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Irã acusa europeus de descumprir acordo nuclear de 2015 antes de negociações

O Irã responsabilizou as potências europeias nesta segunda-feira (21) pelo insucesso do pacto nuclear de 2015, a poucos dias das negociações previstas para sexta-feira em Istambul com França, Reino Unido e Alemanha.
Em 2015, Teerã firmou um acordo histórico com os Estados Unidos e as três potências europeias mencionadas, junto com China e Rússia, que impôs restrições significativas ao programa nuclear iraniano em troca do levantamento gradual das sanções da ONU.
No entanto, em 2018, durante a administração de Donald Trump (2017-2021), os Estados Unidos abandonaram unilateralmente esse acordo e restabeleceram sanções.
Paris, Londres e Berlim reiteraram seu compromisso com o pacto e mostraram disposição para negociar com o Irã. As sanções da ONU e da Europa não foram reimplantadas.
Entretanto, o plano desenvolvido pelos países europeus para compensar o retorno das sanções americanas enfrentou dificuldades para ser implementado, e muitas empresas ocidentais retiraram-se do Irã, que atravessa alta inflação e uma crise econômica.
Em declaração recente, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores iraniano intensificou as críticas contra as três potências europeias, apontando-as como responsáveis pelo insucesso do acordo de 2015.
Esmail Baqai afirmou que “as partes europeias foram responsáveis e negligentes na execução” do acordo nuclear.
Essa fala ocorre antes da reunião marcada para sexta-feira em Istambul entre o Irã e representantes de França, Reino Unido e Alemanha para tratar da questão nuclear. A reunião foi confirmada pelo Ministério das Relações Exteriores iraniano na segunda-feira.
Os três países europeus acusam Teerã de não cumprir seus compromissos nucleares e ameaçam reimplantar sanções, medida que o Irã tenta evitar a todo custo.
Enquanto se prepara para o encontro na Turquia, o Irã realizará uma “consulta trilateral” com Rússia e China em Teerã na terça-feira para discutir a questão nuclear e a ameaça de possíveis novas sanções, conforme declarou Baqai.
De acordo com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o Irã é o único país sem armamento nuclear que enriquece urânio a um nível elevado (60%), bem acima do limite de 3,67% estabelecido pelo acordo de 2015.
Para a construção de uma bomba, o enriquecimento deve alcançar 90%, conforme a AIEA.
Baqai qualificou o uso do mecanismo de sanções como “insensato, injustificável e imoral”, argumentando que o Irã abandonou o pacto em retaliação ao descumprimento dos países ocidentais.
Ocidente, liderado pelos Estados Unidos, e Israel, um adversário declarado da República Islâmica, suspeitam há anos que o Irã busca obter armas nucleares, o que Teerã nega, destacando seu direito de desenvolver programa nuclear apenas para fins civis.
Desde abril, Irã e Estados Unidos realizaram cinco rodadas de negociações nucleares, porém, após um ataque surpresa de Israel ao Irã em 13 de junho, desencadeando uma guerra de 12 dias, as conversações foram suspensas.
Os Estados Unidos apoiaram a ofensiva israelense, atacando instalações nucleares iranianas em Natanz, Fordo e Isfahan em 22 de junho.
Negociações previstas para 15 de junho entre representantes iranianos e americanos foram canceladas devido ao conflito. Baqai declarou nesta segunda-feira: “Neste momento, não temos intenção de conversar com os Estados Unidos”.
Uma fonte diplomática alemã indicou que Berlim, Paris e Londres seguem empenhados em buscar “uma solução diplomática duradoura e verificável para o programa nuclear iraniano” e planejam encontros ainda nesta semana.
Paralelamente, o presidente russo, Vladimir Putin, recebeu Ali Larijani, assessor do líder supremo iraniano Ali Khamenei, no Kremlin no domingo para debater a questão nuclear.
O porta-voz presidencial russo, Dmitri Peskov, informou que Larijani compartilhou avaliações sobre o agravamento da situação no Oriente Médio e sobre o programa nuclear iraniano.
Putin reiterou as “posições conhecidas da Rússia acerca da estabilização regional e de uma solução política para o programa nuclear iraniano”.

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