Fed pode cortar juros na próxima quarta; saiba os efeitos no mercado

O mercado financeiro global está atento à decisão que o Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, tomará nesta semana. Na quarta-feira, é esperado que o Fed anuncie um corte na taxa básica de juros, marcando o primeiro recuo desde seis encontros anteriores e o primeiro de 2025.

A instituição, sob a pressão do presidente Donald Trump, que defende juros menores para estimular a economia e reduzir o valor do dólar, deverá seguir critérios técnicos para sua decisão, conforme indicam especialistas.

O presidente do Fed, Jerome Powell, já havia sinalizado essa possibilidade no simpósio de Jackson Hole, mencionando sua preocupação com o enfraquecimento do mercado de trabalho.

Diferente do sistema brasileiro, onde o Banco Central foca exclusivamente no controle da inflação, nos EUA o Fed tem a missão dupla de controlar a inflação em torno de 2% e assegurar o pleno emprego, buscando um equilíbrio entre esses dois objetivos.

Segundo a economista Andressa Durão, da financeira Asa, o Fed avalia os riscos tanto de a inflação ficar acima ou abaixo da meta quanto de o nível de emprego estar acima ou abaixo do esperado a longo prazo.

Desde sua campanha, Trump defende juros mais baixos visando a reindustrialização do país e um dólar menos valorizado para aumentar a competitividade da indústria americana. Contudo, a política tarifária adotada eleva custos internamente, o que pode gerar inflação e levar ao aumento das taxas de juros e valorização do dólar, dificultando esses objetivos, segundo o gestor multimercados Eduardo Grübler, da AMW.

O mercado espera com grande atenção o comunicado após a decisão do Fed. Analistas do Citi, liderados por Andrew Hollenhorts, acreditam que Powell poderá indicar novos cortes, destacando os riscos de piora do emprego, o que poderia provocar demissões em massa e aumento do desemprego.

Após revisões recentes, os dados do mercado de trabalho americano mostram desaceleração no crescimento das vagas, reforçando a possibilidade de ação rápida do Fed para evitar uma desaceleração abrupta.

Entretanto, a decisão ocorre no contexto de tensões políticas, pois Trump tem criticado publicamente Powell e busca retirar do Fed a diretora Lisa Cook, alvo de investigações, além de indicar substituições como Stephen Miran, que votará nas próximas decisões.

Para a economista Alessandra Durão, prevalecerá nos membros do Fed a defesa da independência da instituição e a imparcialidade política do presidente Powell.

A taxa de juros nos EUA é referência global, influenciando o valor do dólar e os investimentos mundo afora. Juros elevados atraem capital para o país, valorizando o dólar; quando a taxa cai, investidores buscam ativos de maior risco e mercados emergentes, como o brasileiro, onde a taxa básica é elevada, tornando esses países atrativos para operações de carry trade.

Esse fluxo de recursos contribui para a desvalorização das moedas locais frente ao dólar, influenciando o câmbio e os mercados financeiros globalmente.