Centro-Oeste
Multidão vai à Esplanada dos Ministérios para a celebração de Corpus Christi
Multidão acompanha missa campal com emoção e prepara tapetes em homenagem ao corpo de Cristo
À medida que os ponteiros marcavam 17h dessa quinta-feira (19), o som dos sinos ressoou entre os prédios da Esplanada dos Ministérios, anunciando o início da Santa Missa de Corpus Christi. O murmúrio da multidão dá lugar a um silêncio respeitoso. No altar montado em frente ao Congresso Nacional, o cardeal dom Paulo Cezar Costa surgiu com passos firmes, ladeado por bispos auxiliares e dezenas de padres. Um vento leve percorreu o espaço, balançando estandartes e bandeiras.
Milhares de fiéis acompanharam a celebração com olhos atentos e corações recolhidos. Alguns se sentam no chão, outros permanecem de pé, com terços entre os dedos e o olhar voltado para o céu. A voz do arcebispo, amplificada por caixas de som ao longo da via, preencheu o espaço com palavras que conduziam à reflexão e à espiritualidade. Durante a proclamação do Evangelho, era possível ouvir apenas o som das páginas sendo viradas e o farfalhar discreto das roupas. A multidão silencia como quem escuta um segredo sagrado.
Durante a homilia, o arcebispo de Brasília, Dom Paulo Cezar, destacou o sentido mais profundo da celebração de Corpus Christi, associando a Eucaristia à esperança e à missão. “Celebrar a Eucaristia enche o nosso coração de esperança. Nos dá a certeza da presença do Senhor no meio de nós”, afirmou, dirigindo-se, especialmente, aos ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão, que celebravam seu jubileu. Com base no Evangelho da multiplicação dos pães, o cardeal refletiu sobre a insuficiência dos recursos humanos diante das necessidades do mundo, contrapondo a atitude limitada dos discípulos ao olhar amplo e confiante de Cristo. “O pouco basta a quem crê na onipotência de Deus e na força do amor”, disse.
No momento da consagração, a tarde ganha tons dourados. A luz do entardecer recai sobre a hóstia erguida, e o tempo parece suspenso. É um instante de contemplação silenciosa, em que cada fiel vive, à sua maneira, o mistério da fé. Alguns levantam os braços, outros fecham os olhos em prece. O clima é de paz — e de presença. A distribuição da comunhão aconteceu em silêncio, com centenas de ministros se deslocando entre os presentes. Crianças eram erguidas pelos pais, idosos caminhavam com cuidado, e jovens se abraçavam discretamente após receberem a Eucaristia. A fé se materializava em gestos simples, mas profundamente simbólicos.
Emoção
Entre os milhares de fiéis espalhados pela Esplanada dos Ministérios, a família Ferreira Lima se emocionava ao viver a celebração de Corpus Christi. “Fazia tempo que não participávamos, mas decidimos voltar este ano e continuar nos próximos. Estar aqui é caminhar ao lado de Jesus”, contou Adriana, 55 anos, ao lado do filho Arthur, 17. Os dois vieram de Águas Claras em busca de um reencontro com a fé. Para eles, a homilia de Dom Paulo foi o momento mais marcante da celebração. “A fala sobre a esperança tocou muito a gente. Sem fé, a gente não é nada”, disse Arthur, emocionado.
A poucos metros dali, Rafael Alves, 19, vivia sua primeira experiência na missa de Corpus Christi. Já Samantha Ferreira, 24, o acompanhava com entusiasmo — ela participa todos os anos ao lado da avó. “Pra mim, essa é uma das maiores festas da Igreja. O Corpus Christi é o corpo de Cristo, é a razão da nossa fé. Quando a gente entrega nosso pouco, Deus multiplica”, afirmou. Rafael completou: “Eu comecei a me voltar mais para o catolicismo agora e estar aqui hoje faz parte desse caminho. Mesmo com pouca fé, poucos recursos, Deus faz o milagre acontecer”.
Acompanhando o casal estava também Sori, a pequena cachorra da família, carregada nos braços como parte da celebração. “Ano passado vimos algumas pessoas trazendo e quisemos incluí-la. É uma forma de celebrar juntos”, explicou Samantha. Ao fim da missa, o casal refletia sobre o que levariam da experiência. “Às vezes, a gente esquece que Deus está presente, mesmo quando tudo parece distante. O Corpus Christi lembra que Ele está ali, no sacrário, esperando por nós”, ponderou Rafael, com os olhos voltados para o altar.
Ao término da missa, o Santíssimo Sacramento é colocado no automóvel que um dia conduziu São João Paulo II. Tem início, então, a procissão luminosa, mas o que fica na Esplanada, antes da caminhada, é a sensação de que algo grandioso aconteceu ali: no coração político do país, milhares se uniram para viver, em comunhão, o mistério central da fé católica.
Vindos de Brazlândia especialmente para participar da missa de Corpus Christi, Eloisa Maria, 21, e Felipe Viana, 22, acompanharam a celebração de mãos dadas, em silêncio reverente. Para eles, a cerimônia foi mais do que bonita — foi transformadora. “Pode ser que eu não saiba explicar tudo, mas é algo muito grande que faz parte de mim. E eu sinto que também faço parte disso”, disse Eloisa, com os olhos marejados durante a caminhada pela Esplanada. Ao seu lado, Felipe assentia em silêncio, partilhando do mesmo sentimento de pertença e fé.
Para Gabriel Alves, 23, e Vitória da Costa, 19, a celebração de Corpus Christi é um momento que renova a fé e fortalece a caminhada espiritual. “É maravilhoso celebrar novamente essa solenidade. Ver tantos outros jovens reunidos para louvar e adorar o Senhor emociona”, disse Gabriel, que já participou de outras edições. Ao lado dele, a namorada, Vitória, ressaltou a importância da Eucaristia em sua vida: “O Corpo de Cristo é tudo. É o maior presente que posso dar à minha alma diariamente.”
Tapetes
Desde as primeiras horas dessa quinta-feira (19), a Esplanada dos Ministérios se transformou em um grande templo a céu aberto. Às 6h, centenas de fiéis já confeccionavam os tradicionais tapetes de Corpus Christi no gramado central. Paróquias de todo o Distrito Federal participaram da montagem, que é parte essencial da preparação para a missa campal.
Responsável por um dos tapetes, o jovem Davi Rosa, 19 anos, integrante do movimento Eureka, explicou o significado da dedicação. “O verdadeiro corpo de Cristo não pode passar por qualquer lugar. É uma forma de honrar e homenagear esse momento. Acordei às 5h, porque acredito de verdade que aquele pão e vinho são o corpo e sangue de Cristo”, afirmou.
Festa de Corpus Christi

Os tradicionais tapetes começaram a serem montados às 6h da manhã, em preparação para a missa
(foto: Ed Alves/CB/D.A Press )
Para Dom Denilson, bispo auxiliar de Brasília, os tapetes simbolizam amor, arte e fé. “São uma homenagem à Eucaristia, principalmente dos jovens. No Brasil, essa tradição se consolidou como um grande elemento artístico, cultural e de fé”, destacou. Ele explicou ainda que a procissão representa Jesus saindo das igrejas e indo ao encontro da cidade: “É a fé inserida na vida cotidiana”.





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