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Enviado de Trump chega a Israel enquanto Gaza enterra dezenas de mortos

O enviado especial dos Estados Unidos para o Oriente Médio, Steve Witkoff, chegou nesta quinta-feira (31) a Israel para discutir a guerra em Gaza, onde quase 22 meses de conflito e a grave escassez de alimentos aumentaram a pressão internacional.
Dezenas de mortos por tiros e bombardeios israelenses são relatados diariamente por fontes palestinas.
Na manhã desta quinta, várias dezenas de corpos, atingidos por balas e assassinados no dia anterior em torno de caminhões que transportavam ajuda, estavam acumulados no necrotério do hospital Al Shifa, segundo um correspondente da AFP.
A Defesa Civil de Gaza relatou 58 mortos.
O Exército israelense confirmou ter feito “tiros de advertência” enquanto moradores de Gaza se aglomeravam ao redor dos caminhões de ajuda, mas negou conhecimento de vítimas no incidente.
Jameel Ashour, que perdeu um parente no ataque a tiros, afirmou no necrotério superlotado que as tropas israelenses dispararam após uma multidão correr em direção ao comboio.
“Quando as pessoas viram que saqueadores roubavam e descartavam comida, a multidão faminta correu na esperança de conseguir algo”, disse.
Segundo a Defesa Civil, outras 38 pessoas foram mortas durante a noite em várias operações israelenses. O Exército israelense declarou estar investigando, mas destacou a dificuldade de confirmar os incidentes sem coordenadas precisas.
Encontro com Netanyahu
Logo após sua chegada, o enviado especial do presidente Donald Trump reuniu-se com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, conforme divulgado pelo serviço de imprensa do premiê, que publicou fotos do encontro.
Está previsto também que Witkoff visite um grupo humanitário apoiado pelos Estados Unidos que distribui alimentos em Gaza.
Trump publicou em suas redes sociais que a forma mais rápida de resolver a crise humanitária em Gaza é que o Hamas se renda e liberte os reféns.
No início da semana, ele expressou preocupação com a grave fome em Gaza, em aparente distanciamento do aliado Netanyahu.
Witkoff participou de negociações indiretas entre Israel e Hamas buscando um cessar-fogo, mas as conversas fracassaram quando Israel e os Estados Unidos retiraram suas delegações de Doha na semana passada.
Também nesta quinta, os Estados Unidos impuseram sanções contra responsáveis da Autoridade Palestina e da Organização para a Libertação da Palestina, acusando-os de tentar internacionalizar o conflito com Israel, anunciou o Departamento de Estado.
Manifestação dos familiares de reféns
Pouco antes da chegada do enviado americano, dezenas de mães e familiares de reféns retidos pelo Hamas protestaram em frente ao gabinete do primeiro-ministro.
Cartazes com a frase “Uma mãe nunca abandona” eram vistos. Pediam ao governo israelense um acordo abrangente para garantir a libertação dos 49 reféns ainda mantidos em Gaza, dos quais 27 foram declarados mortos pelo Exército.
Einav Zangauker, mãe de um dos reféns, emocionada, declarou: “Meu ventre sofre há 604 dias. Desde 7 de outubro, minhas lágrimas trazem dor e incerteza. Queremos o fim da guerra.”
Contexto do conflito
A guerra começou com um ataque sem precedentes do Hamas em Israel em 7 de outubro de 2023, que causou a morte de 1.219 israelenses, em sua maioria civis, segundo dados oficiais compilados pela AFP.
As represálias de Israel resultaram em pelo menos 60.239 mortes em Gaza, em sua maioria civis, conforme dados do Ministério da Saúde do Hamas, considerados confiáveis pela ONU.
Situação humanitária e pressão internacional
O governo israelense anunciou uma pausa limitada nos combates para permitir a entrega de ajuda ao território onde vivem cerca de 2,4 milhões de palestinos.
Porém, a ONU declarou que as condições para distribuição da ajuda ainda são insuficientes.
Frente à constante falha de Israel em evitar a catástrofe humanitária, o Canadá anunciou a intenção de reconhecer o Estado da Palestina, seguindo França e Reino Unido.
A pressão sobre Israel cresce diariamente, inclusive de seus tradicionais aliados.
O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, antes de partir para Tel Aviv, afirmou que Israel está cada vez mais isolado diplomaticamente em meio à crise humanitária grave em Gaza.
Por sua vez, Israel denunciou recentemente uma campanha internacional de pressão distorcida que favorece o Hamas e dificulta os esforços para alcançar um cessar-fogo em Gaza.

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