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Esquema do PCC controlava 40 fundos e movimentou bilhões na Faria Lima

A Receita Federal calcula que o grupo criminoso investigado em uma grande operação realizada na quinta-feira (28/8) movimentou aproximadamente R$ 52 bilhões em postos de combustíveis entre 2020 e 2024. A investigação revelou a ligação do esquema com a Faria Lima, principal centro financeiro do Brasil. Pelo menos 40 fundos de investimento foram utilizados para transações financeiras do grupo, que é associado ao Primeiro Comando da Capital (PCC).
Os auditores da Receita Federal detectaram irregularidades em mais de mil postos de combustíveis distribuídos em 10 estados: São Paulo, Bahia, Goiás, Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Maranhão, Piauí, Rio de Janeiro e Tocantins. A maioria desses estabelecimentos recebia dinheiro em espécie ou por meio de maquininhas de cartão e encaminhava os valores ilícitos para a organização criminosa através de suas contas bancárias num esquema de lavagem de dinheiro.
A Receita ressalta que os fundos de investimentos — tanto multimercado quanto imobiliários —, controlados pela organização criminosa, tinham um patrimônio total estimado em R$ 30 bilhões. Esses recursos eram inseridos no sistema financeiro por meio de fintechs, empresas que oferecem serviços financeiros digitais. Uma dessas fintechs funcionava como um “banco paralelo” para o grupo, movimentando mais de R$ 46 bilhões entre 2020 e 2024. As mesmas pessoas dirigiam outras instituições menores, criando camadas adicionais de ocultação.
Entre 2022 e 2023, a fintech recebeu mais de 10,9 mil depósitos em dinheiro vivo, que somaram mais de R$ 61 milhões — um procedimento fora do padrão para uma instituição que trabalha apenas com dinheiro escritural, conforme aponta a Receita.
O dinheiro obtido ilegalmente era reinvestido em negócios, imóveis e outros ativos por meio dos fundos de investimento que recebiam recursos das fintechs, dificultando o rastreamento e conferindo uma falsa aparência de legalidade. Muitos desses fundos eram fechados com apenas um cotista, geralmente outro fundo, criando múltiplas camadas de ocultação.
Entre os bens adquiridos pelos fundos estão um terminal portuário, várias usinas produtoras de álcool, cerca de 1.600 caminhões para transporte de combustíveis e mais de 100 imóveis, incluindo seis fazendas avaliadas em R$ 31 milhões no interior de São Paulo e uma residência em Trancoso, Bahia, adquirida por R$ 13 milhões.
Há evidências de que as administradoras desses fundos estavam cientes do esquema e colaboraram para manter as movimentações e dos cotistas fora do alcance da fiscalização da Receita Federal.
Operação contra o crime organizado
Uma megaoperação da polícia cumpre mandados de prisão, busca e apreensão em oito estados nesta quinta-feira (28/8). É considerada a maior ação da história do país contra organizações criminosas. O objetivo é desmontar um esquema fraudulento e de lavagem de dinheiro no setor de combustíveis.
Estão na mira da investigação diversos elos da cadeia do setor, desde a importação, produção, distribuição e venda ao consumidor final até as etapas finais de ocultação patrimonial, que envolvem as fintechs e fundos de investimento.
Foram expedidos mandados para cerca de 350 alvos, entre pessoas físicas e jurídicas, que atuam nos estados de São Paulo, Espírito Santo, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Rio de Janeiro e Santa Catarina. A Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) promoveu ações judiciais para bloquear mais de R$ 1 bilhão em bens dos envolvidos, incluindo imóveis e veículos, com o objetivo de garantir créditos tributários.

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