Conecte Conosco

Mundo

Israel usa bomba pesada em ataque a cafeteria em Gaza, especialistas falam em crime

Publicado

em

O Exército de Israel lançou uma bomba de 230 kg de origem americana contra uma cafeteria cheia à beira-mar na Cidade de Gaza na última segunda-feira, segundo reportagem do jornal britânico The Guardian divulgada nesta quinta-feira. Especialistas em armamentos e em direito internacional consultados pelo veículo afirmam que o uso de uma munição desse tamanho, mesmo sabendo da presença de muitos civis indefesos — incluindo crianças, mulheres e idosos — é ilegal e pode configurar crime de guerra.

Fragmentos da arma recuperados entre os destroços do local e fotografados pelo Guardian foram identificados por especialistas como partes de uma bomba MK-82, de uso geral, com peso de 230 kg, uma munição amplamente utilizada em bombardeios ao longo das últimas décadas. A grande cratera deixada pela explosão reforça essa avaliação, embora Trevor Ball, pesquisador de armamentos e ex-técnico do Exército dos EUA especializado em desativar explosivos, sugira que pode ter sido uma bomba MPR500.

A ofensiva atingiu um dos poucos locais de lazer ainda frequentados por jovens e famílias em Gaza. Autoridades médicas e outras fontes indicaram que entre 24 e 36 pessoas morreram no ataque, com dezenas de feridos. Entre as vítimas estavam o fotojornalista palestino Ismail Abu Hatab e o artista Frans al-Salmi, que já havia feito exposições internacionais. A jornalista Bayan Abu Sultan também ficou ferida. Moradores relataram que não houve aviso de evacuação antes do ataque.

— Sempre havia muitas pessoas naquele lugar, que oferecia bebidas, áreas para famílias e acesso à internet — contou à AFP Ahmed al-Nayrab, de 26 anos, que presenciou o momento em que ouviu uma “explosão enorme”. — Vi pedaços de corpos voando, pessoas despedaçadas e queimadas. Foi uma cena aterradora. Todos gritavam, os feridos pediam ajuda e as famílias choravam suas perdas.

Testemunhas também descreveram ter visto uma criança de 4 anos morta, um idoso com ambas as pernas amputadas e muitos feridos graves. Fotografias mostraram manchas de sangue e fragmentos de carne entre colunas e telhados destruídos, além da cratera profunda que indica o uso de uma arma poderosa por Israel. O porta-voz do Exército israelense afirmou que “foram tomadas medidas para reduzir riscos a civis antes do ataque”, mas não informou qual era o alvo da operação.

— [Os militares israelenses] afirmaram que usaram vigilância aérea para minimizar as mortes civis, o que implica que sabiam que a cafeteria estava cheia — destacou Gerry Simpson, pesquisador da Human Rights Watch, ao Guardian. — Eles também sabiam que uma bomba aérea tão grande causaria muitas mortes e mutilações. Isso levanta a suspeita de que o ataque foi ilegal, desproporcional ou indiscriminado, o que deve ser investigado como crime de guerra.

De acordo com as Convenções de Genebra, é proibido realizar ataques militares que causem perdas civis excessivas em relação ao ganho tático. O que é considerado aceitável pode variar, mas especialistas afirmam que só alvos com grande importância justificariam a morte de dezenas de civis.

— O uso de munições pesadas em locais civis cheios leva praticamente a consequências indiscriminadas, o que vai contra as Convenções de Genebra — explica Andrew Forde, professor de direito internacional na Universidade da Cidade de Dublin.

Israel dispõe de diversas munições e costuma usar armas menores para ataques pontuais em Gaza, no Líbano e recentemente no Irã. Em declaração no início do ano, as Forças Armadas israelenses disseram que, apesar das medidas sofisticadas para avaliar o impacto sobre civis, resultados perfeitos são quase impossíveis, e que a escolha das munições depende da natureza do alvo.

“Alguns alvos exigem cargas menores, enquanto outros precisam de armas mais pesadas para garantir a destruição de estruturas resistentes, grandes construções ou túneis”. Na terça-feira, um porta-voz do governo israelense afirmou que o Exército “nunca tem civis como alvo”.

— É difícil justificar o uso dessa munição — comentou Marc Schack, professor de direito internacional da Universidade de Copenhague. — Para forças na Afeganistão e Iraque, o número aceitável de mortes civis para alvos muito valiosos era abaixo de 30, e somente em circunstâncias excepcionais.

Israel intensificou seus bombardeios em Gaza nos últimos dias, impondo ordens de evacuação para milhares que viviam em abrigos improvisados no norte da região. Essas orientações indicam ataques futuros e instam os residentes a se deslocarem para o sul, em áreas costeiras superlotadas com infraestrutura escassa. Cerca de 80% do território está sob essas ordens ou controle israelense.

O conflito começou quando o Hamas atacou o sul de Israel em 7 de outubro de 2023, matando aproximadamente 1,2 mil pessoas, em sua maioria civis, e sequestrando cerca de 250. Desde então, a ofensiva israelense matou mais de 56,5 mil palestinos, principalmente civis, forçou quase toda a população a deixar suas casas e deixou grande parte de Gaza em escombros. (Com AFP)

Clique aqui para comentar

Você precisa estar logado para postar um comentário Login

Deixe um Comentário

Copyright © 2024 - Todos os Direitos Reservados