Negociações avançam para cessar-fogo na Síria após confrontos violentos

Autoridades sírias e representantes drusos iniciaram diálogos na última segunda-feira (14) buscando o fim dos combates que resultaram na morte de cerca de cem pessoas no sul da Síria, conforme anunciou um dos grupos armados drusos mais influentes.

As tropas governamentais da Síria avançaram até Sweida, cidade predominantemente drusa, onde no domingo se deram violentos confrontos entre combatentes drusos e beduínos.

Esses conflitos intercomunitários demonstram os grandes desafios enfrentados pelo governo provisório liderado por Ahmad al Sharaa, que assumiu o poder após derrubar o regime de Bashar al Assad em dezembro, encerrando quase 14 anos de guerra civil.

Basem Fakhr, porta-voz do Movimento Homens de Dignidade, importante grupo armado druso, declarou à AFP: “Negociações estão em andamento entre as lideranças de Sweida e representantes do Ministério da Defesa e das Forças Gerias de Segurança para encontrar uma solução”.

Israel, que interveio na Síria recentemente para proteger os drusos, anunciou ataques contra tanques das forças governamentais na região, onde alguns combatem junto dos beduínos, informou o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).

O ministro da Defesa israelense, Israel Katz, afirmou que os ataques constituem um aviso claro ao regime sírio, enfatizando que não permitirão prejuízos à comunidade drusa na Síria.

O governo sírio reforçou suas tropas na área, tomando à tarde o controle do povoado druso de Al Mazraah, próximo a Sweida, segundo reportagem da AFP.

Ezzedin al Chamayer, comandante das forças, afirmou: “As tropas do Ministério da Defesa estão avançando para Sweida”.

O Ministério do Interior indicou que o Exército e as forças de segurança estão próximos ao centro desta localidade.

Líderes religiosos drusos pediram serenidade e o xeique Hikmat al Hejri, uma das figuras mais respeitadas, solicitou proteção internacional imediata para seu povo, recusando a entrada das forças governamentais em territórios controlados pelos drusos.

Sweida é a principal base da comunidade drusa na Síria, uma minoria ligada ao xiismo, com cerca de 700 mil membros também presentes no Líbano e em Israel.

Falta de instituições estaduais agrava o conflito

O ministro do Interior, Anas Khatab, postou na rede social X que a ausência de estruturas estatais, militares e de segurança é um dos motivos centrais das tensões que persistem em Sweida.

O OSDH atualizou o balanço oficial para 99 mortos e várias dezenas de feridos durante confrontos e bombardeios na cidade e arredores.

Entre as vítimas, 60 eram drusos, maioria combatentes, além de mulheres e crianças, além de 18 beduínos, 14 integrantes das forças de segurança e sete pessoas não identificadas. Anteriormente, contabilizava-se aproximadamente 89 mortos.

O Ministério da Defesa informou que 18 soldados das Forças Armadas morreram.

Rodovia bloqueada e medo na população

Abu Taym, de 51 anos, comentou à AFP: “Temos muito medo, as explosões caem sobre nós. As ruas estão desertas e as lojas fechadas”.

A estrada que liga Damasco a Sweida permaneceu fechada, conforme informado pelo correspondente da AFP.

O OSDH ressaltou que a região sofre tensões históricas, desde os conflitos entre combatentes drusos e forças de segurança nas áreas drusas próximas à capital e em Sweida em abril, que provocaram mais de 100 mortes.

Tribes beduínas sunitas da província apoiaram as forças de segurança nos incidentes.

Para evitar o agravamento da situação, líderes locais e religiosos acordaram esforços para promover maior integração dos combatentes drusos nas estruturas estatais.

A rivalidade entre drusos e beduínos é antiga e, ocasionalmente, surgem focos de violência entre esses grupos.

A convivência entre diversas minorias representa um dos maiores desafios para o novo governo sírio, especialmente após recentes atos violentos contra a comunidade alauita que causaram mais de 1.700 mortes em março.

As preocupações cresceram no final de abril, devido aos ataques fatais dirigidos à comunidade drusa.