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Economia

Por que o BC dos EUA pode cortar juros mesmo com inflação alta?

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Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed), banco central americano, abriu a possibilidade de um corte na taxa de juros na próxima reunião em setembro. Essa sinalização gerou otimismo em Wall Street, redução do dólar no mercado global e valorização acima de 2% na Bolsa de São Paulo.

No discurso anual no simpósio de Jackson Hole, Powell destacou que a economia americana está com uma política monetária rigorosa e que mudanças nos riscos podem justificar ajustes nos juros.

Ele mencionou que, apesar dos efeitos das tarifas aplicadas durante o governo Donald Trump terem impacto na inflação, a principal preocupação do Fed está no aumento do desemprego. Analisando o mercado de trabalho, Powell afirmou que este está em um equilíbrio peculiar, resultante de uma desaceleração simultânea na oferta e na demanda por empregos.

O presidente alertou para a possibilidade de aumento rápido do desemprego, caso os riscos se concretizem, podendo levar a demissões em massa.

Sobre a inflação, Powell recomendou cautela em relação à ideia de que as tarifas causarão uma inflação duradoura. Ele reconheceu que há pressões inflacionárias visíveis, mas acredita que, até o momento, seus efeitos são temporários. No entanto, ele ressaltou que existe o risco de tais pressões desencadearem uma inflação mais persistente, e esse risco precisa ser monitorado e gerenciado.

A meta de inflação do Fed é de 2%, atualmente em 2,6% nos últimos 12 meses; o desemprego subiu para 4,2% em junho e a taxa básica de juros está entre 4,25% e 4,5%, o nível mais alto em mais de 20 anos.

Prevendo esse cenário, os mercados começaram a precificar quase que com certeza um corte de 0,25 ponto percentual em setembro, potencialmente o primeiro desde dezembro de 2024. Porém, após a divulgação dos dados de inflação no atacado, maiores nos últimos três anos, alguns dirigentes do Fed alertaram que o corte não é garantido, devido à ameaça de uma possível estagflação, com inflação elevada e crescimento econômico estagnado.

Powell enfatizou o desafio da missão do Fed de equilibrar controle de inflação e manutenção do emprego pleno, destacando a pressão inédita enfrentada, inclusive com interferências políticas.

Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central brasileiro, observa que o Fed inicialmente considerou temporário o impacto das tarifas, mas alterações recentes no mercado de trabalho fizeram Powell ajustar sua avaliação, adotando uma postura mais cautelosa.

Para Ellen Zentner, do Morgan Stanley, o enfraquecimento do mercado de trabalho superou o risco inflacionário para o Fed, refletido na reação positiva dos mercados.

Impacto nos mercados

O índice Dow Jones em Nova York subiu 1,89%, alcançando um recorde no ano, e o S&P 500 avançou 1,52%. No Brasil, o índice Bovespa cresceu 2,57%, a maior alta desde abril.

A expectativa de redução dos juros nos EUA provocou queda do dólar nos principais mercados, inclusive no Brasil, onde a moeda americana recuou 0,95%, e os juros futuros também diminuíram.

Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad, explica que a indicação de que a política monetária está restritiva e pode ser ajustada para reduzir juros torna a renda fixa de curto prazo menos atrativa nos EUA, incentivando a migração para ativos mais arriscados, causando efeitos positivos no real. Além disso, o diferencial de juros elevado favorece a valorização da moeda brasileira.

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