Centro-Oeste
Em missa, Brasília se despede do papa Francisco na Catedral Metropolitana

Fiéis prestam últimas homenagens ao papa, relembrando momentos marcantes de sua liderança na Igreja Católica
Emoção, homenagens e orações marcaram a celebração presidida pelo cardeal Paulo Cezar Costa, arcebispo de Brasília, em sufrágio pela alma do papa Francisco, na Catedral Metropolitana. Falecido na segunda-feira, aos 88 anos, em decorrência de um acidente vascular cerebral e insuficiência cardíaca, o argentino Jorge Mario Bergoglio foi o líder da Igreja Católica por quase 12 anos. Os ritos foram conduzidos com palavras de fé, esperança e gratidão pela vida e legado do primeiro pontífice latino americano.
A celebração reuniu a comunidade religiosa em torno da memória de Francisco, com reflexões profundas sobre fé, fraternidade e missão. “Eu convivi com o papa Francisco desde o início do seu pontificado, tínhamos uma relação próxima e sempre foi alguém muito querido para mim. Agora é um momento de dor, perda e ausência, mas é um pai que o Senhor chamou para junto de si”, explicou o cardeal Paulo Cezar, que participará do conclave para a sucessão do líder máximo da Igreja Católica, no Vaticano.
Em sua última aparição, no domingo de Páscoa, Francisco pediu para que um assessor lesse uma mensagem, onde denunciou a crise humanitária em Gaza, pediu cessar-fogo e voltou a defender o desarmamento global. Defensor da paz, da justiça social e da fraternidade universal, o papa argentino deixou sua marca não apenas entre católicos, mas no cenário mundial. “Estamos tristes, mas não desesperados. Estamos tristes, mas com a esperança da fé. E só podemos pedir ao Senhor que conceda a Francisco a recompensa do bom pastor”, completou o arcebispo de Brasília.
Durante a homilia, o cardeal Paulo Cezar reforçou a missão de Francisco durante seu papado e seu impacto, não somente na comunidade católica, mas em todo o mundo. “O papa apoiou grandes lições da humanidade com um ideal de paz, de fraternidade, de acolhimento, de proximidade com os pobres e excluídos”, explicou. Ao final da reflexão, o arcebispo reforçou o trabalho de fé de Francisco. “Ele foi um homem de fé. Viveu sua vida servindo ao Senhor. Gastou a vida por amor a Jesus Cristo e à sua Igreja. Serviu ao Senhor, serviu à Igreja, serviu ao mundo. Até o último momento.”
Encontros com Francisco

Maria Estela relembra momentos vividos no Vaticano durante missa de Papa Francisco.Ana Carolina Alves
Maria Estela, de 40 anos, é mexicana, mas mora em Brasília há oito anos, e foi à Praça de São Pedro, em 2018, para assistir à missa presidida pelo Papa Francisco. Ela lembra que, durante os cumprimentos do pontífice, as gritarias tomavam conta do espaço. “Eu gritava muito chamando por ele, o guarda precisou pedir que eu me acalmasse algumas vezes, mas é muito emocionante estar ali, no coração da igreja, com ele como representante”, relembrou.
Para Maria, Francisco deixa um legado de humanidade e simplicidade, além de seu humor memorável. Para ela, o momento que mais a emocionou durante o papado de Francisco, foi o hábito do pontífice em ligar, diariamente, para a Igreja da Sagrada Família na cidade de Gaza, onde tentava sensibilizar o mundo para o conflito entre Israel e Hamas. “Essa atitude só mostra o quanto ele se preocupava, verdadeiramente, com a comunidade”, completou.

Roberto Guidi participou da Jornada Mundial da Juventude, em 2013Ana Carolina Alves
Já Roberto Guidi, 66, viu o papa durante a visita ao Brasil em 2013, na Jornada Mundial da Juventude, evento católico que reúne fiéis de todo o mundo. Para ele, o momento que mais representou a humanidade do papa durante a visita foi a decisão de abrir as laterais do papamóvel para que ele pudesse cumprimentar os fiéis. “Ele não menosprezava a segurança dele, mas ele era uma pessoa que tinha que ter o contato com o povo”, relembrou.
Roberto conta que, depois da eleição de Francisco como papa, começou a se envolver mais com a Igreja Católica e as causas sociais que o pontífice defendia. “Ele deixa um legado de muito amor, muita misericórdia e muito aprendizado sobre a gente olhar mais para o próximo”, afirma.
Legado de humanidade

Lea Sales reza para que o novo papa mantenha legado de FranciscoEd Alves CB/DA Press
Entre a emoção de se despedir de um papa e a celebração por sua passagem, Léa Sales, 48, lamenta nunca ter podido visitar pessoalmente o pontífice, mas reforça que isso nunca foi um impedimento para uma conexão com o mesmo. “A humildade e o jeito carinhoso dele era um grande conforto para nós, cristãos”, afirma. E completa: “Agora vamos ficar em oração para o próximo papa seja tão lindo de coração quanto foi o papa Francisco”.

Omarys HernandezEd Alves CB/DA Press
Para a freira missionária Omarys Hernandez, 47, a Igreja agora passa por um momento delicado. “Todo mundo sabe que, em algum momento, o papa vai nos deixar, mas nunca estamos esperando que esse momento chegue. Agora a Igreja vai passar um momento em que todos nós temos que nos unir em oração”, explica.
Originária de Porto Rico, Omarys está há dois anos no Brasil, e relembra como cada papado deixou uma herança. “O legado de Francisco foi o de olhar mais para o próximo. Nosso próximo também é canal para ir a Deus, e à medida que nós servimos a nossos irmãos, nós também estamos servindo a Deus”, explica.
Ritos e conclave
O velório do pontífice foi aberto ao público na Praça Santa Marta, no Vaticano, e seguirá até as 15h desta sexta-feira (25/4), quando o caixão será fechado. No sábado (26/4), o cardeal italiano Giovanni Battista celebrará a missa de corpo presente, uma cerimônia de despedida. Após o sepultamento de Francisco, haverá nove dias de luto e orações.
Para o arcebispo de Brasília, o processo de seleção para o novo papa é um momento de muita responsabilidade e esperança. “É nossa responsabilidade, como cardeais, de darmos um bom pastor para guiar o povo de Deus”, reforça dom Paulo Cezar. Além dele, outros seis cardeais brasileirosajudarão a escolher o sucessor de Francisco.

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