Economia
Dúvidas sobre acordo fazem juros médios e longos subirem

A poucos dias da implementação da tarifa de 50% dos EUA sobre produtos brasileiros, o mercado percebe poucas chances de um acordo com o governo americano para reverter essa medida, o que provocou uma leve alta nas taxas de juros intermediárias e longas nesta sexta-feira (25). As discussões comerciais dominaram o cenário, e o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15) de julho, divulgado no mesmo dia e ligeiramente acima do esperado, foi deixado em segundo plano. Já as taxas de juros de curto prazo permaneceram estáveis, sustentadas pela expectativa de manutenção da Selic em 15% até o fim do ano.
No fechamento do pregão, a taxa do Contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 variou levemente, passando de 14,939% para 14,930%. Para janeiro de 2027, a taxa mudou de 14,231% para 14,230%, e para 2028 subiu de 13,577% para 13,615%. O DI de janeiro de 2029 teve alta de 13,518% para 13,555%. Nas taxas mais longas, o DI de janeiro de 2031 aumentou para 13,82%, e o contrato para janeiro de 2033 fechou em 13,93%.
Otávio Oliveira da Silva, gerente de tesouraria do banco Daycoval, afirmou que o mercado está antecipando a possibilidade de não haver acordo sobre a tarifa imposta pelos EUA, o que justifica a leve piora das taxas de juros. “O primeiro de agosto está próximo e as negociações não avançaram muito”, disse. “Todos parecem esperar tarifas mais altas.”
Geraldo Alckmin, vice-presidente e ministro do Desenvolvimento da Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), lidera as negociações com Washington, mas até o momento elas não produziram resultados, já que não houve resposta dos EUA, segundo Silva. Além disso, as negociações estão cercadas de ruído, com membros da oposição buscando tratativas paralelas.
Diante de um cenário de grande incerteza, que oferece espaço para especulações, Otávio Silva avalia que pode haver pressão adicional nas taxas dos DIs nos próximos dias, à medida que investidores busquem proteção. “Ainda não está tudo decidido; existe até a possibilidade de prorrogação da tarifa e extensão das negociações”, ponderou.
Nesta sexta-feira, o presidente Lula declarou em Osasco (SP) que Alckmin liga diariamente para representantes do governo americano, mas não recebe retorno. Informações da imprensa indicam que a Casa Branca deve assinar uma ordem executiva que justificará legalmente a tarifa. Autoridades do governo Trump avaliam que o Executivo brasileiro não se envolveu efetivamente nas negociações nem fez ofertas atrativas.
Roberto Secemski, economista-chefe para o Brasil do Barclays, aponta que a comunicação diplomática entre os países está tensa, enquanto as preocupações econômicas aumentam. “As negociações estão paradas, dificultando prever um desfecho, que pode variar desde a extensão do prazo por 60 ou 90 dias até a imposição total das tarifas de 50% ou alguma forma intermediária, com exceções para certos produtos”, observou.

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