a um acordo com a Vale sobre a revisão dos valores dos contratos de concessão da Estrada de Ferro Carajás (entre Pará e Maranhão) e da Estrada de Ferro Vitória-Minas. Essas concessões foram renovadas antecipadamente no governo Jair Bolsonaro. Com a volta do PT ao poder, em 2023, o novo governou buscou repactuar as renovações, cobrando mais das empresas envolvidas.
A Vale terá que gastar R$ 17 bilhões no processo. Os entendimentos precisarão ser validados pelo Tribunal de Contas da União (TCU). E, assim como no caso da reparação por Mariana, é melhor ter uma definição dos valores do que correr o risco de futuros aumentos.
Discutindo a relação com os governos
Os dois avanços envolveram a relação da companhia com governos. As dificuldades de relacionamento não só com Brasília, mas também com os governos de Minas e do Pará, onde estão a larga maioria das minas da Vale, foram frequentemente citados como um dos motivos para a saída de Bartolomeo.
Ou seja, um ano após o auge da crise de sucessão na virada de 2023 para 2024, os últimos meses foram de alívio no relacionamento com os governos. Sinais claros de paz já haviam sido dados no fim de janeiro, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou a jornalistas, dias após uma reunião com Pimenta em Brasília, que teve uma “conversa extraordinária” com o executivo.
Se ainda persistiram dúvidas sobre o alívio nas tensões, elas foram desfeitas na semana passada. Lula visitou as operações da Vale no complexo de Carajás, no sul do Pará, para o lançamento, pela mineradora, de um projeto de investimentos de R$ 70 bilhões, nos próximos cinco anos, no local. Foi a primeira visita presidencial a instalações da companhia desde a época de Dilma Rousseff, ressaltou Pimenta em discurso.
Lula afirmou que, desde a primeira conversa entre os dois, sentiu que Pimenta “queria passar pra história como o melhor presidente que a Vale já teve”. E garantiu “que, naquilo que for necessário, o meu ministro de Minas e Energia vai estar junto de você”.
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