PF aponta Júnior Mano como peça chave em esquema de desvio de emendas

A Polícia Federal identificou o deputado Júnior Mano (PSB-CE), foco principal da Operação Under, como um dos principais responsáveis por uma quadrilha que desviava recursos de emendas parlamentares para diversas cidades do sertão do Ceará.

Segundo as investigações, Júnior Mano utilizava as emendas para desviar dinheiro público e manipular processos eleitorais, enganando até mesmo deputados aliados, com negociações envolvendo emendas de terceiros.

Durante a operação, o deputado afirmou que mantém seu compromisso com a legalidade, transparência e o correto exercício de sua função pública.

O pedido de busca e apreensão autorizado pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, ressaltou que a atuação do parlamentar ultrapassava a política, atuando como um operador ativo no esquema criminoso.

O relatório da investigação revelou a íntima ligação de Júnior Mano com o prefeito Carlos Alberto de Queiroz, o Bebeto do Choró — que está foragido há sete meses e é considerado braço direito do deputado. A PF recuperou conversas via WhatsApp entre Bebeto e Adriano Almeida Bezerra, assessor especial de Júnior Mano.

As mensagens mostram que o grupo autorizava a destinação de emendas, inclusive de terceiros, para prefeituras aliadas, exigindo em troca um retorno financeiro de cerca de 12%, valor mencionado como “imposto” ou “pedágio” na organização criminosa, configurando uma prática institucionalizada de corrupção.

A Operação Under evidenciou que o grupo assumiu o controle em algumas cidades onde membros do Comando Vermelho, uma facção criminosa do Rio de Janeiro, espalharam terror antes das últimas eleições, agindo a mando do grupo de Bebeto do Choró, com ações de intimidação e ameaças a candidatos rivais.

Interceptações telefônicas mostraram que a organização liderada por Júnior Mano era informada em tempo real sobre a liberação de recursos e a expectativa dos ganhos financeiros ilícitos, demonstrando sua ciência e aprovação das irregularidades. As verbas do gabinete do deputado eram usadas para comprar apoio político, financiar campanhas de forma oculta e pagar influenciadores e jornalistas.

O documento destaca também o papel estratégico de Adriano Almeida Bezerra, intermediador político e técnico nas operações de liberação de recursos públicos.

Para a Procuradoria-Geral da República, as ações do grupo perturbam processos eleitorais, comprometem licitações e contratações públicas, desviam recursos e provocam danos funcionais e institucionais nas administrações municipais do Ceará.

Ao justificar a operação, a PGR apontou a complexidade e articulação da organização criminosa, que age de maneira descentralizada com diferentes agentes trabalhando de forma coordenada ou autônoma.

Posicionamento do deputado Júnior Mano

Júnior Mano esclareceu que não participa de processos licitatórios, ordenação de despesas ou fiscalização de contratos em prefeituras. Como parlamentar, não exerce funções executivas ou administrativas e reitera sua confiança nas instituições, especialmente no Poder Judiciário e na Polícia Federal.

Ele reafirma seu compromisso com a legalidade, transparência e o correto exercício da função pública, acreditando que ao final da investigação a verdade será confirmada e sua conduta reconhecida como correta.

Posicionamento sobre o prefeito Bebeto do Choró

Até o momento, não houve contato com Bebeto do Choró, que está foragido há mais de seis meses. O espaço permanece aberto para manifestação.