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Enchentes no Texas pegam população de surpresa e geram críticas

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Equipes de emergência continuam as buscas por desaparecidos nas áreas afetadas pelas enchentes no Texas, enquanto cresce o questionamento da sociedade americana sobre como as autoridades estaduais e federais permitiram que a população fosse surpreendida por um fenômeno climático previsto por agências meteorológicas.

Até o momento, 88 pessoas perderam a vida, conforme dados atualizados das autoridades, incluindo 27 crianças e monitores de um acampamento para meninas às margens do rio Guadalupe.

Durante uma coletiva de imprensa, jornalistas indagaram autoridades sobre os alertas emitidos — ou a ausência deles — para os moradores do Condado de Kerr, o mais atingido, onde cerca de 750 meninas estavam em férias escolares no acampamento.

O senador republicano Ted Cruz reconheceu que os sistemas atuais de alerta não foram adequados, mas evitou apontar responsabilidades imediatas.

— Na próxima enchente, espero que tenhamos métodos para afastar principalmente os mais vulneráveis do risco — declarou Ted Cruz. — Isso exigirá uma análise minuciosa do ocorrido.

O Condado de Kerr, com pouco mais de 50 mil habitantes, está situado em uma área conhecida como “beco das enchentes repentinas”. A bacia do rio Guadalupe é uma das regiões mais perigosas nos EUA quanto a esse tipo de enchente, caracterizada pela subida rápida das águas, sem aviso prévio. Apesar disso, os serviços meteorológicos já haviam identificado chuvas intensas para a região no dia anterior à tragédia.

O Serviço Nacional de Meteorologia dos EUA (NWS) emitiu diversos alertas antes da enchente desta sexta-feira. Já na quinta-feira, balões meteorológicos detectaram alta umidade sobre o centro do Texas, emitindo comunicados de inundação a partir do fim da tarde. O NWS inclusive enviou um aviso de emergência cerca de uma hora antes da água subir significativamente, mas esses avisos não foram suficientemente destacados para a população local.

Quando a enchente chegou ao Condado de Kerr, grande parte dos moradores foi alertada somente por mensagens de texto, que foram tardias para alguns e ignoradas ou não vistas por outros.

Em um abrigo da Cruz Vermelha na cidade de Hunt, uma das mais afetadas, a moradora Lesa Baird afirmou que não recebeu nenhum aviso antes da enchente.

— Ouvi algo, coloquei os pés no chão e senti a água. Peguei alguns gatinhos em uma caixa e acordei meu amigo, que teve que quebrar uma janela para sair — contou a idosa de 65 anos em entrevista ao jornal The Guardian, relatando que ficaram em cima de uma árvore até a água baixar.

Moradora de Kerrville, Nicole Wilson iniciou uma petição online para pressionar a instalação de um sistema de alerta sonoro, como sirenes usadas em áreas de risco de tornado, para avisar a população. Apesar da atenção da mídia local, iniciativas similares já foram discutidas no passado.

Em 2017, após outra enchente, autoridades de Kerr consideraram implantar um sistema de sirenes e medidores do rio, mas o projeto foi rejeitado por causa dos custos. Por anos, a população contou com um sistema informal: líderes de acampamentos a montante avisavam a jusante sobre riscos iminentes.

— Com o relevo das colinas, o sinal de celular é fraco em várias áreas do interior — disse Tom Moser, comissário de Kerr à época da discussão, aposentado em 2021. — Muitas regiões dos EUA provavelmente vão olhar o que aconteceu aqui e tentar aprender uma lição.

Mesmo quem recebeu algum alerta não compreendeu imediatamente a gravidade. Louis Kocurek, de 65 anos, morador de Center Point, cerca de 16 km de Kerrville, afirmou nunca ter recebido aviso oficial. Alertado pelo genro, ele checou o nível do riacho e decidiu não sair, mesmo com a água em rápida subida. Avisos de um serviço privado só chegaram quando já não dava para evacuar.

Autoridades locais foram cautelosas ao falar sobre o sistema de alerta. Dalton Rice, administrator de Kerrville, disse que haveria uma revisão focada na preparação para futuras emergências, mas evitou especulações, destacando a prioridade das operações de resgate.

Além das críticas sobre os alertas, também há questionamentos acerca dos cortes orçamentários federais que afetaram agências meteorológicas, prejudicando o serviço durante a tragédia.

Ex-funcionários destacaram que a perda de profissionais experientes, essenciais para a comunicação com autoridades locais após os avisos de enchentes repentinas, comprometeu a resposta adequada.

O escritório do NWS em San Angelo, responsável por áreas afetadas, estava sem hidrólogo e meteorologistas seniores, conforme Tom Fahy, diretor legislativo da Organização Nacional dos Funcionários do Serviço de Meteorologia. O escritório de San Antonio também apresentava vagas em aberto.

Na segunda-feira, o senador Chuck Schumer, principal democrata do Senado, solicitou investigação para verificar se os cortes e a escassez de pessoal no NWS influenciaram no elevado número de fatalidades no Texas.

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