Conflito em Sinaloa: um ano de violência entre traficantes e ameaça dos EUA

Após um ano de intenso conflito entre grupos criminosos em Sinaloa, a situação é alarmante com milhares de mortos e desaparecidos. A economia local entrou em colapso, e uma nova preocupação surge com a possibilidade de intervenção militar dos Estados Unidos contra os cartéis.

O conflito emergiu entre facções rivais do Cartel de Sinaloa após a detenção do líder histórico, Ismael “El Mayo” Zambada, de 75 anos. Ele foi capturado em julho de 2024 por um filho de seu antigo parceiro, Joaquín “Chapo” Guzmán, e levado aos Estados Unidos numa operação aérea.

A violência diária, com tiroteios constantes, bloqueios de ruas e o fechamento de comércios, transformou a rotina em Culiacán, tida como a cidade mais perigosa do México. As escolas foram temporariamente fechadas e a vida noturna desapareceu completamente.

O envio de tropas e o aumento das apreensões de armas e entorpecentes não conseguiram conter a violência. O governo da presidente Claudia Sheinbaum admite que o cartel ainda não foi desfeito, e não há clareza sobre qual facção está ganhando a disputa.

Moradores relatam mudanças drásticas em seu cotidiano devido ao clima de insegurança. Segundo Karely Contreras, moradora local, antes as celebrações familiares eram comuns na comunidade, mas atualmente, eventos se tornaram restritos e privados para evitar riscos.

As tropas fiéis a Zambada precisaram de três meses para se reorganizar e firmar alianças antes de iniciar o confronto. Desde então, o estado, conhecido por sua agricultura e pesca, registra cerca de 1.700 homicídios, incluindo 57 menores, e quase 2.000 desaparecidos.

Rafael Sánchez compartilha o drama pessoal de ter perdido o irmão Juan Carlos, empresário local, vítima do fogo cruzado em um dos confrontos recentes.

O motivo da rivalidade remete a vingança após a prisão de Zambada, com seu filho Vicente acusando Chapo durante o julgamento que o levou à prisão perpétua em 2019. Os criminosos frequentemente usam delações para barganhar suas liberdades. Dois filhos de Guzmán, chamados de “Chapitos”, enfrentam processos judiciais nos EUA, enquanto Zambada assumiu a culpa por subornos a autoridades militares, policiais e políticas.

Recentemente, milhares de pessoas vestidas de branco marcharam por Culiacán clamando por paz e lembrando os desaparecidos.

O temor cresce com o ataque recente de um míssil americano contra uma embarcação suspeita de transportar drogas no Caribe, com 11 mortos segundo o presidente Donald Trump. Moradores temem que essa ofensiva se intensifique em solo mexicano.

Mariana Urías, funcionária local, expressou o receio de que seus filhos testemunhem uma guerra real, com bombas e mísseis, refletindo o medo de uma escalada militar.

Trump ampliou a ofensiva contra o tráfico de fentanil, relacionado a milhares de mortes nos EUA, designando vários cartéis como organizações terroristas e propondo o envio de tropas, oferta recusada pela presidente Sheinbaum. A ação inclui a presença de navios de guerra próximos ao Caribe venezuelano, Golfo do México e costa oeste do México.

Apesar da retórica agressiva, Trump mantém relações diplomáticas com Sheinbaum, assinando acordos para respeitar a soberania mexicana, e diferencia sua política entre México e Venezuela, oferecendo recompensas pela captura de líderes narcotraficantes venezuelanos.

Em localidades como Badiraguato, terra natal de Chapo, já há relatos de agentes americanos operando para monitorar movimentos criminosos.

Especialistas alertam que a captura unilateral de Zambada desencadeou a violência atual e reforçam a importância da cooperação internacional para evitar consequências ainda mais graves.

Estudos indicam que, mesmo com maior repressão, os preços do fentanil permaneceram estáveis, enquanto a violência continua destruindo empregos e silenciando tradições culturais, como a música popular de banda que animava as festividades locais.