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Universitários desenvolvem bengala tecnológica para pessoas cegas

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Criado por estudantes da UnB, o dispositivo Meu Norte facilita locomoção de pessoas com deficiência visual

Imagine a quantidade de desafios que pessoas com deficiência visual lidam diariamente em sua locomoção pela cidade. Caminhar com autonomia, então, é uma dificuldade ainda maior. Pensando em otimizar esse percurso e garantir independência a esses transeuntes, 17 estudantes da Universidade de Brasília (UnB) desenvolveram uma tecnologia assistiva de mobilidade, chamada Meu Norte, um projeto inédito no Brasil.

Em formato de bengala, o protótipo auxilia a locomoção por reconhecimento sensorial, geolocalização e comunicação com usuário, tanto por vibração, fazendo uso de uma pulseira, quanto por áudio em fones. E por um aplicativo, é possível receber alertas de obstáculos. O projeto integrou estudantes de quatro cursos de engenharia.

Os alunos de engenharia aeroespacial ficaram responsáveis pela estrutura da bengala; o de energia, pela bateria do equipamento; os de eletrônica, pelos sensores, a pulseira vibratória e os botões; e os de software, pelo desenvolvimento do aplicativo. Todos contribuíram. E, ajuda de pessoas cegas, o grupo compreendeu as necessidades delas.

“A partir disso, decidimos em quais funcionalidades investir”, explica a recém-formada engenheira de software Sara Campos, 25 anos. O produto, que continua em fase de testes, ainda não está disponível para o público geral, porém há pretensões de publicar o aplicativo em lojas e buscar investimentos para desenvolver uma versão comercial.

Funcionalidades

Por meio de entrevistas com pessoas cegas, os estudantes concluíram que o principal desafio é a imprevisibilidade. “Muitos deles fazem o mesmo trajeto todos os dias, então, já conhecem a rota. O problema é se, naquele percurso, houver obstáculos não esperados, como buracos ou obras”, diz Sara. Pensando nisso, os estudantes desenvolveram uma funcionalidade em que a própria comunidade pode reportar essas barreiras. “Tais avisos, que ficarão salvos naquela localização, trarão maior segurança às pessoas que caminharem novamente naquele percurso”, completa a engenheira.

Aos usuários do dispositivo, o projeto Meu Norte oferece versatilidade, de forma que a bengala pode ser utilizada sem o aplicativo, e o aplicativo, sem a bengala, ainda que a utilização conjunta permita uma experiência melhor. “Por meio de fones de ouvido, o aplicativo é utilizado para guiar o usuário acerca do trajeto que deve seguir até o destino escolhido, informando sobre barreiras durante todo o percurso. Já a bengala, possui uma pulseira que vibra em pontos específicos do pulso segundo a posição de um obstáculo próximo”, detalha o engenheiro de software Eduardo Maia, 27.

Apesar de ainda ser um protótipo, a tecnologia assistiva tem grande potencial de ser inserida no mercado. “O projeto, desenvolvido no segundo semestre letivo de 2024, contou com uma equipe multidisciplinar, que foi instigada a assumir, com autonomia e independência, o desenvolvimento de um protótipo de produto, por meio da reflexão crítica do problema, identificação de demandas, tomada de decisão com base em critérios científicos e elaboração da tecnologia”, conta o professor Alex Reis, que ministra a disciplina Projeto Integrador de Engenharias 2, no curso de engenharia de energia.

Correio acompanhou um teste do dispositivo. Quem ficou responsável por avaliar o produto foi o funcionário público Nivaldo Almeida, 36, que é uma pessoa com deficiência visual. Segurando a bengala e com a pulseira vibratória no braço, ele seguiu por um pequeno percurso e conseguiu desviar de um jarro de plantas. Para Nivaldo, o protótipo está aprovado.

“Toda tecnologia assistiva de mobilidade é útil. Porém, uma iniciativa como essa, que vem personalizada, com mais recursos e melhor incrementada, com certeza, tem relevância muito maior. São tecnologias como essa que me permitem, por exemplo, vir trabalhar. Costumo dizer que esse tipo de acessibilidade torna as coisas possíveis na vida de uma pessoa com deficiência”, destaca o funcionário público.

Melhorias

O protótipo, desenvolvido em cinco meses, foi elaborado com um orçamento bastante limitado. “Cada um dos participantes da equipe contribuiu com cerca de R$ 20. Se houvesse algum investimento, teríamos condições de disponibilizar a tecnologia para a comunidade”, avalia Sara.

“É um protótipo funcional, mas precisamos de investimentos para melhorar a ergonomia, diminuindo o peso da bengala para ficar mais confortável ao usuário”, completa Eduardo. “Os professores têm incentivado os alunos a darem continuidade no desenvolvimento do produto, mediante a criação de uma startup. Isso permitia o amadurecimento tecnológico do produto e traria potencial inserção no mercado”, pontua o professor e mentor Alex Reis.

 

Correio Braziliense

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