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Milei em pé de guerra contra a imprensa argentina

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Javier Milei, presidente da Argentina, tem intensificado sua hostilidade contra grande parte da imprensa do país desde o início de sua campanha eleitoral. Ele tem usado termos ofensivos como “merda”, “lixo humano”, “mandriões” e “prostitutas dos políticos” para se referir a jornalistas, tanto em discursos quanto em suas redes sociais, onde seus seguidores ecoam essas críticas.

Ao longo deste ano, Milei apresentou oito denúncias criminais contra jornalistas por “calúnia e injúria”, embora duas dessas queixas já tenham sido rejeitadas pela Justiça.

Uma análise do jornal La Nación registrou 410 ataques verbais à imprensa durante o primeiro ano da presidência de Milei, com mais de 60 profissionais mencionados nominalmente. O presidente justifica suas ações dizendo que é uma questão de “ação e reação”, acusando os jornalistas de serem sistematicamente mentirosos.

Nas redes sociais, Milei tem repetido o slogan “Não odiamos suficientemente os jornalistas”, resumido na sigla “NOLSALP”. Essa disputa é vista como um elemento central na estratégia de seu governo para controlar a narrativa e a batalha cultural no país, segundo o cientista político Gustavo Marangoni.

Para o jornalista Hugo Alconada Mon, do La Nación, os ataques visam principalmente aqueles que podem influenciar a opinião pública de forma a prejudicar Milei nas urnas. Shila Vilker, diretora da consultoria Trespuntozero, observa que esses ataques polarizam a sociedade, eliminando espaço para posições moderadas.

Hugo Alconada Mon relatou ter sido alvo de tentativas de invasão cibernética após divulgar um suposto plano de inteligência estatal para vigiar jornalistas e opositores, o qual foi confirmado pela presidência, mas negado em relação às suas intenções.

O tratamento agressivo de Milei contra a mídia tem se intensificado, principalmente após seu governo enfrentar controvérsias sobre a capacidade do Banco Central e os resultados econômicos até agora.

Para Shila Vilker, os insultos servem para impor a agenda midiática do presidente, desviando a atenção de temas que poderiam afetar negativamente o governo. Além disso, consolidam seu núcleo de seguidores, reforçando seu papel como principal representante da antipolítica, um tema que ele pretende explorar nas eleições legislativas de meio de mandato.

Em outubro, Milei tentará ampliar sua pequena base parlamentar, que contrasta com sua alta aprovação pessoal, atualmente em torno de 40%.

Dentre os jornalistas alvo das denúncias está Julia Mengolini, que em 2023 acusou Milei de um suposto relacionamento com sua irmã, a secretária-geral da presidência, Karina Milei. O presidente respondeu com múltiplos insultos e seus seguidores espalharam vídeos falsos gerados por inteligência artificial contra a jornalista.

Julia Mengolini denunciou Milei criminalmente por ameaças e intimidação, destacando o uso abusivo da inteligência artificial para violência estatal. O juiz responsável pelo caso determinou proteção policial para a jornalista e lhe concedeu um botão de pânico.

Segundo Shila Vilker, esses ataques têm caráter intimidatório, buscando doutrinar e alertar outros jornalistas e formadores de opinião sobre as consequências de críticas ao governo. Ela ressalta que embora todos possam se tornar alvos do presidente, a amplificação do assédio por meio de um exército digital intensifica ainda mais essa hostilidade.

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