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Economia

Agro impulsiona nova fase da energia limpa

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A transição energética tem renovado o vigor dos biocombustíveis no Brasil, país já reconhecido pelo uso do etanol em motores e da biomassa para eletricidade na indústria. Essa transformação gera novas fontes de receita e oportunidades para o agronegócio nacional.

Um exemplo é o biometano, um gás renovável similar ao gás natural que pode ser usado em veículos e indústrias, produzido a partir de resíduos da produção de açúcar e álcool, além da criação de suínos e aves. Ao mesmo tempo, o setor de petróleo e gás está incluindo as fontes renováveis em seus planos.

Segundo a Associação Brasileira do Biogás (Abiogás), o Brasil já produz pouco mais de 800 mil metros cúbicos diários de biometano em doze usinas, com previsão de alcançar 8 milhões em 2032. A Agência Nacional do Petróleo (ANP) estima um número menor atualmente, 470 mil metros cúbicos diários, prevendo 93 usinas até 2029.

A Agência Internacional de Energia (AIE) projeta que o Brasil será o quinto maior produtor mundial de gás renovável nos próximos cinco anos, respondendo por mais de 10% do mercado global de biometano até 2026.

Essa evolução favorece o agronegócio, já que as principais fontes de biometano são os resíduos da produção de açúcar, álcool e pecuária, com um potencial estimado pela Abiogás de 102 milhões de metros cúbicos diários, o dobro da demanda nacional por gás natural segundo a Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás).

Deste potencial, 56% provêm da indústria açucareira e alcooleira, e 38% da pecuária; o restante, do lixo urbano, atualmente a principal fonte das usinas em operação.

Nos aterros sanitários, o biogás gerado pela decomposição dos resíduos é processado até virar biometano. No setor agroindustrial, o biogás sai da decomposição da vinhaça, resíduo das usinas de cana, e do esterco de animais confinados, especialmente suínos e aves.

Luiz Fernando Tomasini, diretor de Negócios em Biogás do Grupo Energisa, explica: “Investir em biometano é investir no futuro do país. Com composição idêntica ao gás natural, ele pode substituir este em indústrias e transportes, contribuindo significativamente para reduzir emissões de gases de efeito estufa.”

O Grupo Energisa adquiriu em 2023 uma usina de biometano em Santa Catarina e planeja investir R$ 90 milhões ainda este ano. A usina, situada estrategicamente na BR-282, conecta o polo agroindustrial exportador a portos do litoral, oferecendo alternativa ao diesel e ampliando opções para descarbonização industrial.

No Espírito Santo, a distribuidora ES Gás, parte do Grupo Energisa, busca integrar quatro usinas de biometano na rede de distribuição, com investimentos previstos de R$ 70 milhões para a usina e R$ 5 milhões para a infraestrutura local.

Pierre-Emmanuel Moussafir, CEO da Eren Biogas Brasil, anuncia planos para investimentos de até R$ 3 bilhões nos próximos sete anos, focando no tratamento de resíduos orgânicos das indústrias sucroalcooleira e de proteína animal, visando construir uma economia circular que valorize esses resíduos através da geração de energia, biometano e biofertilizantes.

Segundo Moussafir, o biogás pode crescer como o etanol, que se estruturou graças a políticas públicas como o Programa Nacional do Álcool (Proálcool). Há crescente interesse de investidores no setor, valorizando os resíduos orgânicos como fonte energética.

A Supergasbras iniciou um projeto para substituir parte do diesel pelo biometano, com planos de expandir a frota de caminhões movidos por esse combustível nos próximos anos. A Gás Verde, dona da maior usina de gás renovável da América Latina, investe na conversão de termelétricas para biometano e na produção de CO2 verde para bebidas gaseificadas, contando com empréstimos do BNDES para esses projetos.

Marcel Jorand, CEO da Gás Verde, destaca que a demanda supera a oferta e que o mercado é impulsionado pelo compromisso corporativo com a redução das emissões de gases do efeito estufa e o combate às mudanças climáticas.

Empresas tradicionais também têm buscado se adaptar. A Copa Energia, por exemplo, adquiriu a CTG, que já atua na compressão e transporte de gás natural e pretende fechar contratos de longo prazo para biometano, além de investir no desenvolvimento do Gás Liquefeito Renovável (GLR) em parceria com universidades.

A Petrobras direcionou mais de US$ 16 bilhões para iniciativas de baixo carbono em seu plano 2025-2029, destinando cerca de US$ 5 bilhões ao biorrefino, incluindo biodiesel, diesel verde, etanol e combustível renovável para aviação. A estatal mantém negociações para parcerias no setor de etanol, considerado estratégico na agenda da transição energética.

A produção de combustíveis renováveis para aviação e navegação marítima traz uma nova dinâmica à descarbonização, pois, ao contrário do transporte rodoviário, estas modalidades dependem mais de combustíveis do que de eletrificação.

Jorge Alcaide, diretor-geral da fabricante finlandesa Wärtsilä no Brasil, afirma que a flexibilidade no uso de biocombustíveis é essencial, e que a melhor opção é sempre o combustível disponível localmente. A empresa atua na conversão de motores de embarcações para biodiesel e adaptação de motores de termelétricas para uso de etanol, aproveitando a produção regional para abastecer o transporte fluvial de grãos.

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