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Economia

Peso da alta dos preços dos alimentos é ainda maior para baixa renda

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Segundo estudo, grupo de alimentos responde por fatia de 22,6% da renda daqueles que ganham de 1 a 1,5 salário mínimo

O aumento dos preços dos alimentos pressiona o orçamento das famílias brasileiras, com efeitos ainda mais agudos para grupos de baixa de renda.

É o que mostra levantamento do coordenador dos Índices de Preços do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FVG/Ibre), André Braz.

Segundo os números, o grupo de alimentos responde atualmente por uma fatia de 22,6% da renda daqueles que ganham de 1 a 1,5 salário mínimo (R$ 1.518 a R$ 2.277).

Em 2018 esse cenário era diferente: os alimentos representavam 18,4% das contas familiares.

Já ao olhar para as famílias de alta renda, o peso da alimentação é de 11,3%. Há sete anos, correspondia a 9,2%.

Dessa forma, a cesta de consumo fica mais restrita e concentrada em alimentos, o que amplifica o impacto da inflação sentida pelos brasileiros e aumenta a percepção pessimista sobre essa situação, segundo avaliação de André Braz.

Desde o início da pandemia da Covid-19, em 2020, os preços dos alimentos acumulam alta de pouco mais de 55%.

O número ultrapassa o avanço da inflação somada no mesmo período, de 33,4%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“A alimentação subiu quase o dobro da inflação média. Só que o Brasil é um país muito desigual. E quanto menor a renda familiar, mais ela concentra a despesa com alimentos. Nesse ponto essas famílias percebem mais a inflação de alimentação do que a inflação média, porque a cesta de consumo delas é muito pequena”, explica Braz.

Em janeiro, Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) teve alta de 0,16%, com o grupo de alimentos e bebidas registrando seu quinto avanço consecutivo, puxado pelo encarecimento do café e cenoura.

Apesar do aumento acumulado, o avanço mostra perda de força desde novembro do ano passado. Contudo, Braz avalia que o alívio não ocorre na mesma proporção do encarecimento.

“Você tem uma época em que a oferta de alguns alimentos não é grande e o preço sobe, mas depois que se normaliza, o preço cai. Essa dinâmica ainda existe, mas ela está perdendo para a dinâmica de aumento. O alimento sobe 10% e cai menos do que isso depois”, afirmou o especialista.

O IPCA-15, considerado uma prévia da inflação, será divulgado nesta terça-feira (25).

A avaliação do especialista é que os alimentos voltem a aparecer como protagonistas na alta dos preços da economia.

“Vamos ver também o reajuste das mensalidades escolares, o reajuste nos combustíveis por força de impostos e o aumento do preço da energia. Como janeiro foi o [resultado] mais baixo desde o plano real, não digo que fevereiro vai ser o mais alto, mas vai ficar entre os fevereiros com a maior taxa de inflação”, disse ele.

Clima, câmbio e demanda impactam preços

Entre os fatores que aceleraram esse cenário de maior peso da alimentação nos lares brasileiros, André Braz cita os efeitos climáticos, destacando o impacto nas carnes bovinas e de aves.

“Em 2024, tivemos o que a gente pode chamar de tempestade perfeita. Tivemos vários fenômenos climáticos, a começar pelo El Niño, que provocou aquela chuva forte no Sul, e depois tivemos La Niña, que secou algumas regiões do país e provocou uma quebra de safra importante”, analisou o especialista.

Além disso, o efeito do câmbio e a dinâmica das exportações com um real desvalorizado também potencializam a alta dos alimentos, somado ao aquecimento do mercado de trabalho e o aumento da demanda.

E em meio a isso, o imbróglio recente envolvendo o Plano Safra 2024/2025 gerou preocupações sobre o impacto nos preços dos alimentos nos próximos meses.

O Tesouro Nacional decidiu, na última quinta-feira (20), suspender novas contratações de financiamentos com subvenção federal, exceto para o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), devido à demora na aprovação da Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2025, que ainda tramita no Congresso Nacional.

Como solução para o impasse, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou crédito extraordinário no valor de R$ 4 bilhões. O montante estará dentro dos limites do arcabouço fiscal.

Segundo André Braz, essa ajuda de crédito ao produtor rural, principalmente para o de pequeno porte, irá ajudar a aliviar os preços dos alimentos aumentando a produção.

“Facilitar o crédito do pequeno produtor rural é importante. Usar mais a tecnologia e financiar a juros mais baixos é fundamental, porque muitos produtores no Brasil são de baixa renda. Muitos agricultores acabam abandonando a cultura porque ela não dá lucro e não conseguem pagar os custos de produção e tirar o seu sustento dali”, explicou ele.

CNN Brasil Money

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