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China propõe nova ordem global junto com Rússia e Índia

Xi Jinping, presidente da China, apresentou nesta segunda-feira (1) a Iniciativa de Governança Global (IGG), vista como um possível início para uma nova ordem mundial. A proposta foi feita durante um encontro que reuniu 20 líderes de países fora do Ocidente, incluindo o russo Vladimir Putin e o indiano Narendra Modi.
No discurso da reunião, Xi Jinping ressaltou que a governança mundial enfrenta ameaças como a “mentalidade da Guerra Fria, hegemonismo e protecionismo”, que ainda impactam o planeta 80 anos após o fim da Segunda Guerra Mundial e a fundação das Nações Unidas (ONU).
Xi Jinping afirmou: “O mundo atravessa um período de grandes mudanças e desafios. A governança global está em uma encruzilhada. A história ensina que, em momentos difíceis, devemos manter o compromisso com a convivência pacífica, fortificar nossa confiança em cooperação que beneficie a todos”.
A ideia foi divulgada na Organização para Cooperação de Xangai Plus (OCX), criada em 2001, que conta com 10 membros, dois observadores e 15 parceiros. O encontro na China acontece em meio à guerra comercial promovida pelos Estados Unidos contra países adversários e aliados, como a Índia, que foi taxada em 50% pelo governo Trump. Os EUA pedem que a Índia cesse a compra de petróleo russo, algo que Nova Délhi rejeita.
Durante a reunião, o primeiro-ministro indiano Narendra Modi foi visto sorridente e de mãos dadas com seus colegas russo e chinês, marcando sua primeira visita à China em sete anos. As relações entre as potências asiáticas são marcadas por tensões regionais e disputas territoriais.
A 24ª cúpula da OCX, realizada em Tianjin, uma cidade costeira no norte da China, ocorre às vésperas da comemoração do 80º aniversário da vitória chinesa na resistência contra a agressão japonesa e na guerra antifascista mundial, coincidindo com as celebrações do fim da Segunda Guerra Mundial na perspectiva chinesa. A diplomacia chinesa espera a presença de 50 líderes globais no desfile militar na próxima quarta-feira (3).
Xi Jinping propôs a nova governança global com base em cinco pilares: soberania igualitária dos estados, respeito ao direito internacional, prática do multilateralismo, enfoque nas pessoas e adoção de medidas concretas.
Segundo Xi Jinping, “é fundamental garantir que todos os países, independentemente do tamanho, força ou riqueza, participem e tenham voz igual na governança global. É necessário promover mais democracia nas relações internacionais e aumentar a representação dos países em desenvolvimento”.
A proposta é entendida por especialistas como uma reação às tarifas impostas pelo governo Trump. Xi Jinping também criticou o unilateralismo crescente nas relações internacionais durante o governo americano, ressaltando: “Devemos defender uma governança global participativa e colaborativa, reforçando a solidariedade e a coordenação, e rejeitando ações unilaterais.”
Enfatizando o papel da OCX, Xi Jinping afirmou que as nações devem continuar a derrubar barreiras, buscando integração em vez de divisões. Ele destacou o avanço da cooperação de alta qualidade no Cinturão e Rota da Seda, iniciativa chinesa para fomentar o comércio global de forma inclusiva.
Xi Jinping anunciou ainda um apoio financeiro de US$ 280 milhões para os membros da OCX e crédito adicional de 10 bilhões de yuans para bancos associados ao grupo. A organização promove cooperação em áreas como inteligência artificial, combate ao narcotráfico e energia sustentável.
Vladimir Putin, presidente da Rússia, afirmou que vários países estão interessados em aderir à OCX, demonstrando o apelo da organização para o diálogo aberto e honesto. Ele declarou apoio à proposta chinesa e acredita que a OCX pode liderar esforços para uma governança global mais justa.
Narendra Modi, líder da Índia, agradeceu a China pela organização do evento e destacou em rede social a “excelente” reunião com Vladimir Putin. Eles discutiram formas de ampliar a cooperação bilateral em comércio, fertilizantes, espaço, segurança e cultura, além de dialogar sobre a solução pacífica do conflito na Ucrânia. Modi afirmou que a parceria estratégica entre a Índia e a Rússia é fundamental para a estabilidade regional e global.
As relações entre China e Índia, marcadas por disputas territoriais e regionais, têm apresentado melhorias. O encontro entre Narendra Modi e Xi Jinping foi visto pelas autoridades chinesas como a continuidade do processo iniciado na cúpula dos BRICS em 2024, realizada em Kazan, Rússia.
Segundo o Ministério das Relações Exteriores de Pequim, “o relacionamento entre os dois países segue um caminho positivo. A paz e estabilidade nas fronteiras são mantidas e os voos diretos estão prestes a retornar. Esse avanço beneficiará não apenas Índia e China, mas também o mundo todo. Índia e China são parceiras, não rivais. O consenso supera largamente as diferenças”.

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