Economia
Nova etapa do Minha Casa Minha Vida ainda engatinha

A promessa do governo Lula de apoiar a classe média na compra da casa própria, por meio da faixa 4 do programa Minha Casa Minha Vida (MCMV), lançada em maio, ainda não decolou, segundo dados do setor obtidos em primeira mão pelo Estadão/Broadcast.
O governo e as construtoras esperam que esse novo segmento ganhe força nos próximos meses, enquanto discutem possíveis ajustes para acelerar os negócios.
A faixa 4 começou a valer em maio. Desde então, a Caixa Econômica Federal firmou 7 mil contratos, o que representa apenas 5,8% da meta de 120 mil moradias estabelecida pelo governo. O banco tem mais 15 mil contratos em negociação.
Além disso, houve mais de 1 milhão de simulações, mostrando um interesse significativo do público, destacou o Roberto Ceratto, diretor de crédito imobiliário da Caixa. “O número de simulações é um bom sinal”, afirmou em entrevista à Broadcast.
Essa faixa é destinada a famílias com renda mensal de até R$ 12 mil, para aquisição de moradias de até R$ 500 mil. A principal vantagem é o financiamento em até 420 meses com juros subsidiados a 10% ao ano, inferior à média de 13% ao ano fora do programa. Essa taxa menor ajuda a tornar as parcelas mais acessíveis, buscando recuperar o poder de compra.
Roberto Ceratto ressaltou que o público atendido antes não tinha opções no mercado devido aos juros altos, e leva tempo para que as construtoras adaptem seus projetos para esse segmento. Ele acredita ser cedo para ajustar a faixa 4, que deverá crescer nos próximos meses, e que o importante é manter segurança e continuidade ao programa.
Por sua vez, Clausens Duarte, vice-presidente de Habitação de Interesse Social da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), avaliou que o ritmo do programa está abaixo do esperado, já que o governo planejava 120 mil moradias até o fim do próximo ano, cerca de 10 mil por mês.
Um dos motivos é a escassez de imóveis novos adequados para essa faixa. Segundo Clausens Duarte, o setor recebeu a novidade positivamente, mas não estava preparado, com oferta reduzida para esse público.
Os lançamentos e vendas devem aumentar nos próximos 12 meses, sendo que as contratações neste momento se concentram em imóveis usados e em apartamentos novos de empreendimentos já existentes.
O financiamento para construtoras na faixa 4 já começou, porém com recursos próprios, sem juros subsidiados, o que reduz o atrativo para os empresários. O governo estuda viabilizar uma fonte de recursos com custo menor para estimular a produção para essa faixa, o que pode agilizar os lançamentos, segundo Clausens Duarte.
O orçamento total da faixa 4 é de R$ 30 bilhões, metade proveniente do fundo social do pré-sal e metade da tesouraria da Caixa. Daniel Sigelmann, diretor do Departamento de Planejamento e Política Nacional de Habitação do Ministério das Cidades, afirmou que é natural o programa começar mais devagar e depois acelerar, mantendo os parâmetros atuais.
Visão das construtoras
Ricardo Ribeiro, presidente da Direcional, comentou que o governo deve monitorar atentamente o consumo dos recursos da faixa 4 e, caso esteja lento, pode haver ajustes para aumentar o poder de compra.
Ricardo Paixão, diretor financeiro e de relações com investidores da MRV&CO, disse que o ritmo atual é normal, pois público e equipes de venda ainda estão em adaptação. A empresa está comercializando unidades de empreendimentos já lançados que estavam acima da faixa 3, até R$ 350 mil.

Você precisa estar logado para postar um comentário Login